Movimentos Cinematográficos
O Cinema Expressionista: Luz e sombras numa realidade sufocante

O Cinema Expressionista: Luz e sombras numa realidade sufocante

Aparecimento e Influências

Nos anos 10 e 20 do século XX desenvolveu-se na Alemanha o cinema expressionista. Era um cinema que se baseava nas experiências artísticas de pintores do final do século XIX, tais como Edvard Munch, Franz Marc e Ernst Kirchner.

O movimento expressionista na pintura se caracterizava pela utilização intensa de cores na representação dos sentimentos (amor, ódio, medo, raiva), questionamento dos padrões “normais” de beleza até então vigentes; uso de formas abstratas e deformação da natureza e dos objetos para expressar sentimentos.

O pintor mais famoso foi o norueguês Edvard Munch. As obras de Munch retratavam os aspectos mais angustiantes da experiência humana e isso o torna um precursor do expressionismo alemão. Sua obra mais icônica é “O Grito” de 1893.  

“O Grito” de Edvard Munch

Características do expressionismo

O expressionismo estava contextualizado em um país atormentado por dramas sociais, guerra e com um futuro desolador.  Se baseando, portanto, num ambiente de desesperança que assolava a Alemanha, esse movimento cinematográfico procurava ressaltar o lado sombrio das pessoas e da realidade, criando fantasia, medo, dor e loucura.

A cinematografia do expressionismo traz muitos elementos do teatro, dramaticidade intensa na atuação, uso marcado de maquiagem e expressões faciais intensas e angustiantes.

Suas principais características são a utilização de técnicas de claro e escuro, jogos de luz e sombras, ambientes retorcidos e fechados, cenários góticos e personagens sombrios e assustadores. A representação dos conflitos íntimos e emocionais eram a tônica das histórias dentro de uma atmosfera em que se misturavam sonhos e pesadelos.

Uma imagem de um filme expressionista

Como um dos enfoques principais do movimento é a valorização da subjetividade (se voltando para o interior e o isolamento do indivíduo), o expressionismo  alemão também conversa com a psicanálise de Freud que dava seus primeiros passos na primeira década do século XX.

Além da sua narrativa intimista e dramática e o seu sufocamento da realidade, o cinema expressionista foi precursor dos filmes de terror, suspense e inspirador do gênero “noir” no cinema, que foi muito explorado nas décadas de 30 e 40 em Hollywood. Sua influência cinematográfica ecoa até hoje nas produções atuais.

Filmes importantes do expressionismo e seus Diretores

Os principais expoentes do expressionismo foram os cineastas alemães Robert Weine com seu filme “O Gabinete do Dr.Caligari” (1920), Paul Wegener com “O Golem” (1920), Friedrich Murnau com seu filme “Nosferatu” (1922) e Fritz Lang com “Dr. Mabuse: O Jogador” (1922). Murnau e Lang foram os mais representativos desse cinema, ficaram muito famosos e realizaram vários filmes clássicos, inclusive em Hollywood onde se tornaram grandes influenciadores.

O Gabinete do Dr. Galigari, 1920

Diretor: Robert Wiene

Sinopse: Num pequeno vilarejo da Alemanha, preparativos são feitos para a grande feira anual. Há toda sorte de atrações, especialmente um sonâmbulo do Dr.Galigari que prevê o futuro. Quando surgem assassinatos na cidadezinha a dupla fica sob suspeita. Esse filme é um marco do expressionismo alemão que, como na pintura, se espalhou pelo cinema.

Cenas de “O Gabinete do Dr. Galigari”, 1920

O Diretor Robert Wiene

O Golem, 1920

Direção: Paul Wegener

Sinopse: Em Praga, na República Tcheca, no século XVI, um rabino cria uma gigante criatura feita de argila conhecida como o Golem. Trazendo a criatura a vida através de feitiçaria, ele tem esperança de que o Golem proteja os judeus da cidade que estão sendo perseguidos. Mas logo, devido a um fenômeno astrológico, o Golem é influenciado pelo demônio Astaroth, voltando-se contra os seus criadores

O Diretor Paul Wegener

Cenas de “O Golem”, 1920

Nosferatu, 1922

Direção: Friedrich Murnau

Sinopse: O filme é uma adaptação do romance Drácula, de Bram Stoker. O longa narra a história do Conde Orlok, um vampiro dos Montes Cárpatos que se apaixona perdidamente por Ellen e traz o terror à cidade dela, Wisborg.  Nosferatu é considerado um dos primeiros representantes do gênero de terror no cinema, além de sua concepção visual expressionista ter exercido forte influência no cinema mundial.

