7 Prisioneiros, O Homem do Jazz e Nada de Novo no Front, três filmes que tratam de exploração humana, pobreza e racismo e a loucura da guerra
Filme: 7 Prisioneiros, 2021
Direção: Alexandre Moratto
Elenco: Rodrigo Santoro, Cristiano Malheiros, Vitor Juliano, André Abujamra
Onde assistir: Netflix
Sinopse: Mateus (Christian Malheiros), um jovem de 18 anos, sai da vida no campo, ou roça, numa pobreza explícita, em busca de uma oportunidade de trabalho em um ferro-velho de São Paulo. Uma vez lá, Mateus e alguns outros meninos são vítimas de um sistema de trabalho análogo à escravidão moderna comandada por Luca (Rodrigo Santoro), forçando Mateus a tomar a difícil decisão entre trabalhar para o homem que o escravizou ou arriscar seu futuro e o de sua família se ele não for cúmplice.
Comentário: Abordando a chamada escravidão moderna, especialmente o tráfico de pessoas, o filme “7 Prisioneiros” é tão envolvente quanto deprimente e brutalmente educacional sobre um assunto que parece que já acabou, mas não acabou. Com um jovem talentoso ator, Christian Malheiros, o sempre bem atuante Rodrigo Santoro e um grupo de coadjuvantes muito bem em cena, o filme tem muita tensão e nos envolve numa atmosfera de realismo intolerante onde todos vivem numa disputa entre continuar para sobreviver ou renunciar e tentar outra sorte. Mas que sorte? Passar fome? O tema do nosso passado de escravidão vai e volta e continua travestido em relações de trabalho clandestinas, disfarçadas enquanto “empregos” com salários irrisórios e trabalhos braçais em condições subumanas. Sempre há promessas de uma vida melhor, e o filme explora isso. Mas, obviamente, o sonho rapidamente se transforma em pesadelo e não tarda muito para aqueles jovens do campo sofrerem todo tipo de degradação moral e física, tratados como animais. É de ficar desnorteado que o nosso cinema brasileiro, que já focou muito na exploração humana, econômica e social, tenha que retomar uma realidade terrível, nua e crua, para continuar denunciando péssimas condições de vida, e com câmera na mão.
Cenas de “7 Prisioneiros”, 2021
Filme: O Homem do Jazz, 2022
Direção: Tyler Perry
Elenco: Solea Pfeiffer, Joshua Boone, Amirah Vann, Ryan Eggold, Lana Young
Onde assistir: Netflix
Sinopse: Ao som do legítimo blues do sul dos Estados Unidos, nos anos 40, os negros Bayou (Joshua Boone) e Leanne (Solea Pfieffer) se apaixonam, mas são proibidos de viver esse romance. Anos se passam no meio deste drama familiar e Bayou se torna um cantor de sucesso, enquanto Leanne é forçada a se casar com outro homem, mas o seu sentimento de amor ainda existe e pode levá-los a graves consequências.
Comentário: O assunto não é novo: racismo, pobreza, amor proibido e um sonho de ser um cantor de sucesso. Mas vale a pena, pois o filme é simples, romântico, com um realismo que, apesar de duro, tem emoções puras, não cai em sentimentalismos baratos. O filme gira em torno de um protagonista negro e sua história de vida. Diversas questões raciais na década de 40 no Sul hiper racista dos Estados Unidos são expostas enquanto uma família negra, e vizinhos, se envolvem num conflito de sobrevivência. O dom da música, especialmente o jazz e o blues, ambos nascidos como lamentos negros contra a escravidão, são uma espécie de salvação para aqueles negros que possuíam talento. Sair do interior, da roça, e brilhar na cidade grande era o sonho de cada um que tivesse coragem. Com uma trilha sonora incrível, o jazz e o blues ganham um espaço especial dentro do filme, não estando representado somente na ascensão do protagonista, mas em todos os seus cenários familiares, tendo destaque em sua pequena comunidade até os grandes palcos em Chicago, explorando a cultura musical dentro de famílias negras, seu símbolo de luta e representatividade. Abordando segregação racial, supremacia branca, romance e o grande talento negro para a música, “O Homem do Jazz” vale a pena ser visto e sentido.
Cenas de “O Homem do Jazz”, 2022
Filme: Nada de Novo no Front, 2022
Direção: Edward Berger
Elenco: Felix Kammerer, Daniel Bruhl, Albrecht Schuch, Aaron Hilmer, Edin Hasanovic
Onde assistir: Netflix
Sinopse: A primeira guerra mundial estourou na Alemanha em 1914, mais conhecida como guerra de trincheiras. O jovem Paul Bäumer (Felix Kammerer) e seus colegas rapidamente se alistam no exército para servir sua pátria. Assim que são convocados, e movidos por uma onda de fervor patriótico, as primeiras imagens do campo de batalha mostram a louca realidade da guerra que terão de encarar e sobreviver, se possível.
Comentário: Uma guerra não é glamourosa. Não é heroica e tampouco gloriosa. Na verdade, ela é suja e miserável. É uma mistura de lama, sangue, pólvora e morte bem diferente das histórias que muitas vezes são escritas ou filmadas. Por isso mesmo, o filme “Nada de Novo no Front” é um belo e necessário lembrete dessa dura verdade quase sempre esquecida por Hollywood, nas esquinas e por discursos militaristas. Nesse sentido, o novo filme alemão é um soco de realidade. O longa já se tornou um clássico doloroso e, ao mesmo tempo, pacifista. Isso porque a jornada do jovem soldado alemão Paul Bäumer é a mesma de tantos soldados que lutaram em qualquer guerra, antigas ou modernas, tanto faz. Ainda que a história seja inteiramente ambientada na Primeira Guerra Mundial, ainda nos deixamos levar por histórias heroicas de um passado glorioso ou por discursos sedutores que levam muita gente a lutar por uma batalha que não é delas. E toda a trajetória do filme “Nada de Novo no Front” é justamente a hora que a ficha cai, quando a morte bate à porta, o medo gela o sangue e todos os ideais e as palavras bonitas dão lugar à dura realidade de que a guerra é uma loucura. Só não é uma merda para quem ganha dinheiro com ela. As elites, como sempre.
Cenas de “Nada de Novo no Front”, 2022
eBooks para venda – Clique abaixo no banner para comprar