A Batalha das Correntes, Green Book e Aliados, três filmes que tratam de gênios inventores, amizade e racismo e amor em tempos de guerra
Filme: A Batalha das Correntes, 2017/19
Direção: Alfonso Gomez-Rejon
Elenco: Benedict Cumberbatch, Michael Shannon, Nicholas Hoult, Tom Holland
Onde assistir: Prime Vídeo
Enredo: Thomas Edison (Benedict Cumberbatch) e George Westinghouse (Michael Shannon), dois dos maiores inventores da era industrial, se envolvem em uma batalha de tecnologia e ideias para viabilizar a distribuição de energia elétrica nas cidades no novo século XX que se avizinha. Apoiado pelo empresário e banqueiro JP Morgan, Edison deslumbra o mundo iluminando a cidade de Manhattan, Nova York, com sua personalidade individualista.
Mas Westinghouse, ajudado pelo cientista Nikola Tesla (Nicholas Hoult), vê falhas fatais no projeto de corrente contínua de Edison. Westinghouse e Tesla apostam tudo na corrente alternada, com iluminação de longo alcance, mas arriscada e perigosa. Edison é determinado e segue seu caminho, num ambiente carregado de academicismo, frieza, empenhos capitalistas e lutas por espaços de fama e glória.
Comentário: Baseado em fatos reais, o filme “A Batalha das Correntes” se passa em fins do século XIX, tem boa reconstituição de época, mas carece de emoções e segue um ritmo austero, apenas correto, centrando o roteiro no embate entre egos de figuras geniais como Thomas Edison, George Westinghouse e Nikola Tesla, inventores da eletricidade e suas idéias e técnicas diferenciadas para iluminar cidades.
O filme segue uma estrutura bastante tradicional e sem grandes reviravoltas ou relações inesperadas: Edison e Westinghouse são gato e rato. Precursor do cinema e inventor da lâmpada, Edison é o gênio arrogante, visionário, com tendências ao isolamento, que se porta como o dono da verdade, irredutível. Westinghouse tem mentalidade capitalista, deseja lucros, mas pensa longe, no progresso econômico e modernizante que a eletricidade pode gerar na vida humana.
Já Nikola Tesla é um cientista que, da mesma maneira que Edison, acredita em suas descobertas de maneira intransigente. Esse triângulo de inventores/empresários com personalidades complexas conduz a narrativa num estilo clássico que não emociona, nem comove.
Entretanto, o filme é competente no que se propõe, apresentar um retrato de uma época histórica que está prestes a deixar de existir, com suas iluminações a gás e sua vida pacata, lenta, ao estilo antigo. Ainda que apresente de forma satisfatória os bastidores sujos do poder científico e empresarial, o filme insiste numa disputa técnica de egos que os espectadores tem dificuldade de acompanhar. De qualquer maneira, “A Batalha das Correntes” é um filme acima da média, é informativo, valoriza a ciência e seus protagonistas, e possui atuações convincentes, desnudando personalidades geniais no seu campo de ação, muitas vezes interiorizadas e pensativas, como Westinghouse, frias e calculistas, como Edison, e ambiciosas como Tesla.
Filme: Green Book, 2018
Direção: Peter Farrelly
Elenco: Viggo Mortensen, Mahershala Ali, Linda Cardellini
Onde assistir: Prime Vídeo
Enredo: Em meio ao racismo galopante nos Estados Unidos dos anos 1960, um pianista afro-americano brilhante, Don Shirley (Mahershala Ali), de comportamento reservado e sofisticado, contrata um segurança ítalo-americano, numa espécie de motorista/assistente/guarda-costas,Tony Vallelonga (Viggo Mortensen), de estilo malandro, irreverente, trabalhador da noite de Nova York, com maus-hábitos, para conduzi-lo por seus locais de shows em várias cidades no chamado “profundo sul dos EUA”.
