A primeira fase do cinema Brasileiro
Pioneiros, filmes e grandes nomes
As primeiras imagens capturadas no Brasil foram realizadas por Affonso Segreto que, juntamente com seu irmão Paschoal, são considerados os primeiros cineastas do país As imagens foram realizadas dentro do navio francês Brésil e mostram gravações da Baía de Guanabara em 19 de junho de 1898, data que ficou considerada como “Dia do cinema brasileiro”.
No ano seguinte, 1899, Pachoal Segreto realizou uma filmagem na cidade de São Paulo durante a celebração da unificação da Itália. Já Afonso Segreto realizou cerca de 60 filmes de curta duração, entre 1898 e 1901. Até 1907, o gênero documentário seria predominante nos filmes no Brasil
Provavelmente essas são as primeiras imagens filmadas no Brasil, 1898
Paschoal Segreto abriu a primeira sala de cinema no Rio de janeiro, o Salão Novidades de Paris, em 1897. Logo depois, no início do século XX, São Paulo tem sua primeira sala de cinema, chamada de Bijou Theatre. Daí, a estruturação do mercado produtor e exibidor de filmes no Brasil aconteceu entre 1908 a 1912, quando a eletricidade se consolidou nas cidades do Rio de Janeiro e de São Paulo, gerando o primeiro boom de filmes no Brasil.
O curta-metragem de 40 minutos “Os Estranguladores”, de 1908, de Francisco Marzullo eAntônio Leal, é considerado a primeira película de ficção do Brasil. Já oprimeiro longa-metragem foi “O Crime dos Banhados”, de 1914, dirigido porFrancisco Santos.
A primeira guerra mundial prejudicou a produção de filmes no Brasil, mas houve algumas produções adaptadas da literatura brasileira, como “O Guarani”. Nos anos 20, os filmes de Hollywood tomaram de conta das salas de exibição no Brasil. Os filmes eram isentos de taxas alfandegárias e, com isso, houve uma invasão do cinema americano.
Apesar disso, o cinema brasileiro conseguiu sobreviver criando os “Ciclos Regionais” de cinema. Nomes como José Medina e Luiz de Barros se sobressaíram. José Medina pertenceu ao ciclo paulista, foi um dos maiores cineastas do cinema mudo brasileiro e realizou em 1929 o clássico “Fragmentos da Vida”. Já o carioca Luiz de Barros realizou o primeiro filme sonoro do Brasil, também em 1929, chamado “Acabaram-se os Otários”.
Cenas de “Fragmentos da Vida”, 1929, de José Medina, clássico do cinema mudo brasileiro
Cenas de “Acabaram-se os Otários”, 1929, primeiro filme sonoro
A importância de Humberto Mauro
Na esteira da primeira onda de filmes dos anos 20, um nome é de fundamental importância: Humberto Mauro. Mauro começou suas produções na cidade de Cataguazes, Minas Gerais. Essa época é chamada de “Ciclo de Cataguazes”, onde rodou até 1929 através de sua produtora Phebo Sul América, e depois ampliada e rebatizada de Phebo Brasil.
Os filmes eram inspirados em aventuras e romances ao estilo americano e se utilizando bastante de cenários naturais, tais como “Tesouro Perdido”, “Brasa Dormida” e “Sangue Mineiro”.
Humberto Mauro é considerado o “pai do cinema brasileiro”, realizou inúmeros filmes, tanto de curta-metragem quanto de longa-metragem, e foi um dos primeiros diretores com temática social, a criar um primeiro realismo brasileiro no cinema, filmar gente simples do povo e a definir uma narrativa genuinamente brasileira, impregnada de regionalismo, naturalismo e brasilidade. Rodou até um filme de história: “O Descobrimento do Brasil”.
Seu curta-metragem “A Velha a Fiar”, feito em 1964, é um clássico visto e revisto durante décadas. Baseado numa canção popular, o curta começa com imagens bucólicas da vida rural: bois pastando, a moagem no pilão, os trabalhos do campo, os animais que farão parte da história. De repente, surge a velha na roça a fiar, quando começa a canção-tema, cantada pelo Trio Irakitan.
Cenas de “A Velha a Fiar”, 1964, um genuíno clássico brasileiro
Mas foi nos estúdios da Cinédia, que abordaremos a seguir neste artigo, que ele realizou sua obra prima intitulada “Ganga Bruta”, em 1933. É um dos maiores filmes do cinema brasileiro, aclamado pela crítica, referência constante em debates, em mostra de filmes e influenciou uma variedade de diretores brasileiros
Cartaz de “Ganga Bruta”, 1933
Cenas de “Ganga Bruta”, 1933
A lenda Mário Peixoto
O cineasta Mário Peixoto, de família de posses, estudou nas melhores escolas da Inglaterra e da França e “bebeu” dos movimentos de vanguarda europeus. Em 1931 dirigiu o filme experimental e de vanguarda “Limite”.
