Movimentos Cinematográficos
O cinema no México e na Holanda: Moral, fantasia, realismo e modernidade

O cinema no México e na Holanda: Moral, fantasia, realismo e modernidade

O cinema no México

O apogeu do cinema do México se deu no período de 1936 a 1969 que ficou conhecido como Era de Ouro do Cinema Mexicano, quando a indústria cinematográfica do país alcançou elevados níveis de qualidade na produção e sucesso econômico de seus filmes, além de ganhar um grande reconhecimento internacional. Foi neste período que a indústria cinematográfica mexicana se tornou o centro de produção de filmes em língua espanhola.

É nessa época que surgem atores e atrizes que ganharam mundo, tais como Pedro Infante, Jorge Negrete, Cantinflas e Dolores del Río. E também diretores de renome como Fernando de Fuentes, Emilio Fernández e Luis Buñuel que realizaram alguns dos filmes mais importantes do México.

Os temas dos filmes desses anos, embora na maior parte apresentados no formato de dramas ou comédias convencionais, tocaram todos os aspectos da sociedade mexicana, desde o ditador do século XIX, Porfirio Díaz e a sua corte, até histórias de amor, sempre manchadas pelo drama. Além disso, o boom do cinema mexicano estava relacionado a um crescimento econômico e prosperidade sem precedentes no país.

Nas décadas seguintes, uma nova geração de cineastas surgiu no cinema mexicano que chamou a atenção de Hollywood. Foi uma geração que buscou a modernidade, trabalhou as contradições da sociedade mexicana e também resgatou a fantasia. Os principais nomes foram: Alfonso Cuarón, Guillermo del Toro e Alejandro González Iñárritu.

O cineasta Fernando de Fuentes foi um dos grandes artistas do cinema mexicano. Ele é considerado um pioneiro do cinema sonoro no México e da Era de Ouro do cinema de seu país. Em 1936, realizou o drama romântico “Rancho Grande”, o primeiro filme mexicano a conquistar um prêmio internacional, o Leão de Ouro no Festival de Veneza. Fernando de Fuentes é descrito como “o John Ford mexicano”. Sua filmografia abrange quase todos os diferentes gêneros, desde drama, comédia, terror, família, histórico, até clássicos e documentários.

“Rancho Grande”, 1936, e o cineasta Fernando de Fuentes

Cenas de “Rancho Grande”, 1936

O cineasta Emílio Fernandez foi outro dos grandes diretores da Era de Ouro do cinema mexicano, além de ter sido também um ótimo ator. Seu filme “Maria Candelária”, de 1943, venceu o Festival de Cinema de Cannes e lançou para o mundo a atriz Dolores del Rio. Fernandez desenvolveu seu próprio estilo, que teve tanto efeito na indústria que sua representação do México rural se tornou um padrão para a indústria cinematográfica e também a imagem do México no mundo. O filme “Maria Candelária” conta a história de um casal de camponeses de Xochimilco, no México, que não consegue viver seu amor em paz devido ao ódio dos habitantes do povoado.

“Maria Candelária”, 1943, e o cineasta Emílio Fernandez

Cenas de “Maria Candelária”, 1943

Um terceiro importante cineasta da Era de Ouro do cinema mexicano foi Luís Bünuel, que se tornaria uma celebridade do cinema mundial com filmes rodados também na Espanha e na França e muitos prêmios internacionais. Bünuel teve forte influência do surrealismo e manteve sempre uma abordagem um tanto escandalosa em temas como marginalidade, moral, burguesia e religião. Em sua fase mexicana, Bünuel rodou alguns filmes, dentre eles o impactante “Nazarin”, de 1958. Nesse filme, Bünuel insere elementos anticlericais ao contar a história de um Padre caridoso que perde a batina ao conviver com uma prostituta acusada de homicídio.

“Nazarin”, 1958, e o cineasta Luís Bünuel

Cenas de “Nazarin”, 1958

Depois de sua Era de Ouro, o cinema mexicano se renovou nas décadas seguintes. Surgiu uma nova geração de cineastas que fizeram sucesso no México e depois partiram para Hollywood onde também se consagraram. Citaremos três cineastas do moderno cinema mexicano que ganharam o mundo: Alfonso Cuarón, Guilherme Del Toro e Alejandro González Iñárritu.

Alfonso Cuarón estreou na direção em 1991 com o longa metragem “Só Com Você”. O filme só foi lançado no México depois que fez sucesso em festivais internacionais. Conta a história de  Tomás, um solteirão mulherengo que trabalha em publicidade e descobre que tem AIDS, mas, na verdade, é um laudo falsificado por uma amante enciumada. Depois desse sucesso, Alfonso Cuarón se tornou um cineasta de renome em Hollywood e um de seus filmes mais famosos é “Roma”, de 2018. Também dirigiu um filme da saga de Harry Potter.

“Só Com Você”, 1991 e o cineasta Alfonso Cuarón

Cenas de “Só Com Você”, 1991

Outro grande cineasta da nova geração do cinema mexicano é Guillermo del Toro. Desde jovem se interessou por cinema. Seu primeiro sucesso como diretor foi “Cronos”, de 1993, uma fantasia de terror, filme que ganhou nove prêmios no México e se tornou um sucesso no Festival de Cannes. O cinema de Guillermo del Toro trabalha com elementos de contos de fada, mistura fantasia e horror para tratar da realidade e seus personagens são estranhos, marginalizados e imaginários. Seus maiores sucessos em Hollywood foram: “O Labirinto do Fauno”, de 2006, e “A Forma da Água”, de 2017.

