O cinema de ficção científica: Especulação, imaginação e fantasia
Conceituação, autores e temáticas
A ficção científica é um gênero do cinema que utiliza a especulação com base científica de fenômenos que não são totalmente aceitos pela ciência moderna, como formas alienígenas de vida, outros planetas, mundos alternativos, percepção extra-sensorial e viagem no tempo, juntamente com elementos futuristas tais como naves espaciais, robôs, ciborgues, rebelião das máquinas, viagens interestelares ou outras tecnologias. Filmes de ficção científica têm sido muitas vezes usados para explorar questões filosóficas e metafísicas, tais como a condição humana e o assombro com o universo.
Autores de livros que causaram a curiosidade e a imaginação do mundo sobre temas dessa natureza, como H. G. Wells, Júlio Verne, Arthur Clarke e Philippe Dick, se popularizaram e chamaram a atenção de artistas de outras mídias. Orson Welles, como radialista, aterrorizou toda a população de Nova York, interpretando no rádio a história do livro Guerra dos Mundos de H. G. Wells, onde grande parte da população acreditou estar mesmo sendo invadida pelos marcianos.
Um tema bastante explorado na ficção científica é a da vida inteligente em outros planetas, além de temas como inteligência artificial, hecatombe nuclear, mundo pós apocalíptico, distopia e futurismo tecnológico. Os “marcianos” foram mostrados em diversos filmes estadunidenses, aludindo a um medo de invasão espacial, surgido desde que foram observados pelo telescópio os famosos canais de Marte.
O conhecimento científico avançado mostra uma fronteira cada vez mais larga sobre o que podemos construir em matéria de ficção científica, deixando uma gama ilimitada de temas que filmes podem explorar. E como geralmente são rentáveis, esse gênero continuará forte na televisão e no cinema. É interessante observar os temas dos filmes mais populares de ficção, que em geral mostram os anseios e os receios de determinada geração em função de novas tecnologias ou descobertas científicas.
Uma seleção histórica de filmes de ficção-científica por temática
Futurismo tecnológico
Em 1927, o diretor alemão Fritz Lang rodou “Metrópolis”. O filme aborda uma sociedade opressora onde há uma divisão de classes entre os ricos, que governam com opulência a partir de arranha-céus, e os trabalhadores que vivem em subterrâneos. Mostra a assombrosa escravidão humana pelas elites por intermédio das linhas de produção e o trabalho mecanizado. O filme annteviu a exploração industrial, a sociedade robótica e um futuro tecnológico distópico. O filme foi muito além de seu tempo e sua temática permanece atual.
Em 1982 foi lançado o excepcional filme “Blade Runner”, dirigido por Ridley Scott. Trabalhando com um futuro tecnológico que cria um mundo caótico, multiétnico, com cidades abafadas e sombrias, e onde androides com tempo de vida curto são escravizados em colônias planetárias, o filme apresenta um futuro ameaçador e faz uma metáfora sobre a morte e a condição humana. Em tons existencialistas, “Blade Runner” apresenta um futuro tecnológico distópico e carente de afeto e emoções humanas.
Em 1999, o filme “Matrix” revolucionou as técnicas cinematográficas e anteviu um futuro onde os seres humanos são presos numa realidade virtual, enquanto máquinas dominam o Planeta e se utilizam da energia humana. O filme discute o aprisionamento tecnológico e a noção do real que se torna algo que tem de ser optado para retomar o controle da própria vida. Usando noções filosóficas, religiosas e símbolos antigos, o filme radicaliza o perigo do domínio da tecnologia a tal ponto do ser humano precisar de um “salvador” para se libertar das máquinas.
“Metrópolis”, 1927, “Blade Runner”, 1982, “Matrix”, 1999
Cenas de “Metrópolis”, 1927
Cenas de “Blade Runner”, 1982
Cenas de “Matrix”, 1999
Alienígenas
“O Dia em Que a Terra Parou” é um filme americano de 1951 dirigido por Robert Wise. O filme narra a visita de um ser alienígena à Terra e o seu apelo para a paz entre os povos do planeta. O filme foi um apelo pacifista contra a Guerra Fria, que estava ainda na sua fase inicial. As guerras e a corrida armamentista foram abordadas e estariam preocupando os habitantes de outros planetas. Se não fosse trágico, seria cômico.