É um filme manifesto, todo impregnado de técnicas fora do padrão, sem começo, meio e fim, e de uma estética indefinida, à deriva como os personagens de seu filme, náufragos. Foi filmado em uma cidade costeira e é um conjunto de imagens, um filme totalmente visual.
Dizem que Mário Peixoto dirigiu o filme com 18 anos de idade, mas deve ser mais uma mística espalhada pelos quatro cantos. Entretanto, depois do revolucionário “Limite”, um filme que lançou as bases do cinema de arte no Brasil e é considerado um dos maiores filmes da história do cinema brasileiro, Peixoto praticamente sumiu da produção cinematográfica, se limitando a escritos, ensaios, entrevistas e a roteiros para filmes nunca realizados
Mário Peixoto virou uma lenda e seu único longa-metragem, que se tornou o maior filme Cult do cinema nacional, é até hoje estudado por cinéfilos e especialistas do cinema.
O experimental “Limite”, 1931
Cinédia: a primeira grande produtora e o início da expansão do cinema no Brasil
Foi somente a partir dos anos 30 que a produção nacional de filmes deu um salto promissor, quando foi criado o primeiro grande estúdio no Brasil, na cidade do Rio de Janeiro, a Cinédia. A Cinédia, que foi idealizada pelo jornalista, produtor e cineasta Adhemar Gonzaga, tentava se espelhar nos filmes de Hollywood, baseado no sistema de estúdios, e produziu dramas populares e comédias musicais
A Cinédia foi o primeiro e bem sucedido projeto industrial de cinema no Brasil, importou os melhores equipamentos e tecnologias, como gruas e câmeras Mitchell, e o sistema de som Movietone, e alcançou o público com sucessos de bilheteria. Permaneceu ativa até o final dos anos 50.
Os estreitos vínculos com o mundo do rádio manifestou-se no enredo dos filmes da Cinédia, e os atores se misturavam com compositores populares da época como João de Barro e Alberto Ribeiro, e as comédias musicais apresentavam uma multidão de cantores, cômicos e apresentadores do rádio, como os cantores Francisco Alves e Mário Reis.
Adhemar Gonzaga, o fundador da Cinédia, e estrelas da produtora
Junto com a Cinédia alguns diretores, que já estavam na estrada, se firmaram e ficaram famosos. Além de Adhemar Gonzaga, o diretor Humberto Mauro realizou seu melhor filme na produtora, o aclamado “Ganga Bruta”, em 1933 e também “Lábios sem Beijos”, em 1930. Luiz de Barros também brilhou com “Berlin na Batucada”.
A estrela Carmem Miranda
Foi nos estúdios da Cinédia o lançamento e a popularização do trabalho musical e teatral da estrela Carmem Miranda que, depois do sucesso fonográfico, se destacou em dois filmes da produtora: “Alô, Alô Brasil”, 1935, de Wallace Downey, e “Alô, Alô Carnaval”, este de 1936, dirigido por Adhemar Gonzaga e seu maior sucesso. Esse filme também lançou o famoso e querido ator Oscarito, que iria se sobressair posteriormente nas chanchadas da Atlântida
Cenas de “Alô, Alô Carnaval”, 1936
Em 1939, Carmem Miranda apareceu pela primeira vez caracterizada de baiana e com vestes típicas, personagem que a lançou internacionalmente, no filme “Banana da Terra”, dirigido por Ruy Costa. O musical apresentava clássicos como O que é que a baiana tem?, que lançou Dorival Caymmi no cinema.
Carmem Miranda, chamada de “a pequena notável”, foi uma grande artista. Além de baiana, podemos classificá-la como genuinamente brasileira, uma personagem terra brazilis, uma ótima tipificação de gente nossa, coisa da terra.
Após os sucessos no Brasil, Carmem partiu para desbravar os Estados Unidos e conseguiu muito sucesso em musicais por lá, espalhando a nossa cultura através de suas roupas, seus trejeitos, suas danças, as músicas da nossa brasilidade e alegorias tropicalistas.
Cenas de “Banana da Terra”, 1939
A Cinédia também produziu outros estilos de filmes. E o destaque vai para o maior sucesso da produtora: o filme “O Ébrio”, um melodrama de 1946 com Vicente Celestino e dirigido por uma mulher, Gilda de Abreu.
Cenas de “O Ébrio”, 1946
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