A Qualquer Custo, Vingança e Castigo e A Melhor Oferta, três filmes que tratam de crimes e dívidas, faroeste black e mistérios no mundo das artes
Filme: A Qualquer Custo, 2016
Direção: David Mackenzie
Elenco: Jeff Bridges, Chris Pine, Ben Foster
Onde assistir: Netflix
Enredo: Toby (Chris Pine) e seu irmão, Tanner (Ben Foster), um ex-presidiário, recorrem a assaltos a bancos quando não podem arcar com o pagamento da hipoteca do rancho da família. Desesperados para salvar a propriedade, os dois irmãos realizam saques consecutivos em filiais do mesmo banco em que devem a hipoteca, indo de uma cidade a outra do Texas. No entanto, eles não previam que seriam caçados por um delegado absolutamente obstinado, Marcus (Jeff Bridges), um agente da lei veterano da melhor tradição dos rangers que está prestes a se aposentar.
Comentário: O filme “A Qualquer Custo” tem um profundo tom de desesperança que reflete a situação de todos os personagens: uns desesperados por dinheiro, que é o caso dos irmãos infratores; outro em fim de carreira, o caso do delegado veterano; e outro muito sofrido pelo racismo étnico americano, o caso do policial assistente. O filme foi rodado num cenário árido, o tornando melancólico, e se situa em pequenas cidades pacatas e empoeiradas do interior do Texas num contexto dos efeitos da crise econômica americana de 2008.
Os irmãos Toby e Tanner sabem que o rancho da família possui petróleo, precisam de recursos para pagar a hipotecar e manter máquinas de prospecção. Enquanto isso, o delegado Marcus está, ao mesmo tempo, resignado com um futuro medíocre e determinado a manter sua convicção de cumpridor da lei até o fim. O filme acaba por se transformar num faroeste moderno, apresentando personagens bem definidos e bem interpretados, além de tratar de questões atemporais como sobrevivência e dignidade de vida.
Recheado de imagens de abandono, solidão, falta de perspectiva, um tédio de lugares interioranos, uma passividade que só é quebrada pelos assaltos dos irmãos desesperados que, aliás, possuem um relacionamento fraternal numa dinâmica de “ladrão bom e ladrão mau”. Um ponto forte do filme é a sinceridade de todos os personagens, seja nervosamente praticando crimes, seja revelando intimidades e preocupações de vida.
Filme: Vingança e Castigo, 2021
Direção: Jeymes Samuel
Elenco: Idris Elba, Jonathan Majors, Regina King, Zazie Beetz
Onde assistir: Netflix
Enredo: No filme “Vingança e Castigo”, acompanhamos dois fios narrativos. De um lado, Nat Love (Jonathan Majors) é um conhecido pistoleiro do velho oeste dos Estados Unidos que rouba ladrões de bancos. Do outro lado, surge o grupo de criminosos liderados por Rufus Buck (Idris Elba) e seus principais aliados, Trudy (Regina King) e Cherokee Bill (LaKeith Stanfield). Nat Love teve a vida marcada pelo assassinato dos pais quando era garoto pelo próprio Rufus. Quando ele descobre que seu inimigo está sendo libertado da prisão, ele reúne sua gangue: a dona de bar Stagecoach Mary (Zazie Beetz), o sempre aliado Bill (Edi Gathegi) e o rápido no gatilho, Jim (RJ Cyler,) em busca de vingança.
Comentário: Como o tema da vingança já foi muito explorado pelos filmes de faroeste, “Vingança e Castigo” poderia ser apenas mais um daqueles que se repetem em clichês. Mas não. O filme é surpreendente em vários sentidos. Primeiro, ele é majoritariamente protagonizado por negros e não existe nenhum herói, apenas foras-da-lei que tentam sobreviver.
