Anne with and E, Alias Grace e o Homem das Castanhas, três séries que tratam de orfandade, psicologia criminal e assassinatos misteriosos
Série: Anne with and E, 2017
Criação: Moira Walley-Beckett
Elenco: Amybeth McNulty, Geraldine James, R.H. Thomson, Dalila Bela
Onde assistir: Netflix
Enredo: A série “Anne with and E” se passa em fins do século XIX e acompanha a vida de Anne (Amybeth McNulty), uma jovem órfã de 13 anos que, após uma infância abusiva em orfanatos e casas de estranhos, é enviada por engano para viver com os irmãos solteirões e mais velhos, Marilla (Geraldine James) e Matthew Cuthbert (R.H. Thomson) que moram na Ilha Green Gables, Canadá. Anne, que prova ser excepcionalmente espirituosa, imaginativa e inteligente, transforma a vida de todos ao seu redor com seu jeito sentimental e aventureiro.
Comentário: A série explora o processo de amadurecimento da jovem órfã Anne, enfim adotada por uma família, que está em busca de amor, aceitação e seu lugar no mundo. Contra todas as probabilidades e numerosos desafios, Anne luta em um mundo que discrimina pessoas órfãs e sem posses. A série tem uma ambientação de época com cenários bem construídos e acompanha lindamente as estações do ano.
Trata de temas como pertencimento, bullying, discriminação de classe, isolamento social e um feminismo latente, que continuam assuntos muito atuais. Além disso, expõe o processo de descobertas de Anne à medida em que vai se tornando mais vivida, notadamente a passagem de garota para “mulher” e a descoberta íngreme do amor. A série também apresenta personagens preconceituosos, principalmente os adultos, com emoções e sentimentos muito volúveis.
A dinâmica dos personagens é nitidamente rural, atrasada, fora de um contexto mais complexo de uma cidade grande que, aliás, aparece apenas em alguns momentos. O ponto forte da série é a personagem Anne, com uma interpretação surpreendente da Atriz-mirim Amybeth McNulty. As características dessa personagem, sendo extremamente astuta, inteligente, uma sensibilidade à flor da pele e ares de poetiza, dão a impressão de não serem verosímeis, tamanha são suas aptidões, comportamentos, percepções de vida e até atos de heroísmo, que transitam entre a infantilidade e a maturidade de um adulto.
Série: Alias Grace, 2017
Criação/Adaptação: Margaret Atwood e Sarah Polley
Elenco: Sarah Gadon, Edward Holcroft, Rebecca Liddiard, Zachary Levi, David Cronenberg
Onde assistir: Netflix
Enredo: Grace (Sarah Gadon), uma imigrante irlandesa no Canadá, é condenada pelo assassinato de seu patrão. Presa, maltratada e realizando trabalhos forçados, tempos depois as coisas tomam um rumo diferente quando um psiquiatra, Simon (Edward Holcroft), chega para analisar seu estado mental.
A partir daqui, com uma série de encontros de psiquiátricos, Grace conta sua história, marcada pela pobreza, um pai alcoólatra e abusivo e sua luta pela sobrevivência como serviçal em casas de estranhos. Durante os encontros “terapêuticos”, conheceremos algumas pessoas que fizeram parte de sua vida e ajudarão na investigação psicológica dos acontecimentos de sua vida, e que poderão alterar o resultado de sua condenação judicial.
Comentário: A série “Alias Grace” se passa no século XIX e é uma longa narrativa em flashback, que se alterna entre passado e presente, sobre a história de uma mulher imigrante que tem sua vida relatada e analisada por um psiquiatra.
Foi condenada por homicídio, mas há detalhes que precisam ser cuidadosamente revistos, seu passado triste, suas amizades, companhias e as realidades vividas. Além de Grace, existem quatro personagens importantes: o psiquiatra Simon, que vai se atraindo perigosamente pela paciente, com sonhos e fantasias eróticas; a amiga Mary (Rebecca Liddiard), uma empregada extrovertida e defensora da igualdade feminina numa sociedade machista; o simpático mascate, Jeremiah (Zachary Levi), que se transforma num neuro-hipnotizador; e o misterioso trabalhador rural e cavalariço, James (Kerr Logan), que se tornam fugitivos.
A série nos faz sentir dúvida sobre quem é realmente Grace e se ela é ou não culpada. E isso não se resolve. O que realmente importa na história é o fato de que Grace, assim como uma multidão de mulheres sofridas e acusadas, tanto na época da série, o século XIX, como nos dias atuais, nunca pôde falar por si própria. Mulher pobre inserida em um contexto social patriarcal e elitista, somente consegue se impor após muita garra e infortúnios.
Série: O Homem das Castanhas, 2021
Criação: Dorte Warnoe Hogh, Mikkel Serup, David Sandreuter
Elenco: Danica Curcic, Mikkel Folsgaard, David Dencik, Iben Dorner
Onde assistir: Netflix
Enredo: A série se passa em Copenhagen, Dinamarca, onde um boneco feito de castanhas é encontrado na cena de um terrível assassinato. A partir dessa pista aparentemente infantil, mas assustadora, dois detetives procuram um serial killer que aterroriza a cidade e que está ligado à morte presumida da filha de Rosa Hartung (Iben Dorner), uma ministra do alto escalão do governo. O boneco é a pista principal que a investigadora Naia Thulin (Danica Curcic) tem pela frente, ajudada por Mark Hess (Mikkel Folsgaard), um parceiro astuto e enigmático.
Comentário: A série dinamarquesa “O Homem das Castanhas” é uma história cheia de suspense e mistério e que possui um ritmo de filmes noir, num clima de frieza, tons saturados e com muitas cenas noturnas e ambientes fechados. Histórias de seriais killers já foram muito exploradas, tanto no cinema quanto em séries televisivas. Mas essa tem um gosto especial porque o assassino é atormentado por um passado repleto de abusos sofridos, tem motivos concretos para cometer atrocidades.
Não se trata de um caso onde simplesmente o assassino mata à toa ou por uma psicopatia insensível. Os três personagens principais, os investigadores Naia e Mark, e a ministra Rosa, possuem um denominador comum: estão tentando fugir de seus dramas pessoais. Naia tem uma família complicada e sem tempo para a filha; Mark perdeu esposa e filha num incêndio de sua casa e sempre aparenta desproteção; e Rosa perdeu a filha num sequestro não resolvido, além de ter de lidar com muitos problemas no comando da assistência social do país.
A série é muito realista, trata as pessoas humanamente, com sentimentos próprios e crises particulares. Não há personagens heroicos, todos são acometidos por erros e acertos e com carência afetiva. Depois de muitas reviravoltas, no final sabe-se que o assassino sempre esteve bem perto de todos os envolvidos, queria vingança pela violência sofrida na infância ao ser adotado por uma família cruel.
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