Radioactive, Judas e o Messias Negro e Druk Uma Nova Rodada, três filmes que tratam de humanismo, resiliência e sonho
Filme: Radioactive, 2019
Direção: Marjane Satrapi
Elenco: Rosamund Pike, Sam Riley, Aneurin Barnard, Anya Taylor-Joy
Enredo: O filme Radioactive aborda a vida e o trabalho científico da física e química, nascida na Polônia, Marie Curie, precursora da radioatividade e do raio-X, e ganhadora de dois prêmios Nobel pela descoberta dos elementos químicos rádio e polônio. Não é propriamente uma cinebiografia, mas uma história que se passa em Paris nos séculos XIX e XX. O filme explora a personalidade forte e determinada da cientista, suas relações profissionais e emocionais, sua vida com seu marido e companheiro, o também cientista francês Pierre Curie, morto tragicamente, e suas dificuldades para se impor como uma mulher acima do seu tempo.
Comentário: Radioactive é um filme em flashback da trajetória de Marie Curie, tão determinado quanto a própria personagem central, pioneira, genial e rebelde. Tem um ritmo acelerado e recheado de pegadas sentimentais e momentos árduos de luta, intercalados, da personalidade da cientista e do seu trabalho revolucionário. A atriz Rosamund Pike está ótima no papel de Marie Curie e tem se destacado como uma estrela do cinema em ascensão.
O filme faz uma excelente reconstituição de época da Paris do século XIX, linda e nostálgica. Aborda bem o esforço da cientista em combates contra preconceitos xenófobos, numa sociedade machista que a impede, por ser mulher, de se estabelecer numa carreira acadêmica, e seus embates para conciliar afetividades, família, trabalhos domésticos e profissionalismo.
O filme trata também de humanismo, das dores e fragilidades de uma mulher batalhadora e independente. Cenas de sua vida são entrelaçadas com cenas que descrevem o impacto futuro de suas descobertas científicas e seu entendimento de que a ciência deve servir para o bem da humanidade. Nesse ponto, o filme mostra seu trabalho na Frente Ocidental durante a Primeira Guerra Mundial, salvando vidas com suas unidades de raio-X para tratamento de soldados feridos.
Filme: Judas e o Messias Negro, 2021
Direção: Shaka King
Elenco: Daniel Kaluuya, LaKeith Stanfield, Dominique Fishback, Jesse Plemons
Enredo: Baseado em fatos reais, o filme se passa no final dos anos 60 e início dos anos 70, após os assassinatos dos líderes negros Martin Luther King e Malcolm X. A trama gira em torno de um ladrão negro profissional que, após um acordo com a polícia, passa a ser informante do FBI e se infiltra nas fileiras do Partido dos Panteras Negras da cidade de Ilinois, EUA. Seu alvo é o presidente do Partido Fred Hampton e suas atividades revolucionárias em defesa de um mundo com justiça racial e social, um mundo socialista. O filme também mostra as divisões dos grupos negros, as dificuldades de organização, as campanhas financeiras, as manifestações, os discursos políticos inflamados e os confrontos sangrentos com a polícia.
Comentário: A temática dos movimentos negros nos Estados Unidos já foi muito abordada pelo cinema e também em séries televisivas, lembramos aqui dos filmes dos diretores americanos negros John Singleton e Spike Lee. Apesar disso, “Judas e o Messias Negro” é uma grata surpresa. Tratando particularmente sobre o ativista negro dos direitos civis Fred Hampton, sua ascensão e queda, o filme navega pelo universo da cena negra americana sem clichês, uma boa dose de romantismo ideológico e com muito realismo.
Municiado por uma bela fotografia, onde as tomadas, principalmente noturnas, dão um toque mágico às ações e conflitos psicológicos entre os personagens, o filme se segura muito bem com ótimas atuações de atores e atrizes praticamente desconhecidos.
O filme mistura política, espionagem, guerrilha, afetividades e relações interpessoais difíceis na medida certa, sem estereótipos e sem cair em um manifesto puramente panfletário. O ator negro Daniel Kaluuya, que vive o personagem central, venceu com mérito o Oscar de melhor ator coadjuvante. O filme é direto, sem rodeios açucarados, mas sabe ser sensível e trata os personagens com uma humanização na dose certa, ou seja, são corajosos, mas também frágeis.
Filme: Druk, Mais Uma Rodada, 2020
Direção: Thomas Vinterberg
Elenco: Mads Mikkelsen, Maria Bonnevie, Magnus Millang, Thomas Bo Larsen
Enredo: Quatro professores de ensino médio, insatisfeitos com a vida, com crises emocionais cada um à sua maneira, e sob pressão constante do colégio em que lecionam, decidem testar uma teoria de que o organismo humano precisa de certa dose constante de álcool no sangue para que tudo na vida melhore. No início vai tudo bem, parece que alcançaram a felicidade de viver, apesar dos constrangimentos de beber às escondidas e em plena luz do dia. Mas, com o tempo, na medida em que os personagens não resistem à tentação de quantidades maiores de álcool, sentem os efeitos negativos das bebedeiras, com o perigo da degradação humana.
Comentário: “Druk, Mais Uma Rodada” venceu o Oscar de melhor filme estrangeiro em 2021 e é uma embriagante sátira às pressões psicológicas da meia-idade e às atividades e relacionamentos rotineiros e tediosos. Trata da questão da ingestão de álcool de maneira divertida, mas com cenas fortes, chocantes e mortais dos exageros etílicos.
O filme apresenta situações engraçadas e os entusiasmos dos personagens sob o efeito da substância são muitas vezes agradáveis e hilariantes. São muitas cenas impagáveis da condição humana, a partir de testagens de teor alcoólico e seu uso clandestino. Apesar de grandes farras, a vida não parece melhorar, e os problemas persistem, e até pioram com as consequências físicas, familiares e mentais do excesso alcoólico.
O filme não faz juízo de valor, mas deixa claro que os exageros desequilibram qualquer um, podem ser fatais, e não resolvem as coisas da vida. A fuga da realidade também não é o caminho. Mas no final, vence a alegria. Os professores entram na festa e comemoram a formatura de seus alunos. Bebem, dançam, se divertem. Nada como a alegria da vida que, de alguma forma, acontece.
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