O Diretor Friedrich Murnau

Cenas de “Nosferatu”, 1922

Dr Mabuse: O jogador, 1922

Direção: Fritz Lang

Sinopse: História do doutor do título, um psicanalista, apostador, manipulador criminoso e hipnotizador que usava de suas habilidades para enganar outros apostadores, controlar ações na Bolsa de Valores, induzir seus inimigos ao suicídio ou mandar matá-los. Homem de negócios, cidadão comum, viciado em jogos de azar ou doente mental, esse “homem das mil faces” é ao mesmo tempo uma representação de todos os controladores sociais e vítima patética de seus próprios jogos.

O Diretor Fritz Lang

Cenas de “Dr. Mabuse: O Jogador”, 1922

Filme “M”: A maturidade insuperável do expressionismo

Em 1931, o diretor alemão Fritz Lang, provavelmente o maior nome do cinema expressionista, filmou “M, o Vampiro de Dusseldorf” mantendo toda a pegada do movimento, dessa vez com traços mais modernizantes. “M” é uma obra prima imperdível. Além de outros atributos e características, trata-se de um thriller psicológico e angustiante em que as pessoas parecem todas desoladas e doentes, talvez antevendo um futuro trágico e destruidor de uma Alemanha nazista.

O Diretor Fritz Lang

Fritz Lang, contando com mais recursos técnicos e mais maturidade e sofisticação na direção, criou um clima de suspense ardente só comparado ao cinema de Alfred Hitchcock. Aperfeiçoou uma fotografia cheia de sombras e escuridão, abordou um personagem perigoso e assassino, e tudo dentro de uma narrativa de expectativas e de terror.

O ator Peter Lorre dá vida ao personagem principal numa espetacular atuação, com seu rosto infantilizado, meio perdido e aparentemente inocente que se contrapõe a da figura violenta que é. Baseado num caso verídico, a história trata de um abusador e também assassino de crianças (as cenas com crianças e o assassino são uma mistura de inocência e terror psicológico).

Com o codinome “M” da palavra em inglês Murder, ele aterroriza uma cidade, deixando mães, população, polícia e o próprio submundo do crime local em estado de alerta.

A caçada é intensa e o infanticida se esconde, mas fica cada vez mais encurralado. A sua marca registrada é uma melodia que assobia pelas ruas e dá um tom ameaçador e de uma terrível tensão. No fim, acaba sendo julgado e condenado por um tribunal de malfeitores.

Cenas de “M, O Vampiro de Dusseldorf”, 1931

O neoexpressionismo de Tim Burton

O diretor americano Tim Burton desenvolveu um cinema muito influenciado pelo cinema de terror antigo e também pelo cinema original do expressionismo alemão das primeiras décadas do  século XX. Navegando em várias temáticas, mas sempre de maneira bizarra, mesmo lidando com histórias aparentemente inocentes ou poéticas, Burton pode ser considerado um expoente do neoexpressionismo no cinema.

Tim Burton criou seu próprio mundo cercado por figuras estranhas, com uma linguagem do universo do fantástico, às vezes surreal, outras vezes ameaçador, depois trabalhando com histórias infanto-juvenis de maneira macabra, tratando o horror de maneira cômica e não fugindo de tratar da morte, de assassinatos, com um naturalismo muitas vezes cruel.

Tim Burton homenageou especialmente o clássico filme expressionista “O Gabinete do Dr.  Caligari”, 1920, em dois de seus filmes que se configuram como um expressionismo moderno.  Mostramos abaixo cenas comparativas com o filme expressionista alemão citado.

O cineasta neoexpressionista americano Tim Burton

As semelhanças: “O Gabinete do Dr. Caligari”, 1920, e “Edward Mãos de Teosura”, 1990

As semelhanças: “O Gabinete do Dr. Caligari”, 1920, e “Batman, O Retorno”, 1992

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