A Filha Perdida, O Bombardeiro e Mães Paralelas, três filmes que tratam de traumas da maternidade, horrores da guerra e vidas em contrastes
Filme: A Filha Perdida, 2021
Direção: Maggie Gyllenhaal
Elenco: Olivia Colman, Dakota Johnson, Ed Harris, Peter Sarsgaard
Onde Assistir: Netflix
Enredo: Uma professora universitária, Leda (Olivia Colman), confronta seu passado inquietante depois de conhecer uma família nova-iorquina, onde uma jovem mãe (Dakota Johnson), uma filha pequena e um marido ameaçador parecem viver um caos familiar. Enquanto está de férias numa pequena ilha Grega, Leda cria uma obsessão em torno dessa família meio que suspeita e desperta lembranças de sua maternidade precoce e sua relação tumultuada com as próprias filhas no passado.
Comentário: O filme é desconfortante, faz um olhar sobre o caos da vida e da natureza humana desequilibrada com uma narrativa que toca o espectador ao revelar segredos e sentimentos ocultos. O tema da maternidade, caro para qualquer mulher, é abordado em duas gerações, a da jovem mãe que vive exausta com sua vida familiar e da própria personagem principal, já de meia idade, que faz uma jornada pelo seu passado de mãe e esposa numa catarse emocional sobre seus erros. Nessa desordem de passado e de presente, o filme adentra aos recônditos mais sombrios e inexplorados da maternidade sem suavizar os sentimentos, de maneira absolutamente realista. As atuações são memoráveis. Temos a protagonista Olivia Colman com uma expressividade natural, ao mesmo tempo inconstante e digna, com certo humor apesar de internamente abalada; e temos a jovem mãe, vivida por Dakota Johnson, que apresenta maneirismos e inseguranças constantes, olhares manhosos de sofredora, ao mesmo tempo em que exala um forte fascínio. Tudo é claro, aberto, uma pura desordem do mundo real e da exclusiva condição feminina de ser mãe e também de querer ser livre.
Cenas de “A Filha Perdida”, 2021
Filme: O Bombardeiro, 2022
Direção: Ole Bornedal
Elenco: Fanny Bornedal, Alex Hogh Andersen, Bertram Bisgaard, Danica Curcic
Onde Assistir: Netflix
Enredo: A Força Aérea Britânica realiza uma missão em 1945, já em fins da segunda guerra mundial, com a finalidade de destruir o Quartel General da Gestapo nazista em Copenhagen e atinge acidentalmente uma escola cheia de crianças. Com esse pano de fundo, e enquanto a operação militar está sendo preparada, o filme mostra a vida e o destino de vários moradores em Copenhague que antecedem o bombardeio e suas consequências.
Comentário: O filme é um drama de guerra, uma história triste. O episódio do bombardeio é real e permanece até hoje na memória dos dinamarqueses pela tragédia que matou mais de cem crianças. O mais interessante no filme não é propriamente o bombardeio, mas o desenvolvimento da trama, com tons assustadores, personagens sensíveis e cenas comoventes. O filme trabalha o ambiente aterrorizante da guerra dentro de alguns personagens inusitados, mostrando as sensações da guerra sob vários ângulos. Temos os pilotos da Força Aérea Britânica com os nervos à flor da pele; uma freira católica que desdenha da fé em Deus, ao mesmo tempo em que chama nazistas de diabo; um garoto que perde a fala ao ver gente assassinada; um jovem dinamarquês que colabora com os nazistas e passa a temer o inferno; membros da resistência que sofrem torturas e que servirão de escudos humanos; duas garotas que buscam se entreter, apesar de assistirem aos horrores da guerra. Enquanto isso, os adultos estão impotentes e até mesmo resignados com a ocupação nazista, especial atenção para a dona de uma mercearia que, aos olhos dos garotos, parece um monstro, numa atmosfera de horror. Em termos visuais, o filme é irretocável, com atuações dramáticas, cenas chocantes, mas também com uma boa dose de fábula infantil sombria.
Cenas de “O Bombardeio”, 2022
Filme: Mães Paralelas, 2022
Direção: Pedro Almodóvar
Elenco: Penélope Cruz, Rossy de Palma, Milena Smit, Aitana Sánchez
Onde Assistir: Netflix
Enredo: Duas mulheres solteiras, Janis (Penélope Cruz), e Ana (Milena Smit), se encontram de maneira ocasional em um hospital onde ambas vão dar à luz. Ana, mais velha, teve gravidez planejada e está eufórica, enquanto Janis, adolescente, ficou grávida por acidente e está arrependida e traumatizada. As duas mulheres formam um forte vínculo uma com a outra, trocando confissões e desabafos que pode mudar suas vidas para sempre.
Comentário: O diretor do filme, o espanhol Pedro Almodóvar, possui um cinema impregnado de mulheres, seus tipos, seus dramas, suas afirmações, seus fracassos. No caso de “Mães Paralelas”, Almodóvar, sempre com sua paixão pelas cores em seus filmes, traça um perfil de duas mulheres, recém gestantes, com destinos e opções diferentes, mas que podem dialogar e formar uma amizade que ampara suas preocupações de vida. Janis é uma jovem fotógrafa que teve uma filha de uma violência sexual, sem apoio familiar e cujo avô, um ativista político contra o fascismo na Guerra Civil Espanhola, não teve um enterro decente. Aqui há uma clara alusão do diretor Almodóvar do ser político, de que viver já é um ato político, assim como amar e sentir. Em contraposição, temos Ana, a outra mãe, uma profissional independente que desejou a gestação. Brincando com os contrastes ao chocar dois mundos opostos, o filme foca no dilema entre honestidade e hipocrisia, no fazer escolhas com o cuidado de não nos direcionar para o oposto de nossos princípios. Ao abordar a maternidade como uma eternização do político de viver, o filme aponta o perigo da subjetividade para definir opções e rumos. Janis não pode apagar o destino de sua filha assim como apagaram a memória de vida de seu avô.
Cenas de “Mães Paralelas”, 2022
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