Filme “O Jogador” de Robert Altman, 1992
Créditos do filme
Filme: O Jogador, 1992
Direção: Robert Altman
Produção: Cary Brokaw, David Brown
Roteiro: Michael Tolkin
Cinematografia: Jean Lepine
Montadores (Editores): Geraldine Peroni, Maysie Hoy
Música: Thomas Newman
Cenografia: Susan Emshwiller
Elenco: Tim Robbins, Fred Ward, Whoopi Goldberg, Peter Galagher, Greta Scacchi
Esquemas, ameaças, intrigas e funcionalidades: O lado sombrio de Hollywood
Sobre o enredo do filme
Um executivo de uma produtora de filmes de Hollywood, Griffin Mill (Tim Robbins), passa por momentos de fracassos de bilheteria e começa a receber ameaças de morte anônimas. Paralelamente, ele observa a ascensão do estúdio concorrente. Tentando resolver as ameaças, Griffin acaba cometendo um assassinato contra um roteirista rejeitado e faz de tudo para encobrir seu ato hediondo das investigações policiais.
O filme é uma crítica aos esquemas hollywoodianos que visam antes de tudo poder e lucros dos estúdios, cada um por si numa selva de rivalidades, intrigas, discriminações, lutas entre concorrentes, ameaças. Enfim, o lado sombrio de Hollywood com uma ironia implacável. Como de costume nos filmes do Diretor Robert Altman, muitos personagens circulam na trama e diversos atores fazem pontas especiais.
O executivo e seus esquemas
Sobre o Diretor do filme
Robert Bernard Altman (Kansas City, Estados Unidos,1925 – Los Angeles, Califórnia, Estados Unidos, 2006) foi um cineasta norte-americano. Seu cinema foi caracterizado por críticas ferozes à sociedade americana. Tratou de guerra, família e valores, hipocrisias, classes sociais, o universo musical do country, comportamentos e política, e também mostrou o lado sombrio de Hollywood. Seus filmes eram cheios de personagens diferenciados (uma fauna americana), com sátiras, reflexões morais, ironia e crises de comportamento.
Filho de um corretor de seguros endinheirado e jogador, Altman foi educado em escolas jesuítas de Kansas City e diplomou-se em matemática. Em 1945, aos 20 anos de idade, participou da Segunda Guerra Mundial como piloto de bombardeiros. Enquanto servia na Força Aérea na Califórnia, teve pela primeira vez o contato com o mundo da produção cinematográfica de Hollywood. No ano seguinte, passou a residir em Los Angeles, enquanto se preparava para lançar-se como diretor de cinema.
Seus trabalhos mais conhecidos são os filmes MASH, de 1970, uma sátira à Guerra da Coreia que ganhou o Grand Prix no Festival de Cannes, Nashville, de 1975, onde mistura música, comportamento e política, Cerimônia de Casamento, de 1978, uma crítica mordaz aos valores, moral e máscaras da sociedade americana, e Short Cuts, de 1993. Faleceu em 2006, aos 81 anos, em Los Angeles, Califórnia, de falência respiratória provocada por um câncer.
O cineasta Robert Altman
Os personagens principais do filme
Tim Robbins como o executivo ameaçado
Greta Scacchi como a namorada do roteirista assassinado
Whoopi Goldberg como a investigadora
Navegando no filme
No começo do filme temos um prodigioso plano-sequência que apresenta a fauna natural dos estúdios de Hollywood feita de figuras consagradas, assistentes assoberbados, administradores calculando possíveis lucros, visitantes deslumbrados, gravatas e conversas de bastidores, aspirantes ao estrelato, roteiristas em busca de um filme e executivos inquietos. Parece um caos. Nesse clima, o diretor Robert Altman direciona seu irônico olhar cinematográfico.
O protagonista é Griffin Mill (Tim Robbins), engravatado que passa seus dias ouvindo histórias de roteiristas ávidos por notoriedade. Um deles, cuja ideia foi renegada no passado, sem ao menos uma satisfação, começa a enviar cartões postais o ameaçando ostensivamente, de maneira cada vez mais agressiva. Em meio à possibilidade de perder seu lugar para um executivo jovem que desponta na concorrência, Griffin sai à caça de seu algoz.
A crise do executivo
Robert Altman faz de seu personagem principal um homicida, colocando na mesa a culpa como elemento importante. Griffin tem medo de ser pego, de amargar na cadeia, perdendo, assim, seu posto avançado no mercado. Sua consciência e moralidade parecem atrofiadas pelos anos de serviços prestados à indústria construída sobre cinismo e hipocrisia.
Outras duas personagens são importantes: June Gudmundsdottir (Greta Scacchi), a namorada do roteirista assassinado, por quem Griffin não tarda a se encantar, tem pitadas de erotismo, dimensão ampliada mais adiante na tórrida cena de sexo. E a investigadora interpretada por Whoopi Goldberg se encarrega da parte cômica desse filme que constantemente muda seu olhar, justo para honrar as possibilidades narrativas do cinema.
Robert Altman lança mão de seu conhecimento do seio hollywoodiano para mostrar como são pensados os êxitos, como funciona a máquina de Hollywood e qual a relevância dada à arte em meio às cifras astronômicas, sem com isso esvaziar os personagens. A crítica de Robert Altman se torna ainda mais mordaz quando ele alinha os conceitos de final feliz e impunidade.
O executivo numa sala policial de reconhecimento de suspeitos
Do ponto de vista cinematográfico, um encerramento alegre tende a atrair mais público pagante, ou seja, é a prioridade dos estúdios sedentos por gordas bilheterias. Ao se livrar do fantasma da acusação, o protagonista de O Jogador conquista a mulher desejada, além de ascender a uma posição profissional proeminente. Como se fosse um final feliz de um filme.
Trabalhando sobre o próprio cinema em que faz algumas homenagens e numa trama de crime, o filme mistura drama, um pouco de comédia e suspense. Altman aborda o sistema hollywoodiano em que ele próprio esteve inserido, não como um soldado obediente, mas na condição de crítico imparável. Robert Altman golpeia Hollywood, ferindo-a com suas próprias garras, sem perder sua personalidade e classe.
Robert Altman filmando “O Jogador”, 1992
Cenas de “O Jogador”, 1992
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