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O cinema de Woody Allen: Um olhar sobre conflitos humanos e à propósito da arte

O cinema de Woody Allen: Um olhar sobre conflitos humanos e à propósito da arte

Um pouco de sua vida e seu perfil

Woody Allen, um judeu nascido Allan Stewart Konigsberg em 1935, no bairro do Brooklyn em Nova York, é um diretor de cinema, escritor, ator e comediante americano cuja carreira se estende por mais de seis décadas e vários filmes vencedores do Oscar. Nas horas vagas, desde a sua mocidade, além de pensar na morte como ele próprio já declarou, Allen toca clarinete em casa, bares e com uma banda de jazz chamada The Eddy Davis New Orleans Jazz Band, com a qual já fez muitas turnês.

Allen, que declarou ter sido um péssimo aluno no Colégio, sempre foi fã de beisebol, basquete, jogos de cartas, mágica, jazz, filmes de gângters, musicais de Fred Astaire e tem medo de doenças e do escuro. A despeito de comentários constantes da mídia e de analistas de sua obra cinematográfica, literária ou teatral que o considera um intelectual, Allen sempre desmentiu isso. Em sua autobiografia lançada em 2020, ele disse que a sua vida e obra, e também seu sucesso (que ele acha que não é tanto), era uma mistura de trabalho duro e muita sorte.

Na comédia, Allen foi influenciado pelos Irmãos Marx, especialmente pelo Groucho e seu bigode extravagante, e os comediantes Bob Hope e Milton Berle; na literatura, pelo dramaturgo Tennessee Williams, e sua obra prima Um Bonde chamado desejo e escritores russos; e no cinema pelos mestres Federico Fellini e Ingmar Bergman. Allen mesclou essas influências e construiu uma carreira artística com uma persona tímida, submissa, fracassada, insegura, questionadora, existencialista, circense e inquieta.

O jovem Woody Allen, fanático por beisebol, e com seu eterno instrumento de trabalho

O Início da carreira artística

Woody Allen, que segundo ele próprio poderia ter sido jogador de beisebol, mágico e jogador de cartas, começou sua carreira como escritor de sketches (esboços) para colunas de jornais em Nova York, já com o pseudônimo que se tornou a sua marca, pois alegava que seu sobrenome Stewart Konigsberg era impraticável.

Em seguida, trabalha no programa de variedades de comédias de Sid Caesar, Your Show of Shows, ao lado de nomes que despontariam como Mel Brooks, Carl Reiner, Larry Gelbart e Neil Simon. Ele também começou a escrever material para a televisão, publicou livros com contos e escreveu peças de humor para a revista The New Yorker

Praticando muita a escrita e desenvolvendo seu lado cômico, atuou no início dos anos 1960 como comediante stand-up em Greenwich Village, Nova York, ao lado de artistas como Lenny Bruce, Elaine May, Mike Nichols e Joan Rivers. A comédia stand-up é uma comédia de desempenho e narrativa pela qual um comediante se comunica com uma platéia ao vivo, falando diretamente com ela por meio de um microfone.

Nesse ramo, Allen desenvolveu um estilo de monólogo (em vez de piadas tradicionais) e lutou contra sua timidez e seu medo que embrulhava o estômago. Teve algum sucesso e construiu relacionamentos e contatos no show business.

Sua sorte grande, como ele próprio diria, foi fazer o roteiro do filme “O Que é que há Gatinha”(What’s New Pussycat?), de 1965, onde ele teve que escrever diariamente em uma máquina antiga de datilografia, que, aliás, é um tipo de máquina que nunca abandonou. Nesse filme, Allen também fez uma ponta como ator. O filme fez sucesso e Woody Allen, mas tarde, ganharia a oportunidade de fazer seu próprio filme.

Devido à extensa filmografia de Woody Allen, este artigo vai navegar por sua carreira selecionando alguns importantes filmes, de acordo com sua temática e fase distinta.

Woody Allen em comédias de Stand-Up e sua primeira experiência com o cinema

Comédias pastelão, Diane Keaton e toque autoral

Woody Allen estreou como Diretor de cinema com o filme “Um Assaltante Bem Trapalhão” (Take The Money And Run), de 1969. Allen não tinha conhecimento técnico de fazer filme. Sobre isso, ele declarou que bastava saber o que queria ver na imagem e colocar a câmera no lugar certo, depois é só ir deslocando-a. Parece simples não é? Bem, a partir daí sua carreira foi se deslanchando com algumas fases distintas.