O diretor americano Steven Spielberg acertou ao tratar de alienígenas pacifistas em seu filme “Contatos Imediatos do Terceiro Grau”, de 1977. Se contrapondo à mania do cinema de tratar seres extraterrestres como malignos, o, filme acompanha uma pessoa comum que é atraída pela presença de alienígenas na Terra, apesar do governo negar sua existência. Acreditando poder encontrá-los, a pessoa, que é um eletricista, ruma para o deserto de Wyoming, EUA.
Mas foi em 1979 que o mundo assistiu ao terror espacial “Aliens”, dirigido por Ridley Scott. O filme acompanha uma nave de carga no espaço que intercepta um sinal estranho. Ao seguir o sinal, a tripulação aos poucos vai descobrindo uma forma de vida extraterrestre capaz de se hospedar dentro do corpo humano e se transformar numa terrível criatura maligna. Daí até o final, uma perseguição implacável e aterrorizante acontece.
“O Dia em Que a Terra Parou”, 1951, “Contatos Imediatos do Terceiro Grau”, 1977, “Aliens”, 1979
Cenas de “O Dia e Que a Terra Parou”, 1951
Cenas de “Contatos Imediatos do Terceiro Grau”, 1977
Cenas de “Aliens”, 1979
Mundo pós hecatombe nuclear
Em 1968, a teoria de que o homem veio do macaco e que o superou na evolução das espécies se inverteu no clássico filme “O Planeta dos Macacos”, dirigido por Franklin Schaffner. Quando a nave espacial do astronauta George Taylor cai em um planeta desconhecido, ele vê, para sua perplexidade, que o planeta é governado por macacos muito mais avançados do que seus primitivos habitantes humanos. O pior é que ele vai descobrir que tudo isso foi consequência de uma hecatombe nuclear detonada pelos próprios seres humanos.
O mundo pós-apocalipse é bem abordado no filme “A Estrada”, de 2009, dirigido por John Hillcoat. Com fortes tons emocionais, o filme acompanha um pai que deve proteger seu filho de um grupo de canibais que ameaçam as ruas. Eles planejam seguir para o sul, onde há um ambiente hospitaleiro para se viver. Atravessando uma América árida, destruída por uma hecatombe, pai e filho realizam uma jornada de devastação onde apenas o amor que os une pode lhes dar força.
Novamente, um filme sobre a destruição do mundo após uma guerra nuclear foi rodado em 2010 e intitulado “O Livro de Eli”, dirigido por Albert e Allen Hughes. O filme acompanha um homem solitário que passa 30 anos vagando pela América do Norte e que deve lutar contra todo tipo de perigo para manter um livro seguro, pois contém os segredos para salvar a humanidade. O filme é bem coreografado com lutas marciais e com cenários de devastação muito realistas.
“O Planeta dos Macacos”, 1968, “A Estrada”, 2009, “O Livro de Eli”, 2010
Cenas de “O Planeta dos Macacos”, 1968
Cenas de “A Estrada”, 2009
Cenas de “O Livro de Eli”, 2010
Viagem no tempo
As viagens no tempo foram muito exploradas tanto no cinema quanto na televisão. Em 1960, o filme “A Máquina do Tempo”, dirigido por George Pal, surpreendeu. No enredo, na virada para o século XX, um cientista inventa uma máquina do tempo e a usa para explorar o futuro distante. No entanto, enquanto ele viaja no tempo, fica surpreso ao descobrir alguns aspectos chocantes da sociedade. Na medida em que visita o passado e o futuro, ele observa transformações radicais na vida do Planeta.
Um filme muito divertido sobre viagem no tempo foi lançado em 1985. Trata-se de “De volta para o Futuro”, dirigido por Robert Zemeckis. Dessa vez, um cientista maluco desenvolve um carro que transporta um jovem para o passado onde se depara com sua própria família na mesma cidade no interior dos EUA e ele deve fazer de tudo para que o tempo no presente de sua vida não seja alterado por qualquer circunstância. Houve mais duas continuações de muito sucesso.
