Clássicos do Cinema
“Juventude Transviada”: Rebeldias, carências afetivas e a busca de um caminho

“Juventude Transviada”: Rebeldias, carências afetivas e a busca de um caminho

O que é um filme clássico?

Antes de começar a abordar o clássico filme Juventude Transviada, de Nicolas Ray, vamos tratar de alguns conceitos que caracterizam um filme clássico.

O chamado filme clássico é mais expressado do que discutido. A sua conceituação envolve muitas variáveis, e determinar que um filme seja clássico lança muitas polêmicas. Um filme é clássico porque teve grande bilheteria e porque foi muito assistido? Não.

Algumas características são fundamentais para a definição de filme clássico: Deve ter um sabor nostálgico ao se rever, de ser sempre revigorante para se voltar ao assunto, de guardar lembranças eternas, de ser inovador na narrativa e na técnica, de possuir uma contextualização histórica que merece sempre ser revista, de conseguir passar uma mensagem que não morre com o tempo e de possuir cenas memoráveis.

É muita coisa? Sim, mas não precisa ter tudo isso. Penso que a característica mais importante é a capacidade do filme de influenciar as pessoas ao longo do tempo, ou seja, dele se tornar parte atemporal de uma cultura.

Se um filme levou muita gente ao cinema não é o mais importante, mas se ele foi motivo de muito debate, muitos escritos, muita lembrança e imitações posteriores, isso sim o enquadra na denominação de clássico.

Filme: Juventude transviada, 1955

Direção: Nicholas Ray

Elenco: James Dean, Natalie Wood e Sal Mineo

Juventude Transviada, no título original “Rebelde sem causa”, teve muito significado nos anos 50 por atacar o conservadorismo da época e mostrar comportamentos disfuncionais. Mas esse filme também ecoa profundamente em nossos tempos, uma vez que discute questões de desequilíbrios familiares, relações afetivas tumultuadas, inquietações da passagem da mocidade para a fase adulta, dramas psicológicos das afirmações pessoais e a busca de uma identidade. A sua temática é absolutamente atual, só muda a ambientação histórica, o filme se passa nos anos 50, e a simbologia de cada época.

Vamos ao enredo do filme. Juventude Transviada trata da história de Jim Stark (James Dean), um jovem rebelde, baderneiro, problemático que, por sua causa, os pais se mudam de uma cidade para outra, até se fixarem na cidade de Los Angeles

Quando preso por embriaguez e desordem conhece, no distrito policial, outros dois jovens angustiados e de pais incompreensíveis, com os quais ele se identifica: Judy (Natalie Wood), uma jovem revoltada com o pai que vagava pelas ruas, e Platão (Sal Mineo), um rapaz que atirou em alguns cães e que não tem rumo. Com esses dois, Jim vive alianças, conflitos e disputas por questões territoriais e amorosas.[

Libertado da prisão, o personagem de Jim tenta começar uma vida longe de problemas, mas, ao perceber que seus sentimentos estão ligados a Judy, cria novos aborrecimentos e desentendimentos, dessa vez com o namorado dela, que é o líder de uma gangue do colégio, e que cruza seu caminho. Esta rivalidade vai gerar algumas situações com trágicas conseqüências.

Os três amigos desajustados

O mito de James Dean

O ator James Dean foi o maior responsável direto pelo grande sucesso do filme Juventude Transviada, e por ele continuar badalado até hoje. Sua atuação foi inovadora, intensa, sua caracterização do personagem Jim (diminutivo do seu próprio nome) tinha muita densidade dramática diferenciada, com maneirismos gestuais, rosto de criança abandonada, melancólico e desolado, mente vagando no vazio ou no infinito, mas ao mesmo tempo com uma capacidade de sair da fragilidade para a violência em poucos instantes. James Dean, com esse personagem, acabou criando a própria imagem, de um ícone da rebeldia sem causa que o marcou até sua prematura morte.

Dean teve uma vida familiar conturbada. Após a prematura morte de sua mãe, foi criado por tios e depois retornou à casa do pai e madrasta. Foi um bom aluno, mas arriscou na carreira de ator e, após participar de vários episódios televisivos da rede CBS, conseguiu ser aceito no famoso Actor’s Studio de Nova York e estudou o método de atuação de Lee Strasberg, o mais importante na época. Para se ter uma idéia, o grande ator Marlon Brando também estudou lá.

James Dean realizou apenas três filmes: “Juventude Transviada”, “Vidas Amargas” e “Assim caminha a Humanidade”, num intervalo de apenas três anos de filmagens, mas isso bastou para transformá-lo num mito do cinema. Sua carreira foi curta, mas muito intensa. Morreu aos 24 anos em um acidente automobilístico, que era seu hobbie perigoso, e que ele se arriscava em corridas. Suas atuações até hoje são muito admiradas e estudadas.

As crises afetivas

Voltando ao filme do rebelde sem causa, Juventude Transviada, o personagem Jim busca sentido na vida e um rumo a seguir. Não consegue uma adequação às regras estabelecidas, mesmo que tente. Vive num labirinto de possibilidades e num desabrochar de uma maturidade que parece distante. Encara a vida à sua maneira não convencional e procura um caminho.

Juventude Transviada, apesar de filmado num contexto específico dos anos 50 nos Estados Unidos, levanta as necessidades amorosas não correspondidas, a busca de um sentido para a vida, o significado da família, ontem e hoje, a fuga para amizades de rua e a delinqüência juvenil, o álcool, assuntos que continuam atuais e, na minha opinião, cada vez mais problematizados e muitas vezes mais violento. A modernidade em que vivemos não resolveu essas questões, apenas as colocou em um patamar mais complexo.

Quanto ao diretor do filme, o americano Nicholas Ray, a partir de 1948 tornou-se rapidamente um diretor com marcas distintivas fortes: heróis frágeis, palpáveis, que tentam sobreviver num mundo que não controlam, não possuem respostas.

O Diretor do filme Nicholas Ray

O Diretor do filme Nicholas Ray

Nesse mundo, a onipresente violência física e mental convive com a possibilidade de uma paixão arrebatadora e irrestrita. Seus filmes, freqüentemente, focalizavam tipos marginalizados como heróis. Realizou alguns filmes que ficaram famosos no circuito de cinema de arte, tais como: “No Silêncio da Noite”, “Cinzas que Queimam” e o super badalado “Johnny Guitar”.

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