Clássicos do Cinema
“Blow Up”: Realidade enigmática e imagética na vanguarda da Swinging London

“Blow Up”: Realidade enigmática e imagética na vanguarda da Swinging London

Filme: Blow Up, 1966

Direção: Michelangelo Antonioni

Elenco: David Hemmings, Vanessa Redgrave, Sarah Miles, Jane Birkin

Informações gerais

Blow-Up ( no Brasil: Blow-Up – Depois Daquele Beijo) é um filme ítalo-britânico de 1966. Foi o primeiro filme em língua inglesa do cineasta italiano Michelangelo Antonioni e conta a história do envolvimento acidental de um fotógrafo de moda com um crime de morte, baseado num pequeno conto do escritor argentino Julio Cortázar, Las Babas del Diablo, publicado em 1959, e na vida do famoso fotógrafo da época da Swinging London, o britânico David Bailey.

O filme, que conquistou a Palma de Ouro no Festival de Cinema de Cannes, foi escrito por Michelangelo Antonioni e Tonino Guerra e traz no elenco David Hemmings, Vanessa Redgrave, Sarah Miles, Jane Birkin – nas primeiras cenas de nu frontal em filme britânico dirigido ao grande público – e a supermodelo Veruschka, que interpreta a si própria e tem uma cena então considerada como o “mais sexy momento cinematográfico da história”.

O filme foi produzido por Carlo Ponti e em sua trilha sonora traz o jazz do americano Herbie Hancock e o rock dos Yardbirds, grupo britânico com Jimmy Page e Jeff Beck nas guitarras.

Cartaz de “Blow Up”, 1966

O cineasta italiano Michelangelo Antonioni

Sinopse

O filme gira em torno de um fotógrafo de moda londrino chamado Thomas (David Hemmings) que, numa manhã, após passar a noite fazendo fotografias para um livro de arte numa casa de cômodos, volta para o estúdio atrasado para uma sessão de fotos com a supermodelo Veruschka (em seu próprio papel), passa por um Parque da cidade e fotografa um casal.

A mulher das fotos, Jane (Vanessa Redgrave), furiosa de ser fotografada, o segue até seu estúdio e exige os negativos de Thomas, que lhe devolve um filme virgem. Curioso com a atitude, ao fazer seguidas ampliações (blowups) de suas fotos no local, apesar da grande granulação provocada nas imagens em preto e branco, descobre o que acredita ser um corpo e uma mão apontando uma arma entre os arbustos do Parque.

Ao cair da noite, ele volta ao parque e descobre um corpo no meio da mata, mas sem a câmara, não pode fotografá-lo e assustado com o barulho de um galho sendo pisado, deixa o local e encontra seu estúdio revirado e suas fotos roubadas, à exceção de uma grande ampliação na câmara de revelação que mostra o corpo tombado nos arbustos. Ao retornar no dia seguinte ao parque, depois de frequentar a noite londrina, ele vê que o corpo desapareceu e acaba por não ter certeza do que realmente viu e não sabe o que fazer.

O fotógrafo no Parque

As fotos ampliadas

Sobre a Swinging London

Para sentir e tentar refletir sobre “Blow Up” é preciso inicialmente entender o que foi a Swinging London, movimento cultural em várias áreas que marca todo o filme.

Swinging London é o termo comumente utilizado para se descrever a efervescência cultural e o modernismo de costumes da cidade de Londres, e dali para o mundo, durante a segunda metade dos anos 1960. Eram os anos de euforia da Europa e, principalmente, da Grã-Bretanha, com a recuperação econômica e moral do país após a Segunda Guerra Mundial, enquanto os Estados Unidos sofriam encurralados pela Guerra do Vietnã.

O termo swinging (com a conotação de vibrante, descolado, arrojado, moderno) foi usado pela primeira vez para definir a vida e os costumes da cidade pela jornalista de moda Diana Vreeland, então a poderosa editora-chefe da mais famosa revista de moda do mundo, a Vogue, que declarou que Londres era, naqueles dias, a mais vibrante e avant-garde cidade do mundo. O termo foi explicitamente ligado à cidade pela revista norte-americana TIME, em abril de 1965.