No decorrer da jornada de uma tour numa região marcada pelo atraso, pelo preconceito e pela violência racial, eles se aproximam e acabam por construir uma improvável amizade. O título do filme refere-se ao livro The Niger Motorist Green Book, informalmente chamado de Green Book, um guia turístico destinado a ajudar viajantes afro-americanos, indicando-lhes dormitórios e restaurantes relativamente amigáveis para negros, durante a vigência das chamadas leis Jim Crow de segregação racial.
Comentário: O filme “Green Book” é baseado em fatos reais e foi rodado em formato de road movie (filmes de estrada) e é uma surpreendente história sobre racismo e amizade através da diversidade de cor e opiniões, durante uma turnê pela região de Deep South, cidades americanas de profunda segregação racial.
Os dois improváveis passageiros da jornada, de comportamentos e idéias muito diferentes, Don e Tony, possuem algo em comum: ambos fazem parte de etnias discriminadas: um, de descendência africana, o outro, de descendência italiana.
Eles passarão por diversas situações delicadas e tensas ao longo da estrada, e começarão a flexibilizar seu modo de ser em nome da solidariedade e da tolerância, enquanto lutam contra o racismo nas localidades em que se encontram. E se metem em encrencas. O legal é ver no andamento do filme que os dois vão, gradativamente, criando um laço de afeto e crescendo pessoalmente com a experiência de lidarem um com outro, com personalidades tão distintas.
Habitualmente, a sociedade americana estava acostumada a assistir um negro trabalhando para um branco, poucas vezes o statuo quo se alterou e viu-se um branco trabalhando para um negro, como é o caso da história do filme. O final do filme é encantador, quando Don e Tony conseguem retornar para Nova York e fazem juntos a ceia de Natal.
Filme: Aliados, 2016
Direção: Robert Zemeckis
Elenco: Brad Pitt, Marion Cotillard, Jared Harris, Lizzy Caplan, Matthew Goode
Onde assistir: Prime Vídeo
Enredo: Em 1942, durante a Segunda Guerra Mundial, o comandante Max Vatan (Brad Pitt), um piloto da Força Aérea Real Canadense servindo em serviços de inteligência, viaja para Casablanca no Marrocos para assassinar um embaixador alemão. Ele é parceiro de uma lutadora da Resistência francesa chamada Marianne Beauséjour (Marion Cotillard), que fugiu da França depois que seu grupo de resistência foi comprometido e morto.
Os dois agentes se apaixonam e se casam. No entanto, algum tempo depois, Max vai suspeitar que a mulher que ama está trabalhando para os inimigos nazistas, como espiã, tornando seu casamento difícil. Daí em frente, Max investiga o passado da esposa e o filme nos envolve numa teia de espionagens, perigos e traições, e com uma interrogação: o casal conseguirá sobreviver das missões da guerra e ficar juntos?
Comentário: Dirigido pelo experiente e bem sucedido diretor Robert Zemeckis, um dos pupilos de Steven Spielberg, grande parte da força do filme “Aliados” vem da dúvida que o espectador carrega sobre aquela figura, a esposa do protagonista, ser ou não ser uma traidora nazista. Há na construção dessa dubiedade, envolta num clima de thriller de espionagem, dialogando com filmes de Hitchcock, o que, a princípio, já é uma experiência prazerosa.
O melhor de “Aliados”, além da dúvida reinante, é a direção de arte, o figurino, e, claro, a fotografia que se utiliza das cores para enfatizar os contextos geográficos: amarelo no deserto do Marrocos, cores vivas e alegres em Londres, para depois, se tornar um filme noir, com muitas cenas noturnas. Ainda que com um roteiro sem criatividade, o diretor Zemeckis consegue misturar suspense com romance, ação com humor e sexo sem apelação, tudo isso em um ambiente pesado de guerra.
A espiã interpretada por Marion Cotillard é uma personagem vibrante, transitando entre a aura do mistério e o exibicionismo de mulher fatal. No fim das contas, “Aliados” é um bom filme de entretenimento, filmado com competência e que nos mantém atentos no clima de guerra, no futuro incerto de um amor e na expectativa dos rumos da investigação sobre a “espiã nazista”.
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