Depois da estréia, em sua primeira fase no cinema nos anos 70, Woody Allen realizou quatro filmes, que poderíamos rotular sem desmerecimento de comédia pastelão: A sátira política “Bananas”, de 1971; uma homenagem ao filme Casablanca e a Humphrey Bogart com “Play It Again” (este não é uma comédia pastelão), de 1972, em que não dirige, mas roteiriza e atua; o despudorado e debochado filme sexual em “Tudo o que você sempre quis saber sobre sexo mas tinha medo de perguntar”, de 1972; a ficção científica de humor, “O Dorminhoco”, de 1973; e uma paródia histórica chamada “A Última Noite de Boris Grushenko”, de 1974.

A maioria deles contou com a participação de Diane Keaton, companheira de vida e atriz principal de seus filmes nos anos 70.

Primeiro filme dirigido por Woody Allen e o filme em que ele homenageia “Casablanca”, com Diane Keaton

Woody Allen começou a impor seu estilo de cinema no premiado filme “Annie Hall”, de 1977, vencedor dos Oscars de filme, direção, roteiro e atriz (para Diane Keaton). “Annie Hall” é até hoje um dos maiores sucessos de sua carreira e também um dos mais conhecidos e citados. Woody, um avesso confesso a badalações sociais e a prêmios, não foi receber seus Oscars, preferiu tocar jazz no famoso Michael’s Bar em Nova York.

A partir de “Annie Hall”, Woody foi filtrando sua pauta de assuntos e preocupações daí para frente: personagens com ambições artísticas, mas muitas vezes insatisfeitos e fracassados; a mortalidade e o sentido da vida; mulheres independentes; conflitos conjugais, geralmente irreparáveis; adultérios corriqueiros, divórcios e traições de todo tipo; a sorte e o azar em relação ao destino; uma certa claustrofobia; neuroses urbanas e o divã psicanalítico.

O premiado “Annie Hall”, seu primeiro filme autoral

Cenas de Annie Hall, 1977

Em 1979, Woody realizou um de seus filmes mais estimados e vistos, “Manhattan”, que é uma carta de amor a Nova York, seu habitat apaixonado e local de vários de seus filmes.

 Woody não gostou do filme e propôs ao chefão da produtora não exibi-lo. Mas ele estava enganado de si mesmo, “Manhattan” foi um sucesso e é uma comédia romântica que conta a história de um frustrado escritor de meia-idade divorciado (Woody Allen) que se sente em uma situação constrangedora onde sua ex-mulher (Meryl Streep) o largou para ficar com outra mulher, e, além disso, está para publicar um livro, no qual revela assuntos muito particulares do relacionamento deles. Neste período ele está apaixonado por uma jovem de 17 anos (Mariel Hemingway), que corresponde a este amor.

No entanto, ele sente-se atraído por uma pessoa mais madura (Diane Keaton), a amante do seu melhor amigo (Michael Murphy), que é casado.

Manhattan, 1979

Cenas de Manhattan, 1979

Homenagens a mestres do cinema, Mia Farrow e temática feminina

Na década de 80, Woody Allen esteve muito ativo e criativo. Realizou três filmes em homenagem aos seus mestres Federico Fellini e Ingmar Bergman. O primeiro foi “Stardust Memories”, em 1980, uma alusão ao clássico “8 e 1/2” do cineasta italiano, onde um diretor de cinema enfrenta uma crise criativa para realizar seu próximo filme. Em “Memórias”, temos um diretor (Woody Allen) que, ao sofrer uma crise emocional pela morte de um jovem amigo, participa de um festival e faz um filme de drama existencial que é rejeitado pelos produtores.

O segundo filme considerado felliniano é “A Era do Rádio”, de 1987, que homenageia o filme da infância e adolescência de Fellini, “Amarcord”. No caso do filme de Woody, é um olhar nostálgico sobre a era de ouro do rádio nos Estados Unidos, nas décadas de 40 e 50, com foco em uma família judia comum e os vários artistas do meio radiofônico. Conta as lembranças de infância de um garoto durante a Segunda Guerra Mundial, permeada pelos programas de rádio da época.

