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A Última Carta de Amor, A Última Nota e A Pura Verdade, três filmes que nos remetem a um amor secreto, dilemas da vida e conflitos familiares

A Última Carta de Amor, A Última Nota e A Pura Verdade, três filmes que nos remetem a um amor secreto, dilemas da vida e conflitos familiares

Filme: A Última Carta de Amor, 2021

Direção: Augustine Frizzell

Elenco: Felicity Jones, Shailene Woodley, Callum Turner, Joe Alwyn

Enredo: O filme “A Última Carta de Amor” apresenta duas histórias românticas paralelas em duas linhas do tempo, passado e o presente. Na primeira história, a jovem socialite Jennifer Stirling (Shailene Woodley), esposa de um magnata da indústria (Joe Alwyn), acordar sem memória num hospital após um acidente de carro, nos anos 60 em Londres, e descobre que escreveu várias cartas de amor para um amante chamado Anthony O’Hare (Callum Turner), um jornalista que assinava como B. com o qual teve um romance secreto e que estava disposta a arriscar seu casamento. Quarenta anos depois, na segunda história, uma ambiciosa jornalista Ellie Haworth (Felicity Jones), com aleatórios encontros sexuais, encontra nos arquivos do jornal onde trabalha as mesmas correspondências de amor e decide investigar o mistério de um amor proibido que aconteceu no passado, enquanto tenta lidar com os problemas de seu próprio relacionamento turbulento com um homem casado e provando uma nova paixão improvável com Rory (Nabhaan Rizwan), o chefe de arquivos.

Comentário: Com personagens realisticamente complexos e uma trama bem elaborada, “A Última Carta de Amor” entrelaça as histórias de paixão, adultério e perdas. Com uma narrativa em flashback bem conduzida, assistimos a atuações sensíveis e bem convincentes, sem clichês e sem sentimentalismos baratos. A trama do passado é mais trabalhada, onde vemos Jennifer reconstituindo suas memórias e ‘entrando de sola’ numa paixão proibida de uma mulher da alta sociedade com um mero repórter que entrevistaria seu marido milionário, quando, em princípio, se tratava de apenas uma distração.

O filme tem uma ótima fotografia, transita muito bem entre passado e presente, com figurinos e cenários dos anos 60 bem reconstituídos e com cenas noturnas e de chuva bastante atraentes. Do ponto de vista psicológico, temos personagens muitas vezes sóbrios e muitas vezes emocionais, bem dosados de acordo com as situações que o filme impõe. Apesar de ser mais uma história de amor às escondidas e com personagens infelizes, complicados e mal resolvidos na vida, acompanhamos passo a passo a trama loucos para saber se Jennifer será feliz em sua aventura romântica arriscada e se Ellie encontrará o verdadeiro amor. Mas o que Ellie deseja é reunir o casal de amantes que o destino separou para que tenham uma nova chance. O final é maravilhoso na estação do trem. O que não é possível na vida real é possível nos sonhos. O importante é que o amor resista ao tempo e se concretize nos corações.

Filme: A Última Nota, 2019

Direção: Claude Lalonde

Elenco: Patrick Stewart, Katie Holmes, Giancarlo Esposito

Enredo: O exímio pianista Henry Cole (Patrick Stewart), já idoso, é um homem de poucas palavras que se habituou ao longo da vida a expressar seus sentimentos através da música e a ser amado por platéias ao redor do mundo. Após a morte da esposa, ele vive um momento delicado, lida com uma crise de ansiedade, com sentimento de perda e de culpa, tendo de enfrentar a si mesmo, no seu profundo íntimo, e passa a ter medo do público, de voltar aos palcos.

Nesse processo de interiorização, ele perde o prazer de tocar, sente bloqueio criativo e se sabota, mas precisará repensar sua vida e o sentido das coisas que fez ou que deixou de fazer. O encontro com a jornalista Helen Morrison (Katie Holmes) com o objetivo de escrever um artigo sobre a vida e a obra de Henry, irá ajudá-lo a superar sua falta de coragem e a ter esperança com o futuro.

