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Antonia Uma Sinfonia, Retratos de Uma Guerra e Mary Shelley, três filmes que tratam de sonho e obstinação, arte e tragédias e liberdades feministas

Antonia Uma Sinfonia, Retratos de Uma Guerra e Mary Shelley, três filmes que tratam de sonho e obstinação, arte e tragédias e liberdades feministas

Filme: Antonia, Uma Sinfonia, 2018

Direção: Maria Peters

Elenco: Christanne de Bruijn, Benjamin Wainwright, Scott Turner Schofield,  Seumas Sargent

Onde assistir: Netflix

Enredo: O filme acompanha Willy Wolters (Christianne de Bruijin), que mais tarde adotaria seu nome de origem, Antonia Brico, uma jovem pobre holandesa, adotada e migrante nos Estados Unidos na década de 1920. No seu caminho de luta, conhece o belo e rico Frank Thomsen (Benjamin Wainwright), por quem seu amor pela música chega a ficar abalado, e o querido Robin Jones (Scott Turner Schofield), um artista de vaudeville, que se torna seu grande amigo. E é com este improvável amigo que consegue seu sustento em Nova York como pianista de bar. Quebrando barreiras, estuda regência em Berlim, faz sucesso na Europa e volta aos EUA para outro feito inédito: criar e conduzir uma Orquestra Sinfônica somente de mulheres para, enfim, reger a Orquestra Filarmônica de Nova Iorque.

Comentário: O filme é um ótimo drama sobre determinação e coragem. Dona de tantos feitos, Antonia, além de ter que romper resistências em seu sonho musical, tem de lidar também com a verdade sobre seus pais de origem na Holanda e sua adoção por migrantes na América. Seu pai adotivo tem pouca posse, além de sua mãe adotiva a tratar com maldade e desprezo e de expressar sentimentos de inveja e rancor. Mas o personagem mais cativante é Robin Jones, um artista transexual, personagem com uma personalidade silenciosa, porém com um grande coração. Será ele aquele que irá estender a mão para dar uma chance à Antonia. Já o personagem Frank Thomsen surge como o homem que poderia ser tanto a salvação amorosa e financeira de Antonia como a perdição de um talento que só poderia aflorar em liberdade.

“Antonia, uma Sinfonia” é um filme cativante, sobre uma jovem apaixonada pela música e que sempre sonhou em conduzir orquestras, numa época, começa em 1926, em que já era raro que mulheres pudessem ao menos se matricular num conservatório para estudar um instrumento musical. A ambientação histórica e a temática musical, majoritariamente clássica, mas com ótimas pitadas de jazz, são bem executadas, orbitando entre ambientes luxuosos e populares da década de 20 e 30 – desde mansões e teatros a bares freqüentados pela burguesia e regiões mais humildes. Por fim, temos o notável desempenho da atriz Christanne de Bruijn, uma novata, que vive Antonia. Ela carrega a determinação e o comprometimento da personagem.

Filme: Retratos de Uma Guerra, 2018

Direção: Marius Markevicius

Elenco: Bel Powley, Sophie Cookson, Martin Wallstrom, Lisa Loven Kongsli, Jonah Hauer-King

Onde assistir: Netflix

Enredo: O filme “Retratos de Uma Guerra” começa em Vilnius, capital da Lituânia, um país do mar báltico, durante a segunda guerra mundial, 1941, em que as tropas de Stalin invadiram o país. Aqui começa a história de Lina (Bel Powley), uma jovem adolescente desenhista que, devido ao ativismo político de seu pai, é jogada num trem e deportada com sua mãe Elena (Lisa Loven Kongsli) e seu irmão pequeno, além de um monte de seus conterrâneos, para trabalhos forçados em um gulag (campo de concentração) na Sibéria. Lá, a sobrevivência é quase impossível, seja pelo inverno rigoroso, como também pelo modo como são tratados pelos oficiais no comando.

A protagonista se aferra ao seu espírito criativo e vai agüentando o seu dia a dia trágico de frio, torturas e fuzilamentos, desenhando as tantas imagens que povoam sua mente. Na segunda parte do filme, como se não bastasse, os prisioneiros são mandados, em 1943, para um lugar perdido no Círculo Polar Ártico, onde o frio é mais implacável.