O terceiro foi “A Outra”, de 1988, em que homenageia os filmes de fortes personagens femininos do mestre Ingmar Bergman. Aqui, Woody Allen acompanha uma professora de filosofia Marion Post (Gena Rowlands) que aluga um apartamento para trabalhar em seu novo livro. Logo percebe que pode ouvir na sala ao lado, que abriga o consultório de um psiquiatra. Marion fica cativada pelas sessões de uma paciente chamada Hope (Mia Farrow). Enquanto Hope fala sobre suas emoções e questões existenciais, Marion começa a reavaliar sua vida. Ela percebe que sua frieza a afastou de amigos e familiares, e ela perdeu a chance de um amor verdadeiro

“Memórias”, 1980, e “A Era do Rádio”, 1987, dois filmes em homenagem a Federico Fellini, e “A Outra”, 1988, uma homenagem a Ingmar Bergman

Cenas do filme ” Stardust Memories”

Outro grande filme de Woody Allen na década de 80 foi o inesquecível “A Rosa Púrpura do Cairo”, de 1985, talvez seu melhor filme até hoje. O filme conta com a atuação da atriz Mia Farrow, que era a nova companheira de Woody, e que realizaria com ele mais de dez filmes. Depois houve uma separação, com grande turbulência judicial e emocional.

“A Rosa Púrpura do Cairo” é um belo drama de fantasia e uma homenagem ao cinema, conta a história da desajeitada e sensível garçonete Cecília (Mia Farrow), em uma área pobre de Nova Jersey, casada e infeliz na era da Depressão econômica americana na década de 30, que sustenta um marido bêbado, violento e desempregado Monk (Danny Aiello). 

Para amenizar a solidão e a tristeza, Cecília foge para o cinema em sessões seguidas e fica paralisada com o filme “A Rosa Púrpura do Cairo”, especialmente com seu personagem principal, o arqueólogo Tom Baxter (Jeff Daniels). Quando Tom magicamente sai da tela em preto em branco para o mundo real colorido e entra em sua vida amorosa, ambas as realidades são lançadas numa verdadeira confusão. Aqui temos uma linha tênue entre realidade infeliz e fantasia contagiante.

A Rosa Púrpura do Cairo, 1985, e a personagem Cecília na sessão do cinema

Cenas de A Rosa Púrpura do Cairo, 1985

“Hannah e suas Irmãs”, de 1986, foi outro sucesso de Woody Allen na década de 80, também ganhador de Oscar.

 É uma comédia romântica em um universo predominantemente feminino. Conta a história de três irmãs, Hannah, Lee e Holly, que se reúnem para uma festa do Dia de Ação de Graças. As coisas mudam quando Hannah (Mia Farrow) descobre que seu marido está secretamente tendo um caso com sua irmã Lee.

Muitas confusões acontecem e os relacionamentos são cada vez mais conflitantes, dramáticos, mas também engraçados. Mais uma forte atuação de Mia Farrow. O filme contou também com uma participação do ator Max Von Sydow, o preferido do ídolo de Woody Allen, Ingmar Bergman.

Hannah e suas Irmãs, 1986

Cenas de Hannah e suas Irmãs, 1986

Filmes de gostos, influências de vida e de crises existenciais

Woody Allen navegou por narrativas diferenciadas ao longo de sua carreira, muitas vezes rebuscando seus gostos e influências de vida. Diante disso, abordaremos três filmes que Woody realizou falando de assuntos que desde sempre fizeram parte de sua vida: gângsters, jazz e magia

Em 1994, Woody filmou “Tiros na Broadway”, um filme policial de gangsters e de humor negro. Se passando no final dos anos os 20 em Nova York, David Shayne (John Cusack), um jovem dramaturgo idealista recém-chegado à Broadway, se encontra em um dilema quando relutantemente tem que escalar a namorada sem talento de um gangster (Joe Vitereli) para conseguir fundos para seu empreendimento inicial.

O mais incrível e engraçado é que um capanga da máfia Cheech (Chazz Palminteri), guarda-costas da namorada do chefe, vai aos ensaios da peça teatral e se torna o roteirista principal, empolgando a todos. Um ótimo filme de Woody, um dos seus melhores.

Em 1999, Woody filmou “Poucas e Boas”, onde conta a história de Emmeth Ray (Sean Penn), um famoso guitarrista de jazz que alcançou sucesso na década de 1930, mas que desapareceu da vista do público em circunstâncias misteriosas. Apesar de ser um músico talentoso, a vida pessoal de Ray é um desastre.

Ele é um cafetão gastador, mulherengo e que acredita que a queda no amor vai arruinar a sua carreira musical. No entanto, sua afeição por uma mulher muda e seu subseqüente casamento com uma rica socialite mudam seus pontos de vista.