Comentário: “A Última Nota” é um filme de muitos silêncios e de paralelos interessantes entre o poder da música e a presença de bonitas paisagens naturais, que representam o turbilhão de sentimentos que existe dentro do protagonista Henry. O filme torna os espectadores testemunhas da história e observadores das profundas emoções do personagem principal, seu deslocamento do tempo presente para memórias do passado e a fusão entre os diversos tempos e memórias vividas. 

O músico consegue nos passar a sensação de desnorteamento diante da vida, de desamparo frente ao futuro, de abandono e de tentar buscar os motivos para o que está se sentindo. Nós, espectadores, acabamos por experimentar e viver as mesmas coisas, como uma sincronia literária entre poesia e angústia, tamanha é a sensibilidade das situações e das imagens. À medida que a jornalista Helen aprofunda sua relação com Harry, parece que estamos fazendo uma pausa em nossas próprias vidas para questionarmos nossos atos, um tanto quanto mecânicos, e atravessarmos o limite entre nossas perdas do passado e nossas esperanças para o futuro. Um filme que nos faz sentir e refletir sobre o dom de viver.

Filme: A Pura Verdade, 2018

Direção: Kenneth Branagh

Elenco:  Kenneth Branagh, Ian McKellen, Judi Dench

Enredo: Depois do desastroso incêndio no The Globe em Londres, seu teatro cativo, o célebre escritor e dramaturgo William Shakespeare se aposenta e retorna para Stratford, Inglaterra, sua cidade natal. Já tendo conquistado fama e dinheiro, sendo aclamado como um renomado e genial escritor, Shakespeare volta para o ambiente da sua infância conturbada que o remete a profundas reflexões sobre suas relações familiares muito mal estabelecidas ao longo de sua vida. Seu trabalho literário o deixou afastado de seu lar. O dramaturgo questiona seus erros e acertos no desempenho do papel de pai e marido em meio ao frenesi do seu sucesso. Atormentado pela morte de seu único filho, o dramaturgo William Shakespeare luta para consertar relações desfeitas com a esposa e filhas.  

Comentário: O filme “A Pura Verdade” se passa no século XVII e é um drama histórico e biográfico com toda a pompa de reconstituição de época. Os cenários de vilarejos, casarões, campos floridos, árvores centenárias e figurinos minuciosamente reconstituídos nos fazem viajar satisfeitos para o sul da Inglaterra nos anos de 1600. Esse ambiente suntuoso, ao mesmo tempo belo e melancólico, não esconde a solidão do grande artista Skakespeare que repensa sua jornada e sua família já no final de sua vida.

O filme mistura seu luto familiar pela perda do filho, com direito a aparições fantasmagóricas e que dita a narrativa, e seu luto profissional com o incêndio de seu teatro. Apesar de ser lento e um pouco arrastado, o filme tem um ótimo elenco de atores e, ao mudar os cenários externos para os interiores à base de velas, o filme se torna introspectivo e repleto de diálogos rancorosos, acusativos, insinuosos e sarcásticos. Curiosamente , a esposa de Skakespeare é analfabeta, mas forte e emotivamente contida.

Enquanto isso, uma das filhas, Judith (Kathryn Wilder) extravasa sua raiva contra o pai distante e machista, e um membro da nobreza, seu amigo, Earl Southampton (o grande ator Ian McKellen) faz diálogos provocativos e estranhamente eróticos, elevando a grande figura de Shakespeare. O filme mostra um desequilíbrio entre razão e sentimento de Shakespeare, uma filha ressentida que não oferece afeto, outra filha ociosa e submissa e sua esposa com gestos calculados. Apesar de ser celebrado como um grande escritor, Skakespeare se depara com relações familiares disfuncionais e emoções pouco vividas.

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