“Linha do Tempo”, de 2003, dirigido por Richard Donner, não foi bem recebido pela crítica e público, apesar de ser um filme interessante e cheio de confusões históricas. No enredo, um grupo de estudantes americanos de arqueologia fica preso no passado quando viaja no tempo para resgatar seu professor. O grupo deve sobreviver na França medieval do século XIV por tempo suficiente para ser resgatado.
“A Máquina do Tempo”, 1960, “De Volta para o Futuro”, 1985, “Linha do Tempo”, 2003
Cenas de “A Máquina do Tempo”, 1960
“Cenas de “De Volta para o Futuro”, 1985
Cenas de “Linha do Tempo”, 2003
Exploração espacial
Em 1968, um filme incrível foi realizado: “2001 Uma Odisseia no Espaço”, dirigido por Stanley Kubrick. Depois de descobrir um monólito na superfície lunar, o Discovery One e seu revolucionário supercomputador partiram para desvendar sua misteriosa origem. Entre os temas presentes no filme estão a evolução humana, o existencialismo, a tecnologia, a inteligência artificial e a vida extraterrestre. Esteticamente, o filme é lembrado pelo seu realismo científico, pioneirismo em efeitos especiais, imagens ambíguas, próximas ao surrealismo.
“Jornada nas Estrelas”, de 1979, dirigido por Robert Wise, é uma adaptação para o cinema de uma série televisiva de muito sucesso dos anos 60. No enredo, o Almirante Kirk retoma o comando da nave estelar Enterprise para capturar, examinar e, esperançosamente, parar um ônibus espacial destrutivo que é visto se aproximando da Terra. Tanto a série quanto o filme apresentam o lendário personagem do estranho cientista Mr. Spock.
O planeta Marte há muito tempo é tema de documentários científicos e de filmes ficcionais. Um dos filmes abordou o assunto misturando exploração do planeta e vida extraterrestre: “Planeta Vermelho”, de 2000, dirigido por Anthony Hoffman. No ano de 2050, quando a Terra está morrendo, Kate Bowman lidera uma equipe de astronautas na tentativa de colonizar Marte. Eles logo se encontram em grande perigo quando percebem que não estão sozinhos.
“2001, Uma Odisseia no Espaço”, 1968, “Jornada nas Estrelas”, 1979, “Planeta Vermelho”
Cenas de “2001, Uma Odisseia no Espaço”, 1968
Cenas de “Jornada nas Estrelas”, 1979
Cenas de “Planeta Vermelho”, 2001
Conflitos no futuro
Um interessante filme de ficção científica chamado “Rollerball”, de 1975, e dirigido por Norman Jewinson, mostrou muito vigor. Num futuro, a população é controlada por um Estado corporativo e onde o monopólio da energia e de outros recursos globais controlam as pessoas. Com a demolição das liberdades individuais, um homem chamado Jonathan está determinado a alcançar sua própria vontade. Mas, para isso, terá de enfrentar um jogo mortal dos gladiadores do futuro.
“Mad Max”, dirigido por George Miller, foi lançado em 1979 e foi um dos primeiros a discutir o obscurantismo, a degradação da vida e a violência num futuro próximo. O filme foca na história de um policial rodoviário em um ponto remoto da Austrália decadente e infestada por criminosos. A Lei e a Ordem da Austrália são quebradas por gangues de motociclistas que tomam conta das estradas, aterrorizando pequenos vilarejos por onde passam, com crimes de estupro, roubo, homicídios.
Em 1984, um grande filme que aborda a guerra entre homens e máquinas, misturando presente e futuro, foi um sucesso. Trata-se de “O Exterminador do Futuro”, dirigido por James Cameron. O filme acompanha uma perseguição implacável de um ciborgue assassino que é enviado de volta no tempo para matar Sarah, uma garçonete, em uma tentativa de impedir que seu filho lidere uma longa guerra contra o domínio das máquinas no futuro.
Rollerball”, 1975, “Mad Max”, 1979, “O Exterminador do Futuro”, 1984
Cenas de “Rollerball”, 1975
Cenas de “Mad Max”, 1979
Cenas de “O Exterminador do Futuro”, 1984
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