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O Festival de Brasília do Cinema Brasileiro

O Festival de Brasília do Cinema Brasileiro

Um breve histórico

Festival de Brasília do Cinema Brasileiro, sediado na capital do Brasil, Brasília, é o mais antigo do gênero no país. Professores de cinema da Universidade de Brasília como Jean Claude Bernadet, um crítico de  renome, e Vladimir Carvalho, que se tornaria um grande documentarista, e encabeçados pelo intelectual Paulo Emílio Sales Gomes tiveram a ideia de iniciar a 1ª Semana do Cinema Brasileiro, evento que ocorreu entre 15 e 22 de novembro de 1965, com apoio do Governo do Distrito Federal.

Dois fatores influenciaram a criação do Festival: o surgimento do Cinema Novo que renovou o cinema brasileiro e o projeto de Darcy Ribeiro para a Universidade de Brasília, que deveria deixar o academicismo de lado, usando a ciência e o conhecimento para transformar o país. Uma das regras que diferencia o Festival de Brasília de outros festivais é que os filmes, tanto de longa como de curta metragem, devem ser inéditos e preferencialmente não ter sido premiados em qualquer outro festival nacional.

Paulo Emílio Salles Gomes e Jean Claude Bernadet, idealizadores do Festival de Brasília

Criado no tempo do regime militar, o Festival de Brasília era tido, nos primeiros anos, como uma ilha cultural onde cineastas, artistas e produtores podiam se expressar livremente. No entanto, com a promulgação do Ato Institucional nº 5 (AI-5), em 1968, a censura dos militares atingiu a cena cinematográfica, o que causou protestos e incômodos entre produtores e ativistas culturais. Devido ao recrudescimento da censura do regime militar, o Festival teve três edições canceladas: 1972, 1973 e 1974. O evento retornou à cena cultural brasiliense com a oitava edição em 1975.

O Festival de Brasília sempre foi um evento muito politizado e o cinema brasileiro, bem como os problemas estruturais do país, eram debatidos de maneira acalorada. Além de painéis de debates e mostras de filmes fora da competição oficial, o Festival também tem uma veia de entretenimento cultural com exposições, músicas e encontros sociais. O Festival sempre reuniu o que há de melhor da produção cinematográfica brasileira em cada época e incentiva novos artistas, além de abrir espaço para revelações em outras áreas culturais, ativismos e outros tipos de manifestações.

Imagens do Festival de Brasília do Cinema Brasileiro

O primeiro vencedor do Festival de Brasília

O primeiro filme vencedor do Festival de Brasília foi “A Hora e a Vez de Augusto Matraga”,1965, baseado no conto homônimo da obra Sagarana, de João Guimarães Rosa. Foi dirigido por Roberto Santos, que também o escreveu com o dramaturgo e ator Gianfrancesco Guarnieri.  O filme foi estrelado por Leonardo Villar, Maurício do Vale e Jofre Soares. O enredo trata de latifúndio, atraso social, religiosidade e opressão e integra o movimento do Cinema Novo (leia mais na Categoria Cinema Brasileiro).

Na mesma linha de Cinema Novo, em 1967, foi lançado no Festival o vitorioso “Proezas de Satanás na Vila de Leva-eTraz”, dirigido por Paulo Gil Soares. É um filme influenciado pela linguagem do cordel e surpreende com um enredo de crendices religiosas, milagres e encantamentos mágicos e joguetes políticos, em meio à miséria do povo. O filme foi muito premiado não só no Festival de Brasília como também pela OCIC – Office Catholic Internacional du Cinema no Festival de Paris e a Margarida de Prata da CNBB.

Imagens do filme “A Hora e a Vez de Augusto Matraga”, 1965, primeiro vencedor do Festival de Brasília

“Proezas de Satanás na Vila de Leva-e-Traz”, filme vencedor em 1967

O lendário filme proibido

Com a forte censura do regime militar, o cineasta Vladimir Carvalho, um dos pioneiros da cultura brasiliense, foi diretamente afetado e teve suas obras impedidas de circular, além de cortadas pela ditadura. O seu longa-metragem O País de São Saruê foi tirado da programação do Festival em 1971, mesmo depois de ter sido aprovado pela comissão de seleção, e a censura só o liberou em 1979, quando ganhou o Prêmio Especial do Júri pelo Festival de Brasília.

