Estrada Sem Lei, O Destino de Haffmann e O Pálido Olho Azul, três filmes que tratam de perseguição policial, ganância e vingança
Filme: Estrada Sem Lei, 2019
Direção: John Lee Hancock
Elenco: Kevin Kostner, Woody Harrelson, Kathy Bates, Emily Brobst, Kim Dickens, Thomas Mann
Onde assistir: Netflix
Enredo: Os ex-Texas Rangers Frank Hamer (Kevin Costner) e Maney Gault (Woody Harrelson) saem da aposentadoria e unem forças para tentar prender os notórios bandidos Bonnie Parker e Clyde Barrow numa América desolada pela grande depressão econômica dos anos 30.
Comentário: O filme “Estrada Sem Lei” traz um olhar frio sobre a trajetória de Bonnie e Clyde, a dupla de foras da lei que se tornou uma das mais famosas da história dos Estados Unidos. O casal viajava pela América praticando vários tipos de crimes. A história do casal aconteceu durante a Grande Depressão, nos anos 30, quando a América viveu uma grave crise econômica. O filme faz escolhas curiosas, pois em vez de desconstruir o mito de Bonnie e Clyde e mitificar os agentes da lei, ele reafirma os ladrões e desconstrói o heroísmo de seus protagonistas. Além de fugir de heroísmos e sentimentalismos, tem um tom absolutamente realista ao expor a complexidade política e social do contexto americano em que os ladrões viveram. Os ladrões sempre são tratados como figuras lendárias, ao ponto de serem amados pelo povo comum e odiados pelo status quo. Em “Estrada Sem Lei”, todo o universo do filme parece existir ao redor dos criminosos. Afinal, quem era bandido ou mocinho numa América em crise? Outra curiosidade: O casal Bonnie e Clyde não fala. Tudo que sabemos sobre os personagens, ouvimos por terceiros, seja de quem os defende, seja de quem os quer mortos. Outra escolha do Diretor do filme que é muito interessante é que o casal de criminosos Bonnie e Clyde não têm seus rostos exibidos a não ser em sua última aparição no filme. A dupla é quase sempre filmada de longe ou de costas, como se eles sequer pertencessem ao mesmo universo que os protagonistas. Já os agentes da Lei são sempre tratados de maneira incômoda, ou atônita, como se quisessem se livrar de um estorvo.
Cenas de “Estrada Sem Lei”, 2019
Filme: O Destino de Haffmann, 2021
Direção: Fred Cavayé
Elenco: Daniel Auteuil, Sara Giraudeau, Gilles Leilouche, Nikolai Kinski
Onde assistir: Netflix
Enredo: Na Paris no início dos anos 40, cada vez mais ocupada pelo exército nazista, o talentoso joalheiro judeu Joseph (Daniel Auteuil) é proprietário de uma loja bem sucedida que precisa fugir da perseguição contra a sua religião e o seu povo. Ele faz um acordo com seu assistente François (Gilles Leilouche) para que continue com o negócio até que a guerra acabe. No entanto, reviravoltas acontecem e envolvem todas as partes.
Comentário: O filme condena a ganância dos homens, independentemente de ser um tempo de guerra ou não. Quando o judeu e proprietário de uma joalheria, Joseph, não consegue fugir dos nazistas, a trama se concentra em um quarteto de personagens incrivelmente bem construídos: François e sua esposa, Blanche (Sara Giraudeau), administrando a joalheria e morando na casa confortável do antigo patrão e este confinado no porão, com medo de ser levado para um campo de concentração, e um oficial nazista, amante de joias. A partir daí acontece uma interessante dinâmica de transformação de papeis. O filme se torna um conto moral que tem a segunda guerra mundial apenas como pano de fundo. Vai crescendo a sensação de que a nova posição social do humilde assistente de joias o tornará um capitalista desalmado. E a estrutura social se inverte: o dono da joalheria se torna um vassalo de seu antigo funcionário. A esposa, antes motivada pela ascensão social, agora se embrica no meio entre o marido ganancioso e o coitado do antigo patrão. Enquanto que o invasor nazista, na figura de um oficial que detém o poder de vida e de morte na Paris ocupada, parece um mero espectador de um conflito de um outro tipo de poder: o poder capitalista e sua selvageria no interior das pessoas. A trama psicológica é excelente: Enquanto os nazistas mandam e desmandam, homens perdem tudo, obrigados ao exílio; outros se rendem às oportunidades imbuídas de perversidade; e as mulheres sofrem com os desmandos do machismo.
Cenas de “O Destino de Haffmann”, 2021
Filme: O Pálido Olho Azul, 2022
Direção: Scott Cooper
Elenco: Christian Bale, Harry Melling, Lucy Boynton, Gillian Anderson, Robert Duvall
Onde assistir: Netflix
Enredo: Augustus Landor (Chistian Bale), um torturado detetive veterano que vive recluso após perder a esposa para uma doença repentina e a filha, que aparentemente fugiu com um estranho, é convocado para investigar uma série de assassinatos assombrosos que colocam em xeque a reputação e a segurança da Academia Militar dos Estados Unidos. Landor terá a ajuda de um jovem cadete (Harry Melling) que acabará se tornando o mundialmente famoso escritor Edgar Allan Poe.
Comentário: O filme tem uma direção de cena competente e uma fotografia tão mórbida quanto deslumbrante, que une figurinos pomposos, sombrios e coloridos do século XIX à atmosfera cinzenta do inverno norte-americano. Além disso, cria um suspense e uma trilha de assassinatos que nos remetem ao genial filme “O Nome da Rosa”, de 1985. Mas, oscila de maneira um tanto caricata entre o suspense policial e o thriller sobrenatural. As investigações nos levam para tramas assustadoras, ainda que autópsias incompetentes, familiares surpreendentemente colaborativos e árvores genealógicas convenientes reduzam o impacto do que poderia ser um ótimo quebra-cabeças investigativo. A grande cartada do filme é a presença do personagem do futuro famoso escritor Edgar Allan Poe, como um cadete militar e poeta aspirante que ajuda nas investigações dos crimes brutais. Quando a dupla de investigadores descobre que os homicídios são apenas o primeiro passo de um plano ainda mais macabro, o que sabemos é pouco para o que virá no final. O Detetive Landor mascara suas verdadeiras intenções e seu traumático passado; entretanto, é o cadete Poe quem rouba os holofotes trazendo muito da essência dicotômica entre o Poe escritor e o Poe indivíduo, refletindo sua paixão tanto pelo fúnebre quanto pela vida. E consegue desembaraçar as coisas, quando os espectadores acreditam que sabem de tudo, mas não sabem nada.
Cenas de “O Pálido Olho Azul”, 2022
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