“A Doce Vida”: Um mundo de aparências, alienações e extravagancias
Filme: A Doce Vida, 1960
Direção: Federico Fellini
Elenco: Marcello Mastroianni, Anita Ekberg, Anouk Aimée, Yvonne Furneaux, Alain Dijon
Desnudando o glamour e as fofocas
A Doce Vida”, de 1960, é um filme dirigido pelo cineasta italiano Federico Fellini, sendo geralmente considerado o começo de sua maturidade cinematográfica e marco da consolidação de seu estilo. De um neorrealismo influenciado por Roberto Rosselini para um cinema absolutamente autoral, um tanto quanto caricatural e onírico. São buscas artísticas próprias que vão se consolidar num cinema que privilegia a fantasia, os sonhos e a imaginação ao invés de uma realidade crua, meramente de questões sociais, econômicas e políticas.
O filme “A Doce Vida” veio de uma consolidação cinematográfica da visão felliniana de um mundo aparente e extravagante, com características do cinema noir, com imagens em preto-e-branco, e sequências noturnas que lembram o cinema expressionista alemão, apresentando um cenário festivo, e em algumas vezes com altos contrastes de luz e sombra, além de muita confusão social de personagens. Fellini critica o glamour do mundo das estrelas do cinema com seus paparazzis, a mídia à procura de “furos” de reportagem e as fofocas sociais.
O filme é considerado uma das obras-primas de Federico Fellini, juntamente com 8½ (1963) e Amarcord (1973). O filme é uma crítica aberta à sociedade romana do pós-guerra, retratando uma instituição decadente e hedonista, marcada pela superficialidade, insanidade e incomunicabilidade, e dentro de um contexto de aparências, crenças manipuladas e falsa felicidade.
Cartaz do filme “A Doce Vida”, 1960
Sobre Federico Fellini, o diretor do filme
Federico Fellini foi um diretor de cinema italiano. Conhecido por seu estilo pessoal, que mistura fantasia, imaginação, imagens barrocas, ele é reconhecido como um dos maiores e mais influentes cineastas de todos os tempos.
Em uma carreira de quase cinquenta anos, Fellini ganhou a Palma de Ouro por La Dolce Vita, 1960. Foi indicado a doze prêmios do Osccar de Hollywood e ganhou quatro na categoria de melhor filme em língua estrangeira, o melhor para qualquer diretor da história da Academia. No Oscar 1993, em Los Angeles, ele recebeu um prêmio honorário. Além de La Dolce Vita e 8½, seus outros filmes conhecidos incluem A Estrada, Noites de Cabíria, Julieta dos Espíritos, Satyricon, Amarcord e Casanova.
Com uma combinação única de memória, sonhos, fantasia e desejo, os filmes de Fellini têm uma profunda visão pessoal da sociedade, não raramente colocando as pessoas em situações bizarras e divertidas. Existe um termo “Felliniesco” que é empregado para descrever qualquer cena que tenha imagens alucinógenas que invadam uma situação comum.
O cineasta italiano Federico Fellini
O ator Marcello Mastroiani
A atriz Anita Ekberg
Modernidade e vazio
Através dos olhos do ator Marcello Mastroiani, um jornalista que circula pelos ambientes de fofocas sociais, e onde os chamados “paparrazi”, fotógrafos ambulantes que desejam um “furo” de imagens de figuras importantes, Fellini mostra uma Roma moderna, sofisticada, mas decadente, onde seus personagens aparentam uma suposta alegria, mas principalmentre um imenso vazio interior.
Com sinais cinematográficos da influência antiga da cidade Romana e também criticando os holofotes do cinema hollywoodiano, Fellini faz uma grande crítica ao glamour e às crenças manipuladas.
A famosa “Via Veneto” em Roma foi construída em parte nos estúdios de cinema da Cine Citá, onde Fellini tinha seu espaço próprio. O repórter Marcelo é um homem sem compromisso, que se relaciona com várias mulheres: a amante ciumenta, a mulher sofisticada em busca de aventura, e a atriz de Hollywood, com a qual passeia por Roma, culminando no ponto alto do filme, a famosa sequência na Fontana di Trevi, Roma.
Os festeiros personagens, uma felicidade aparente
Outra sequência famosa do filme é a da abertura, na qual o jornalista, num helicóptero que transporta uma estátua de Jesus até o Vaticano, encontra uma mulher tomando sol numa cobertura e pergunta pelo seu número de telefone. O barulho dos motores impede que ambos possam se entender. A temática da falta de comunicação se repete ao longo de todo o filme.
Dentre os momentos mais importantes do filme, está aquele na qual duas meninas atraem uma multidão, ao fingirem ver uma aparição da Virgem Maria nos subúrbios de Roma; e quando o personagem Steiner, um intelectual e colega de Marcello, que vive com a sua família numa aparente harmonia, comete o assassinato dos seus próprios filhos (um casal de crianças) e se suicida em seguida. Após a morte de Steiner, Marcello embarca numa vida de orgias e, numa destas ocasiões, pela manhã, caminha pela praia em busca de um monstro marítimo morto, o final simbólico do filme.
Federico Fellini filmando “A Doce Vida”, Fontana Di Trevi, Roma, 1960
Como o filme é bellíssimo, não custa nada dizer novamente que a história é muito interessante, com uma mordaz crítica à alienação e ao estrelato de vida. Passa-se em Roma e conta a história de Marcello Rubini, um jornalista especializado em histórias sensacionalistas sobre estrelas de cinema, visões religiosas e a aristocracia decadente, que passa a cobrir a visita da atriz hollywoodiana, Sylvia Rank, por quem fica fascinado.
Fellini mostra a crise geral do personagem principal e seus devaneios sociais e pessoais
Cenas de “A Doce Vida”, 1960
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