Comentário: “Retratos de Uma Guerra” é um filme dramático e comovente sobre a guerra, carrega consigo muita humanidade interior, onde a paixão pela arte da adolescente Lina é a única coisa a se apegar e capaz de tolerar os infortúnios. A jovem artista retrata seus amores pessoais e suas dores na guerra, mantendo uma incansável esperança. O filme é muito realista, com reconstituição de época rigorosa e ambientação excepcional, com cenas nos confins dos gulags desesperadoras e angustiantes.

Existem alguns personagens que circundam Lina que merecem consideração. Sua mãe Elena, apesar de tudo o que há de ruim, é forte e amorosa; seu irmão mais novo, é terno e incapaz de entender o que se passa; um aspirante a namorado, Andrius, (Jonah Hauer-King) é separado dela pelo comando stalinista; o chefe do comando, Komarov, (Peter Franze) é um assassino implacável; e um militar subalterno com quem convive, Nicolai, (Martin Wallstrom) é sensível e um meigo contido, mas que se transforma num  carrasco suicida.

Existem momentos marcantes, como o percurso de trem para a Sibéria em que acontecem cenas repletas de poesia, ansiedade e tragédia, os sofrimentos no campo de concentração com cenas fortes de maus tratos e fuzilamentos, e o clímax do filme no Círculo Polar Ártico, hiper gelado, com um cenário de abandono completo, neve e tristeza. Mas nem tudo está perdido. Lina e seu pequeno irmão terão uma nova oportunidade de viver. Seus desenhos feitos com uma vital gota de amor poderão contar sua história.

Filme: Mary Shelley, 2017

Direção: Haifaa al-Mansour

Elenco: Elle Fanning, Douglas Booth, Bel Powley, Tom Sturridge

Onde assistir: Netflix

Enredo: O filme “Mary Shelley” conta a história biográfica de uma mulher britânica acima de seu tempo, filha de uma escritora feminista e de um editor erudito e filósofo político. Sua mãe morreu logo após o parto e Mary (Elle Fanning) vive com seu pai, sua madrasta e sua meia-irmã e confidente Claire Clairmont (Bel Powley). Em uma viagem à Escócia, Mary conhece e se apaixona pelo poeta radical e pouco convencional Percy Shelley (Douglas Booth), que já é casado. Conhece também o famoso poeta Lord Byron (Tom Stturidge), um tanto quanto libertino, com quem Claire se apaixona.

Numa fatídica noite de verão tempestuosa na villa de Lord Byron no Lago de Genebra no início do século XIX, durante uma competição de histórias de fantasmas, Mary  daria à luz uma história que continua a despertar nossa imaginação, se tornou muito popular e que foi protótipo de todos os romances de ficção científica que viriam: Frankenstein, publicado em1818. 

Comentário: Mary Shelley escreveu “Frankenstein”, um dos livros mais populares de todos os tempos. Entretanto, o filme não é sobre o monstro, mas sobre a criadora, Mary, uma mulher libertária, feminista radical, que queria fazer seu próprio destino, que trabalhava em um mundo de opressão masculina e que criou um gênero de escrita inteiramente novo, abordando os temas do abandono, da crueldade, da arrogância, dos limites do conhecimento e da natureza da criação. 

A atriz Elle Fanning tem uma serenidade inocente no papel de Mary, captura a natureza feroz da personagem e sua postura determinada neste drama robusto. Defensora do amor livre, ela sempre tem um ar de desafio, beleza delicada e uma integridade de viver e de pensar. O ator Douglas Booth é Percy Shelley, seu amante, e mais tarde marido, uma distintamente figura presunçosa e narcisista, e Tom Sturridge é o escandalosamente exagerado poeta Lord Byron, dando vazão a fantasias sexuais, personalidade ruim. Já a atriz Bel Powley se recusa a ser ofuscada no papel ingrato da irmã de Mary e amante de Byron, e se impõe com as ousadias e atitudes não convencionais da personagem Claire.

Com um foco poderoso e inovador nas duas mulheres de personalidades fortes e destemidas, o filme “Mary Shelley” propaga ideias feministas de liberdade e de idealismo romântico, ao mesmo tempo em que cultiva virtudes de compaixão e amparo. E quanto ao livro “Frankenstein”? Mary Shelley conseguiu publicá-lo graças a seu pai, um livreiro erudito. Essa obra gerou um infindável debate sobre galvanismo e experiências sobre ressurreição de corpos a partir da eletricidade, além de pautar para sempre o desejo humano pela imortalidade.  

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