Segundo, o filme tem um ritmo de histórias em quadrinho em ambientes típicos dos clássicos do faroeste. Terceiro, ele é lindamente fotografado, com um forte colorido digno de um conto de fada sangrento. E quarto, os personagens são absolutamente personalíssimos, únicos, cada qual com seu jeito peculiar de ser e de enfrentar a vida. É um ótimo drama black, alternativo, de personagens apagados ou esquecidos das histórias do velho oeste.
Outros pontos fortes do filme são: o personagem Rufus que, apesar de sua fama de vilão terrível, não realiza nenhum ato de terror em cena, desmistificando o bandido sanguinário e compondo um bandido psicológico; a personagem da pistoleira Trudy é surreal, com aura de crueldade e de psicologia comportamental; a dona de bar Stagecoach Mary, tão formosa e caricatural quanto destemida; o rápido no gatilho Jim, com suas provocações e desafios humorísticos; e o malvado Cherokee Bill, que mais aparenta ser um pensador irônico do velho oeste.
Além de tudo isso, “Vingança e Castigo” sabe utilizar a violência de maneira a apresentar um espetáculo teatral, mais artístico que os filmes violentos de Quentin Tarantino. Há algumas situações que ponhem à prova a verdade dos fatos, mas que podem ser relevadas em nome do puro entretenimento. O filme ainda tem um figurino e cenários incríveis. E os poucos momentos em que aparecem gente totalmente branca é dentro de uma cidade literalmente de cor branca.
Filme: A Melhor Oferta, 2013
Direção: Giuseppe Tornatore
Elenco: Geoffrey Rush, Sylvia Hoeks, Donald Sutherland, Jim Sturgess
Onde assistir: Prime Video
Enredo: O filme “A melhor Oferta” (ou “O Melhor Lance”) navega pelo mundo dos leilões de arte e antiguidades de alta qualidade, onde Virgil Oldman (Jeffrey Rush) é um famoso e apreciado leiloeiro, especialista em arte, mas espertalhão quando se trata de ganhar dinheiro no seu ofício com um amigo comparsa, Billy (Donald Sutherland).
De repente, ele é contratado por uma jovem herdeira, Claire Ibbetson (Sylvia Hoecks), para leiloar a grande coleção de obras de arte deixada por seus pais. Mas, por alguma razão, Claire é reclusa, enigmática, entre quatro paredes, e sempre se recusa a ser vista pessoalmente. Robert (Jim Sturgess), um perito em objetos de valor, ajuda Virgil a ganhar a confiança de Claire e lidar com os sentimentos que tem em relação a ela, que redundarão numa paixão.
Comentário: O filme “A Melhor Oferta” é um mistério do início ao fim, muito bem arquitetado, e nos carrega pelo cabresto num clima de suspense sem que possamos desconfiar de nada. Acompanha o bem sucedido leiloeiro Virgil, idoso, arrogante, requintado e próspero, mas pouco sociável e com um faro fraudulento para ganhar dinheiro com preços de obras de arte subfaturadas.
À medida em que o filme foca na relação entre Virgil e a misteriosa Claire dentro de um casarão antigo e meio claustrofóbico, o espectador se torna o próprio personagem principal que vai sendo preso na teia do enigma. Virgil nunca demonstrou nenhum interesse por mulheres, a não ser o seu contentamento em observá-las através de sua coleção de quadros de rostos femininos.
Já Claire, descobrimos que sofre de agorafobia (medo de lugares abertos e multidões). O notoriamente “assexuado” Virgil vai sendo tragado por uma paixão inesperada pela indecifrável Claire. Lentamente, e o filme é um tanto longo e um pouco arrastado, e após muita tensão emocional, a paixão improvável se estabelece. Feliz, Virgil parece ter redescoberto a vida.
Mas é então que, no calor de um amor conquistado, o filme nos surpreende com um final inesperado em que é revelado as reais intenções da jovem solitária. Seria um golpe? Um ponto forte do filme, além das ótimas atuações, é a ambientação cenográfica. Para quem gosta de obras de arte ou pretende entender mais do assunto, é um deleite ver as paredes recheadas de quadros pintados por grandes artistas.
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