“Cronos”, 1993, e o cineasta Guillermo del Toro

Cenas de “Cronos”, 1993

Alejandro González Iñárritu partiu para o cinema na década de 90 e se especializou em curtas metragem sobre as contradições da sociedade mexicana. Estreou na direção de longa metragem com “Amores Brutos”, de 2000, com o qual ganhou prêmios internacionais. Esse filme abriu as portas de Hollywood para o seu cinema onde realizou dois filmes expressivos que lhe renderam dois Oscar de direção: “Birdman”, de 2014, e “O Regresso”, de 2015. “Amores Brutos” é um filme sem redenção moral onde um acidente de carro junta três estranhos que lutam para lidar com as duras realidades da vida.

“Amores Brutos”, 2000, e o cineasta Alejandro González Iñárritu

Cenas de “Amores Brutos”, 2000

O cinema na Holanda

O cinema holandês gozou de um período florescente durante a Primeira Guerra mundial pois o país manteve-se neutro e não foi afetado pela guerra. Naqueles anos, as produições holandesas tinham predominãncia de diretores que fugiam da guerra. No entanto, durante a II Guerra Mundial a Holanda não teve a mesma sorte e o país foi temporariamente ocupada pelos nazistas, usando o seu cinema com fins de propaganda.

Após a II Guerra Mundial, o cinema holandês perdeu o impulso que estava tendo com filmes de propaganda, mas testemunhou a vinda de grandes diretores de documentários e a organização do cinema em entidades com a criação de academias e fundações de filmagens. Nesses anos, durante a década de 50, diretores como Bert Haanstra ganhou fama com filmes como “Fanfare”, de 1958, vencedor do Oscar.

“Fanfare”, 1958, e o cineasta Bert Haanstra

Cenas de “Fanfare”, 1958

Durante as décadas de 70, 80 e 90, três grandes cineastas holandeses despontaram com muito vigor artístico e autoral: Paul Verhoeven, Jos Stelling e Fons Rademakers. Eles impulsionaram o cinema na Holanda de tal forma que as produções tiveram repercussão internacional. Paul Verhoeven se sobressaiu com o filme “Soldado de Laranja”, de 1977, e depois ganhou fama e passou a dirigir filmes de sucesso em Hollywood como “Robocop”, de 1987, e “Instinto Selvagem”, de 1992. No seu filme “Soldado de Laranja”, Paul Verhoeven aborda o movimento de resistência contra a ocupação nazista na Holanda. Seu cinema sempre foi caracterizado pelo uso da violência e pela crueldade da realidade, trafegando por diversos gêneros do cinema.

“Soldado de Laranja”, 1977, e o cineasta Paul Verhoeven

Cenas de “Soldado Laranja”, 1977

Jos Stelling é outro grande cineasta holandês. Ele fez sua estreia como diretor de cinema em 1974. Mas foi na década de 80 que ele surpreendeu ao fundar a Dutch Film Days, um festival de filmes holandeses para dar aos diretores a possibilidaade de exibir seus filmes. Em 1986, ele lançou o excepcional “O Homem da Linha”. O filme aborda o silêncio das relações, jogo de sedução e a necessidade da convivência mútua. Conta a história de uma mulher que desce na estação errada de trem, se depara com o homem responsável pelo local e ambos são obrigados a se relacionar de alguma maneira. Um filme estranho, poético e sensível.

“O Homem da Linha”, 1986, e o cineasta Jos Stelling

Cenas de “O Homem da Linha”, 1986

Fons Rademakers foi um dos mais importantes realizadores dos Países Baixos, vencedor de um Oscar de melhor filme estrangeiro com “O Ataque”, de 1986. Começou a sua carreira como ator em Amsterdãm durante a Segunda Guerra Mundial, e só mais tarde começou a realizar filmes. Estudou cinema em Paris e Roma sob os aclamados realizadores Vittorio de Sica e Jean Renoir. No seu aclamado filme “O Ataque”, acompanhamos as consequencias de um massacre nazista contra uma família na vida de um garoto que sobreviveu.  

“O Ataque”, 1986, e o cineasta Fons Rademakers

Cenas de “O Ataque”, 1986

                                                                                                                                                                                                                                                                                                              

A partir do século XXI, o cinema holandês tem se concentrado em filmes para a televisão e minisséries que tratam de questões domésticas do país, de sonhos e dificuldades de vida e também de guerra, um evento que marcou muito a Holanda durante a ocupação nazista. Dois filmes foram impactantes desse período, expondo a luta contra a oposição do status quo, machismo, sonhos sinuosos e crueldades da guerra.

O primeiro é “Antonia, Uma Sinfonia”, de 2018, dirigido por Maria Peters. O filme é biográfico e narra a trajetória da musicista holandesa Antonia Brico, a primeira mulher a conduzir uma orquestra sinfônica num mundo dominado por homens. Se passando na década de 20, o filme mostra sua luta contra o preconceito, o seu cotidiano de sobrevivência e sua indomável determinação de alcançar seu sonho. Um filme muito sensível.

 “Antonia, Uma Sinfonia”, 2018, e a cineasta Maria Peters

 Cenas de “Antonia, Uma Sinfonia”, 2018

O segundo é “A Batalha Esquecida”, de 2020, dirigido por Matthis van Heijningen Jr. Um filme interessante, bem feito e sensível que foca na vida de três jovens durante os desdobramentos da batalha que levou à libertação dos Países Baixos das tropas alemãs, já no final do confronto mundial. Conhecida como a Batalha do rio Escalda, levou a morte de quase 13 mil soldados e civis. Realista, cruel e poético, um filme que faltava para reavivar a memória heroica dos holandeses.

  “A Batalha Esquecida”, 2020, e o cineasta Matthis van Heijningen Jr

Cenas de “A Batalha Esquecida”, 2020

                    

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