Por fim, em 2001, Woody trata de magia e hipnose com o filme “O Escorpião de Jade”. Ambientado nos anos 40, conta a história de Briggs (Woody Allen), um investigador de seguros que odeia Betty Ann Fitzgerald (Helen Hunt), uma nova funcionária de sua empresa que o enfrenta com novas estratégias de trabalho. Suas vidas mudam quando um mágico vilão os hipnotiza para realizar seus planos malignos de roubar jóias. A confusão reina.

Tiros na Boradway, 1994, Poucas e Boas, 1999, e O Escorpião de Jade, 2001

Cenas de Tiros na Broadway, 1994

Em outras ocasiões, Woody Allen tratou de temas que o perturbam constantemente, como assassinatos, crises conjugais, a morte, o vazio da existência. Temos uma boa mostra desses assuntos em três filmes a seguir, realizados na década de 90.

Em 1991, foi lançado “Neblina e Sombras”. O filme, rodado em preto em branco, é uma homenagem ao cinema expressionista alemão em sua configuração visual e ao escritor Franz Kafka no tema. O enredo acompanha Kleinman (Woody Allen), um contador covarde, que recebe a tarefa de encontrar um assassino perigoso que está à solta. 

Quando certas evidências circunstanciais apontam para ele, ele deve provar sua inocência.  O filme mostra o lado sombrio e obscuro da vida e das pessoas, mistura humor e suspense, contando a história de um homem que é confundido com um serial killer.

Em 1992, Woody Allen filma “Maridos e Esposas”, um filme que ele gostou de ter feito e que aborda crises conjugais. Na trama, Gabe (Woody Allen) e sua esposa, Judy (Mia Farrow), ficam chocados ao descobrir que seus melhores amigos, Sally (Judy Davis) e Jack (Sydney Pollack), estão se separando. Eles não apenas não viram o rompimento chegando, mas os fez começar a questionar seu próprio relacionamento. Daí, acontecem confusões nos relacionamentos e traições.

Em 1997, Woody rodou um filme existencialista e cheio de dramas pessoais chamado “Desconstruindo Harry”. O filme apresenta Harry Block (Woody Allen), um autor que sofre de bloqueio de escritor. Sua vida se torna miserável quando personagens reais e fictícios de seus livros começam a assombrá-lo, gerando distúrbios psicológicos e problemas com pessoas ao seu redor. Neste filme, Woody cria uma das cenas mais incríveis e hilariantes de seu cinema, quando o personagem Harry vai ao inferno de elevador discutir com o Diabo (Billy Crystal) sobre maldades e o amor verdadeiro.

Neblina e Sombras, 1991, Maridos e Esposas, 1992, e Desconstruindo Harry, 1997

Cenas de Desconstruindo Harry, 1997, onde o personagem de Woody vai ao inferno

Woody Allen na Europa

Nos anos 2000, Woody Allen voou para a Europa para rodar alguns filmes. Com dificuldades para continuar filmando nos Estados Unidos, e mais especialmente em Nova York, Woody foi para o velho continente onde sua obra tem mais público e é mais reconhecida, mais admirada. Deu muito certo. Fez três filmes ótimos em Londres, Paris e Roma, conseguindo boas bilheterias e boas críticas.

O primeiro, rodado em Londres, foi “Match Point”, de 2005, um drama romântico. No filme, um professor de tênis (Jonathan Rhys Meyers) conhece Chloe (Emily Mortimer), jovem de família rica, e inicia relacionamento. Um pouco antes se apaixona por Nola (Scarlett Johansson), namorada do irmão da Chloe, com a qual mantém um romance paralelo e sexualmente tórrido. Interessado na fortuna da família de Chloe, Jonatham precisa se livrar de Nola, que fica grávida.

A história é uma fábula sobre o papel que a sorte desempenha no destino. Este filme é fortemente influenciado por Dostoyevski, do romance Crime e Castigo.

O segundo é “Meia Noite em Paris”, de 2011, uma comédia de fantasia. O filme conta a história de Gil Pender (Owen Wilson), um roteirista de Hollywood insatisfeito e desiludido, e sua noiva Inez (Rachel McAdams) que estão em Paris de férias. Gil está lutando para terminar seu romance de estréia.

Ele é seduzido pela cidade e, à meia noite, vive uma fantasia de voltar no tempo para o passado da Paris dos anos 20 e também para a Belle Époque do século XIX. Lá, ele conhece e convive com cineastas, pintores, musas e seus escritores favoritos. Com um show de imagens lindíssimas de Paris, a cidade luz, o filme nos cativa do início ao fim com uma história fascinante e nostálgica.

