Ehrengard, Retorno da Lenda e Bardo, três filmes que tratam de seduções, de um mito do faroeste isolado e de memórias loucas
Filme: Retorno da Lenda, 2021
Direção: Potsy Ponciroli
Elenco: Tim Blake Nelson, Stephen Dorff, Gavin Lewis, Scott Haze, Rastrear Adkins
Onde assistir: Netflix
Sinopse: Num rancho isolado nos Estados Unidos, um homem quieto e solitário, e seu filho, acolhem um estranho ferido perto de sua casa, junto com uma sacola cheia de dinheiro. O estranho afirma ser um xerife perseguido por bandidos. Mas, não há nenhuma certeza, já que outros homens aparentemente inocentes, e que também se dizem homens da lei, estão em seu encalço.
Comentário: O filme Retorno da Lenda é um excelente faroeste, silencioso e amargo. É uma surpreendente jornada de escolhas e segredos que tem seu epicentro girando em torno de um misterioso homem que é encontrado por pai e filho em uma remota região no leste de Oklahoma, EUA, no início do século XX. O roteiro apresenta reviravoltas e segue na linha de uma teoria sobre um marcante pistoleiro da história americana. Na trama, conhecemos Henry (Tim Blake Nelson) um pacato agricultor viúvo perto dos 50 anos que mora com seu único filho, o adolescente Wyatt (Gavin Lewis), em uma casa isolada, instalada entre duas colinas, distante do mundo agitado fora dali. Eles levam uma vida simples e de muito trabalho. Ambientado, mais ou menos, duas décadas depois da época do famoso Billy The Kid e do famoso embate entre comerciantes e fazendeiros também conhecidos como Guerra do Condado de Lincoln, Retorno da Lenda mostra sua força no recorte de uma época, trazendo um frescor para o gênero faroeste, onde a lei e os foras da lei se entrelaçavam, onde as mentiras tomavam conta de objetivos, um espaço de tempo em que a sobrevivência virava uma necessidade básica na vida de todos. Após ajudarem um estranho homem que foi alvejado perto dali e levava consigo uma bolsa repleta de dinheiro, a rotina de pai e filho é quebrada quando um grupo de homens aparece para procurar o homem que eles ajudaram. Henry precisará entender o quebra-cabeça em que se envolveu, ao mesmo tempo em que seu passado será revelado. Henry é um solitário homem, de poucas palavras, que parece ter sofrido muitos abalos ao longo do tempo e que encontrou um novo sentido para a vida através do amor de sua falecida esposa. Ele terá de enfrentar a todos na bala. E saberemos, no final, quem ele realmente é.
Cenas de “Retorno da Lenda”, 2021
Filme: Bardo, Falsa Crônica de Algumas Verdades, 2022
Direção: Alejandro González Inãrritu
Elenco: Daniel Gimenez Cacho, Ximena Lamadrid, Griselda Siciliani, Fabíola Guajardo, Francisco Rubio
Onde assistir: Netflix
Sinopse: Um renomado jornalista e documentarista mexicano volta para casa e enfrenta uma crise existencial enquanto luta com sua identidade, relacionamentos familiares e a loucura de suas memórias.
Comentário: O filme Bardo, Falsa Crônica de Algumas Verdades é um filme de retorno à identidade mexicana do diretor premiado em Hollywood Alejandro González Iñarritu. Parece que ele, apesar de vencer muitos Oscars, se achou com a necessidade de retornar a seu país e retomar memórias ou sentimentos pessoais, íntimos e malucos, como se ele os tivesse abandonado. Sofrendo uma influência do filme 8 e 1/2 de Fellini, criou uma espécie de seu alter-ego na figura de um documentarista que tenta revisitar seu passado na terra natal com suas loucuras internas. O que se encontra aqui é uma narrativa sobre um artista que está viajando por seu país natal enquanto reflete sobre sua carreira num clima pessoal entorpecido e delírios divertidos. O que prevalece mais é o visual de cenas e de um personagem perdido, ainda que ele próprio aparente fazer uma busca reflexiva sobre sua própria vida, mas de confusão, de falta de um terreno seguro para existir. É um filme que navega de forma onírica para as incertezas que permeiam a mente de seu protagonista e do próprio Diretor do filme. Abordando crises internas do personagem com crises da própria história mexicana, o filme tem um exagero que passa por cima do roteiro e vira algo perto de uma obsessão do próprio diretor do filme para dizer que ele conhece seu país e seus dramas, talvez com um forte egocentrismo visual e psicológico. Mas é um filme que merece ser visto. É pouco convencional e não tem vergonha de ser louco. Apesar do filme saturar cenas com situações cheias de simbolismos, os personagens são humanos e sombriamente divertidos.
Cenas de “Bardo, Falsa Crônica de Algumas Verdades”, 2022
Filme: Ehrengard, A Ninfa do Lago, 2023
Direção: Bille August
Elenco: Sidse Babett Knudsen, Mikkel Folsgaard, Emil Aron Dorph, Sara-Marie
Onde assistir: Netflix
Sinopse: Um jovem sedutor chamado Cazotte é contratado por uma Grã-Duquesa numa missão para garantir herdeiros ao trono. Para tanto, ele deve ensinar um introvertido e tímido príncipe na arte da sedução e do sexo em um reino na Dinamarca. Porém, o tiro sai pela culatra quando um herdeiro é concebido fora do casamento, e a família real tem que buscar refúgio no castelo de Rosenbad. Lá, enquanto rivais da família real chegam perto de descobrir a verdade, Cazotte acaba se apaixonando por Ehrengard, uma dama de honra. Pouco a pouco, ele percebe que, na realidade, sabe menos sobre o amor do que imaginava.
Comentário: O filme não traz novidades em sua temática de realeza e em sua boa reconstituição de época. Sua ostentação estética não tenta esconder de que se trata de uma comédia romântica muito leve, que tenta o maior alcance possível com seus jogos de sedução e suas intrigas de castelo. Todos os ingredientes de um filme de época estão presentes e com leveza. Direção de arte e figurino ostentam todo o valor de uma produção vultosa (além do acerto de repetir as vestimentas dos personagens, ideia muito bem desenvolvida), e a atmosfera é recheada quase com a inocência que nos transporta para outro tempo, de menor violência nas relações humanas. O elenco vale mais que a história, com ótimas atuações. Vale a pena assistir o filme por se tratar de um encantador conto de fadas romântico, que é perfeitamente leve e alegre se você o considerar a farsa que é e não estiver procurando por algum tipo de fantasia feminista. É bom de ver de maneira suave, sem que se leve a sério. No mais, o Diretor do filme, o dinamarquês Bille August, continua muito competente e já tem em seu currículo duas Palmas de Ouro no Festival de Cannes. Isso já um chamariz para levarmos o filme em consideração.
Cenas de “Ehrengard, A Ninfa do Lago”, 2023
eBooks para venda – Clique abaixo para comprar