Menina Bonita, Sangue e Ouro e Pinóquio, três filmes que tratam de prostitutas, faroeste na segunda guerra e fantasia sombria
Filme: Menina Bonita, 1978
Direção: Louis Malle
Elenco: Brooke Shilds, Susan Sarandon, Keith Carradine
Onde assistir: Netflix
Enredo: Em 1917, na cidade de New Orleans, EUA, a filha da prostituta adulta Hattie, de nome Violet, é criada em um bordel, onde cuida do seu irmão e se prepara para seguir os passos da mãe. Com doze anos de idade, ela tem sua virgindade leiloada, a mãe se casa e a abandona, e a menina casa com um fotógrafo bem mais velho que oferece um cuidado parental à menina, mas também mantém relações sexuais com ela.
Comentário: O filme gerou muita polêmica e escândalo quando foi lançado em 1978. Além de filmado dentro de um bordel cheio de prostitutas, ter uma temática adulta, o filme tem cenas de nudez envolvendo a personagem da atriz Brooke Shields, então com 11 anos de idade. Apesar de sofrer acusações de explorar a prostituição infantil, o filme é de bom coração, bonito, serenamente triste. Além de uma ótima reconstituição de época (1917) e de uma lindíssima fotografia, o filme apresenta uma realidade que existia e ainda existe no mundo. Portanto, não é apenas uma história que apresenta maus costumes ou meramente exposições sexuais de menores, mas um retrato triste de mães e filhas que, infelizmente, não encontram outra vida para sobreviver. E o filme procura dar a possibilidade de outro caminho para as prostitutas, como um casamento, ou uma relação afetiva, que tire essas mulheres e crianças de uma situação de exploração (as vezes até escravidão) por parte de bordeis que enchem os bolsos de seus donos. E retirar prostitutas desse tipo de vida, tentar constituir uma família relativamente saudável com elas são atos de amor. Ainda que uma nova vida não seja perfeita, mas pelo menos acolhedora e com possibilidade de crescer como pessoas mais felizes.
Cenas de “Menina Bonita”, 1978
Filme: Sangue e Ouro, 2023
Direção: Peter Thorwarth
Elenco: Robert Maaser, Marie Hacke, Alexander Scheer, Florian Schmidtke, Simon Rupp
Onde assistir: Netflix
Enredo: A trama se passa no fim da segunda guerra mundial e acompanha a desventura de Heinrich, um soldado desertor do Regime Nazista que, ao ser salvo de enforcamento pela jovem fazendeira Elsa, acaba se vendo no meio de uma caça ao tesouro em uma pequena cidade alemã. De um lado, um grupo de violentos soldados nazistas sedentos pelo ouro deixado por uma família judia na cidade; do outro, alguns moradores influentes que escondem segredos obscuros e não pretendem deixar os soldados colocarem a mão no tesouro.
Comentário: O filme é tecnicamente muito bem dirigido, atuado e trafega por boas referências cinematográficas. Na violência incessante e no humor ácido, o filme segue na linha narrativa do diretor Quentin Tarantino, principalmente do seu filme “Bastardos Inglórios”. Na mistura de ação, ao mesmo tempo lenta e frenética, na sujeira das ambientações cenográficas e no desenvolvimento dos personagens, todos com caracterizações muito bem definidas, o filme se alinha aos faroestes spaghetti italianos, principalmente do diretor Sérgio Leone. E na trilha sonora, temos músicas lentas, gaita e depois rapidez dos acordes, que nos faz lembrar do genial maestro Ennio Morricone, também uma presença musical marcante dos faroestes. O uso da corda num enforcamento nazista (algo que na segunda guerra era fuzilamento), personagens solitários, mas decididos, também são ótimas homenagens aos faroestes spaghetti. O incrível no filme é a sua dinâmica imparável, uma coordenação total da narrativa e muitos personagens que são todos importantes, algo muito raro no cinema, e que entram e saem de cena com perfeição. Há o soldado desertor que deseja encontrar a filha; uma fazendeira aparentemente pacata, mas perigosa; um oficial nazista frio e calculista; um outro oficial violento que se mantém fiel a Hitler; um Prefeito corrupto; uma idosa que não é o que parece; um Padre devoto, mas esperto; e uma alemã misteriosa e implacável doida pelo ouro. No fim, quem fica com o ouro judeu procurado por todos?
Cenas de “Sangue e Ouro”, 2023
Filme: Pinóquio, 2022
Direção: Guilherme Del Toro
Elenco: Animação digital, stop motion
Onde assistir: Netflix
Enredo: O desejo de um pai se realiza magicamente quando seu menino de madeira ganha vida na Itália, dando-lhe a chance de cuidar da criança. No entanto, os dois têm que lutar para encontrar um lugar para si mesmos enquanto a Itália se envolve no fascismo na segunda guerra mundial.
Comentário: “Pinóquio” é uma animação de 2022 feita em stop motion, do gênero de fantasia. Dirigida por Guillermo del Toro e Mark Gustafson, a animação é baseada no livro As Aventuras de Pinóquio de Carlo Collodi. A história infantil publicada pela primeira vez em 1883 inspirou diversas adaptações para a televisão e cinema ao longo das décadas. A mais popular e muito relembrada foi produzida pela Disney em 1940. Mas, diferentemente do tom meloso da Disney (um boneco de madeira que uma fada transforma em um menino de verdade, bonito e mentiroso), nesta nova versão, o diretor Guilherme Del Toro trouxe a história para mais próximo do nosso tempo contemporâneo num tom sombrio, jogando um caldo de política na trama ao abordar o fascismo italiano e a religião. Afinal, por não morrer, Pinóquio é tratado ao mesmo tempo como um soldado perfeito para o exército de Mussolini e um demônio para os devotos do catolicismo. Os detalhes técnicos são muito bem produzidos. Além disso, mesmo se tornando um menino de verdade, o personagem continua sendo de madeira, o que torna a lição original muito mais forte. Aproveitando para zombar do fascismo, essa nova versão de “Pinóquio” se propõe a ser uma história sobre aceitação radical, sobre como vivemos modelando as relações com as pessoas em nossa vida. O “novo” menino Pinóquio está mais para Frankenstein, o clássico personagem monstruoso e atormentado de Mary Shelley, do que para a magia do conto de fadas da Disney.
Cenas de “Pinóquio”, 2022
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