O terceiro é “Para Roma com Amor”, de 2012, sobre alguns contos situados na romântica cidade de Roma, a cidade eterna. As histórias são entrelaçadas: um trabalhador comum (Roberto Benigni) que, quando acorda, encontra-se como uma celebridade sob holofote; um arquiteto (Alec Baldwin) que faz uma viagem de volta à rua que ele viveu como um estudante e acompanha as angústias românticas de um jovem (Jesse Einsenberg); um jovem casal em sua lua de mel com interlúdios românticos separados (Alessandro Tiberi e Alessandra Mastronardi), e um diretor de ópera frustrado (Woody Allen) que tem uma tarimba para descobrir cantores talentosos, no caso um agente funerário que canta no banheiro. Um filme belo e engraçado, um Woody Allen em plena forma.

Match Point, 2005, Meia Noite em Paris, 2011, e Para Roma com Amor, 2012

Cenas de Meia Noite em Paris, 2011

Filmes tristes, mas grandiosos

Antes de ter um período de muita agitação negativa, bombardeado por tablóides e por movimentos em defesa das mulheres, quando sofreu acusações de abuso sexual que teria cometido contra sua filha, e, segundo relatórios judiciais, sem provas concretas, Woody realizou dois filmes tristes, mas poderosos. O primeiro foi “Blue Jasmine”, de 2013, e o segundo foi “Roda Gigante”, de 2017.

“Blue Jasmine” conta a história de uma socialite de Nova York, Jasmine (Cate Blanchet), que depois que seu casamento com um rico empresário (Alec Baldwin) desmorona, foge para São Francisco e vai morar no modesto apartamento de sua irmã cafona, Ginger (Sally Hawkins). Sem luxo e dinheiro e num estado emocional muito frágil, ela tenta recomeçar a vida sem qualquer experiência de trabalho.

O filme é triste e pessimista, onde a personagem principal permanece sem perspectiva de vida. A atriz Cate Blanchet ganhou o Oscar de melhor atriz por sua espetacular atuação como a rica que virou uma pobretona.

Anos depois, Woody faria “Roda Gigante”, em 2017, que ele considera seu melhor trabalho no cinema, fato afirmado em sua autobiografia de 2020. O filme tem uma linda fotografia e uma ambientação de época sublime.

Narra as vidas de quatro pessoas que se entrelaçam em meio à agitação do parque de diversões de Coney Island (região litorânea de Nova York) na década de 1950: Ginny (Kate Winslet), uma ex-atriz emocionalmente instável que agora trabalha como garçonete em uma casa de mexilhões; Humpty (Jim Belushi), o rude marido de Ginny, operador de carrossel; Mickey (Justin Timberlake), um jovem salva-vidas bonito que sonha em se tornar um dramaturgo; e Carolina (Juno Temple), a filha há muito afastada de Humpty, que agora está se escondendo de gângsteres no apartamento de seu pai.

Blue Jasmine, 2013, e Roda Gigante, 2017

Cenas de Roda Gigante, 2017

Assédio, universo feminino e contribuição

Devido às acusações de assédio sexual que teria cometido contra sua filha, que não foram provadas na justiça, Woody Allen teve problemas para conseguir financiamentos para seus filmes, foi até mesmo literalmente boicotado por produtores, atores e atrizes. Passou um tempo sem filmar, algo inusitado porque geralmente fazia um filme a cada ano. Fez algum trabalho no teatro e escreveu sua autobiografia, lançada em 2020. Nela, Woody conta sua vida pessoal e artística, e rebate as acusações contra ele. Para maiores detalhes, leiam sua autobiografia.

É bom assinalar que Woody sempre trabalhou com dedicação o universo feminino em seu cinema, assim como também seu ídolo Ingmar Bergman. Deu voz ativa às mulheres em grandes papéis em seus filmes. E ainda mais, boa parte da equipe técnica de suas produções é composta por mulheres. Teve alguns romances ao longo da vida e há muito tempo está estabilizado emocionalmente, casado com sua ex-filha adotiva, o que gerou muitos comentários nos tablóides.

Para finalizar, Woody Allen, aos 85 anos, continua ativo e é um dos grandes artistas do século XX, lidando com muito empenho os dilemas da modernidade e da mortalidade. E se mantém importante no século XXI. A despeito de suas crenças pessimistas sobre que a vida não tem sentido, que é tudo uma terrível luta de dores e sem final feliz, a sua arte o manteve vivo até hoje e nos faz sorrir e refletir.

Woody Allen filmando e tocando com sua banda de jazz

 

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