Esta foi a época em que a Inglaterra, com seu centro nervoso londrino, lançou ao mundo os mais importantes nomes da música, cinema, artes plásticas e teatrais, moda e comportamento. Os Beatles foram o seu fenômeno maior, seguidos pelos Rolling Stones, The Who, o surgimento dos Pink Floyd, que de lá ganharam os EUA e o mundo, no que ficou conhecido como a Invasão Britânica.

O poder das imagens numa realidade enigmática

O Diretor do filme Michelangelo Antonioni se utilizou das referências da Swinging London ao misturar arte, fotografia, moda, sexo, cores, protestos, drogas e rock para contar uma história de assassinato. O que importa não é o enredo em si, mas a sensibilidade e o visual psicodélico que as imagens fornecem ao espectador.

Todo o filme é imagético, ou seja, as imagens é que dão as possibilidades de significados, dentro de um contexto cultural vanguardista. E quando não se encontra significado, o filme trafega no campo das impermanências e impossibilidades, mostrando que tudo acontece e tudo passa. Ao criar o mistério de um assassinato, o filme trabalha com a capacidade das imagens de buscar a realidade. Mesmo que não haja respostas ou que não se possa fazer nada.

Além das referências culturais da década de 60, o filme não deixa passar a questão social dos desfavorecidos ao mostrar, também através de imagens fotográficas, as más condições de vida de pessoas em um albergue londrino.

O Diretor Antonioni inovou, radicalizou seu discurso estético ao vasculhar a Swinging London com seu olhar enigmático e tomadas cinematográficas complexas.

As referências da Swinging London

Os artistas de rua

A moda

A fotografia

O sexo

Os protestos

O rock

As drogas

Vazio e contestação

O mais incrível no filme é que parece que só existem artificialidades, comportamentos rebeldes e modismos querendo ser duráveis, mas que na verdade não deixam as pessoas felizes. Existe um vazio. As pessoas são estranhas, parecem impassíveis (salvo raros momentos de descontração), silenciosas ou mesmo mecânicas, nos fornecendo uma forte impressão de que estão todas numa espécie de transe interior. Os únicos personagens alegres são os artistas de rua, como se apenas eles possuem vida espontânea.

Essas questões de busca de uma vida diferente, digamos mais livres e ousadas, ou de uma vida alternativa em relação aos padrões tradicionais foram muito almejadas na década de 60. O filme todo trafega num ambiente de contestação de valores e costumes, com ar cinzento, mas também com cores que tentam dar uma tonalidade mais realista e arejada do psicodelismo da época. O curioso é que o personagem principal do fotógrafo parece um ser alienado, apenas preocupado com suas fotos num clima de prepotência. “Blow Up” apresenta uma realidade enigmática e imagética dentro da vanguarda da Swinging London.

Quanto ao assassinato no Parque, o Diretor Antonioni, com sua maestria a toda prova, nos leva para tentar desvendá-lo através de imagens fotográficas ampliadas. Sem pressa e sem se importar com isso, por puro exercício cinematográfico. No entanto, essas imagens a ampliadas é que criam um certo suspense no filme e nos deixam absolutamente fascinados com o mistério que as envolvem. Nos prende e nos faz querer fazer as perguntas habituais: Quem matou e quem morreu? Haverá solução para o caso?

Quem é o assassino?

Quem é o corpo?

O corpo sumiu, a amante do Parque também sumiu e as fotografias tiradas no local do crime foram roubadas. Sobrou uma muito granulada de pouca identificação. Só resta ao fotógrafo de moda, e não de assassinato, se resignar e também sumir da tela do filme.

Michelangelo Antonioni filmando “Blow Up”, 1966

Cenas de “Blow Up”, 1966

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