A Cozinheira de Castamar, The Crown e StartUp, três séries que tratam de intrigas e seduções, conflitos de monarquia e arranjos tecnológicos
Série: A Cozinheira de Castamar, 2021
Direção: Norberto López Amado e Iñaki Peñafiel
Elenco: Michelle Jenner, Roberto Enriquez, Maria Hervás, Maxi Iglesias
Plataforma: Netflix
Enredo: A trama se passa em Madri, século XVIII, e gira em torno de Clara Belmonte (Michelle Jenner), uma jovem que está fugindo de seu passado após a execução trágica de seu pai, acusado de uma grave traição, fica pobre. Por conta desse triste passado, ela acabou desenvolvendo agorafobia, um tipo de pânico que a impede de sair de lugares fechados, ficando escondida nas periferias da sociedade. Com muito talento na culinária, as coisas mudam quando ela ganha a chance de se tornar a cozinheira na mansão do duque Diego de Castamar (Roberto Enríquez). Por sua vez, o nobre também carrega seus próprios traumas, vivendo de forma reclusa após a morte de sua amada esposa.
Comentário: A Cozinheira de Castamar é uma série que tem tudo que um filme de época busca: romance, intrigas, fofocas, paixões proibidas, segredos, relações pecaminosas, vestuário luxuoso, locações exuberantes, personagens instigantes, um protagonista galã, um antagonista bom vivant, uma mocinha esperta, um cenário de natureza atraente, um fundo histórico real e o fosso social entre aristocracia e plebeus. É uma boa série de relações aristocráticas com situações picantes, pegada histórica mais tradicionalista e tão suculenta quanto as refeições da cozinheira Clara, engajando o espectador nas tramas e traições dentro da nobreza espanhola. As ações principais se desenvolvem no núcleo de relações interpessoais da aristocracia espanhola, ao passo que ao núcleo de relações da cozinheira Clara, obviamente os servidores da cozinha, cabe a narração, a percepção dos eventos e a sutil influência junto aos nobres da casa.
Trata-se da história de como uma mera cozinheira entra e chacoalha a vida de uma família nobre, principalmente na vida reclusa de um luto sem fim do Duque Diego e também sobre os traumas psicológicos de Clara, ou seja, passados sombrios que precisam ser superados para novas trajetórias de vida. Algo muito interessante e primordial é acompanhar os efeitos que a comida da cozinheira Clara faz nas pessoas, deixando claro que os sabores do amor e do tempero não conhecem barreiras e a vida fica mais gostosa de se viver. O Duque Diego será despertado pelo paladar, pelo intelecto e, por fim, pelo coração de Clara. Com muita intriga palaciana, bastidores envenenados de poder e uma sexualidade desgovernada, a série nos carrega pelo cabresto e nos deixa ansiosos pelo final feliz dos personagens.
Série: The Crown, 2016
Produção: Andrew Eaton, Peter Morgan
Elenco: Claire Foy, Matt Smith, Vanessa Kirby, Olivia Colman, Tobias Menzies, Helena Bonham Carter
Plataforma: Netflix
Enredo: The Crown é um drama biográfico luxuoso e narra a vida pessoal e a trajetória no trono britânico da Rainha Elizabeth II desde o seu casamento nos anos 1940 aos tempos modernos. A série começa com uma visão interna do reinado inicial da rainha, que ascendeu ao trono aos 25 anos após a morte de seu pai, o rei George VI. Com o passar das décadas, intrigas pessoais, questões políticas, romances picantes, confusões matrimoniais e amorosas e rivalidades políticas foram revelados e vários personagens históricos que fizeram parte de seu reinado são retratados, como Philip, Duque de Edimburgo, Princesa Margaret, Príncipe Charles, Princesa Diana, entre outros.
Comentário: A série The Crown é muito bem adaptada e cobre o período dos anos 40 ao início do século XXI, enfocando os esforços da Rainha Elizabeth II para manter a monarquia britânica viva e capaz de administrar seu império, apesar de um alvoroço contínuo de problemas políticos e pessoais que ameaçam a Coroa. Para sobreviver, a Coroa necessita de se modernizar, buscando uma maior aproximação e empatia com seus súditos, e administrar incessantemente a conturbada vida privada de seus membros. Enquanto o império britânico vai se enfraquecendo no tabuleiro geopolítico ao longo do século XX, a Rainha tenta fortalecer a monarquia internamente.
A série cobre as diversas fases do reinado de Elizabeth II com trocas de primeiros ministros, crises internacionais, escândalos sociais, problemas constantes com a mídia e relações familiares conflituosas. A série trabalha bem com o tempo e com a mudança de atores e sabe equilibrar as dificuldades da política de um império com as crises de vida privada, detalhando o difícil e sinuoso percurso da Rainha para lidar com contextos históricos diferentes, personagens que saem e que entram na cena política e variações bruscas no comportamento particular da família monárquica.
Série: StartUp, 2016/18
Criação: Bem Ketai
Elenco: Adam Brody, Martin Freeman, Otmara Marrero, Edi Ghadegi, Ron Perlman
Plataforma: Prime Vídeo
Enredo: A série StartUp se passa em Miami, Flórida, e segue um projeto de tecnologia polêmico centrado na moeda digital, uma ideia que é incubada por três estranhos que não necessariamente se encaixam no molde de empresários de tecnologia, além de um agente do FBI desonesto que fará qualquer coisa para derrubá-los. Especificando, temos quatro personagens distintos que se enroscam de maneira improvável: o jovem empreendedor Nick (Adam Brody), que é filho de um banqueiro fraudulento e tem que lavar dinheiro; a filha de cubanos Izzy (Otmara Marrego), que é um gênio da tecnologia e possui a ideia revolucionária de uma moeda digital que vai muito além do BitCoin; o haitiano Ronald (Edi Gathegi), pai de família dedicado e gângster eficientíssimo, mas disposto a tirar os filhos dessa vida; e o agente da divisão de crimes financeiros do FBI Phil Rask (Martin Freeman), que, doido por corrupção, tenta extorquir dinheiro do pai sujo de Nick. Eis o rolo.
Comentário: A série StartUp trafega com uma trama em alta voltagem. Lançada entre os anos de 2016 a 2018, mas só recentemente disponibilizada na Netflix, a série é muito envolvente e explora a ascensão de uma empresa tecnológica com o pano de fundo de um cenário social agitado e multiétnico de Miami. Possui um elenco de atores talentosos que conseguem desenvolver relações aparentemente impossíveis de personagens muito diferentes e que deixa a trama esquentada e num ritmo frenético. As tensões entre os personagens, dentro de uma história de empreendedorismo tecnológico inovador, e com dinheiro sujo metido no meio, dão o tom da narrativa.
O drama de suspense policial prioriza os objetivos dos quatro personagens em ganhar dinheiro através de arranjos corruptos. Isso implica que os sentimentos e as emoções mais nobres e espontâneas que formam essas pessoas são contidos, calculados, o que quebra a possibilidade de uma dramatização fecunda. Sobram agressividades e desejos obsessivos, mas falta uma humanização na caracterização dos personagens. As misturas de sexo, dinheiro e violência são muitas vezes desnecessárias, mas, de qualquer maneira, a série é interessante e tem ritmo, tratando de um assunto muito badalado no nosso mundo online, no caso a possibilidade de um novo algoritmo tecnológico mudar a vida das pessoas e do mundo.
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