Inspirado no título de um cordel do conhecido autor paraibano Manoel Camilo dos Santos e com depoimentos reais, O País de São Saruê é um filme focado nas relações do homem com a natureza no sertão nordestino, onde predomina a luta contra a seca, o latifúndio e a miséria desde os tempos do Brasil colônia. Denuncia a exploração dos trabalhadores pelos donos de terra, motivo que levou à proibição de ser projetado durante quase toda a década de 1970.

 “O País de São Saruê”, 1971, e o diretor Vladimir de Carvalho

Local do Festival e a nova capital

O Festival é realizado no antigo e famoso Cine Brasília, localizado no Plano Piloto, setor da Asa Sul da capita brasileira. O local já se tornou um ícone cultural da cidade. Fora o Festival, o Cine Brasília já organizou mostras de filmes nacionais e internacionais, concertos de música, bem como  eventos culturais diferenciados. É lugar obrigatório para qualquer turista que venha à Brasília e para aqueles que gostam de vida cultural.

Cine Brasília: Local do Festival de Brasília do Cinema Brasileiro

Brasília foi construída a partir de 1956 e inaugurada em 1960. Com um modelo de arquitetura moderna, futurista, a cidade foi concebida pelo então Presidente Juscelino Kubischeck num cenário de desbravamento da região Centro-Oeste e de uma política desenvovimentista para o país, que incluia empregos e crescimento econômico. A nova capital passou a comandar a nação brasileira, a ditar os rumos políticos e sociais do país, e também a produzir cultura.

A arquitetura futurista de Brasília, a nova capital

Prêmios do Festival

O principal prêmio do festival é o Troféu Candango. O termo Candango é uma homenagem carinhosa aos brasilienses, mas especialmente designa cada um dos operários que trabalharam nas grandes construções da cidade de Brasília (DF), notadamente aqueles oriundos do Nordeste do Brasil.

Adicionalmente há o Troféu Câmara Legislativa do Distrito Federal, Prêmio Canal Brasil de Incentivo ao Curta-Metragem, Prêmio Exibição TV Brasil, Prêmio Abraccine, Prêmio ABCV e Prêmio Saruê, além de premiação em dinheiro. Os prêmios abrangem longa-metragem, curta-metragem, sejam ficcionais ou documentários, e as mais variadas categorias do cinema.

O Troféu Candango do Festival de Brasília

O maior vencedor do Festival de Brasília

O maior vencedor do Festival de Brasília na categoria de melhor filme foi Júlio Bressane. Bressane é um cineasta inovador e independente. Seu estilo é único. Foi um dos expoentes do chamado ‘cinema marginal’ nos anos 60 e permaneceu um artista experimental, nunca se preocupando com críticas ou com público. Seus filmes vencedores foram: “Tabu”, em 1982, “Miramar”, em 1997, “Filme de Amor”, em 2003, e “Cleópatra”, em 2007.

O diretor Júlio Bressane, o maior vencedor do Festival de Brasília, e seu filme “Tabu”, de 1982

Diretores expoentes do Cinema Novo no Festival de Brasília

Uma das inspirações para a criação da 1ª Semana do Cinema Brasileiro em 1965, embrião do Festival de Brasília, foi a força revolucionária do Cinema Novo que estava de vento em popa nos anos 60 e encantando a todos. Nos anos 70, vários desses talentosos diretores venceram o Festival como melhor filme adaptando obras literárias de grandes escritores brasileiros.

Vamos citar alguns exemplos desse vigor artístico: Em 1971, Paulo César Saraceni venceu com o filme “A Casa Assassinada”, baseado no livro Crônica da Casa Assassinada, de Lúcio Cardoso; em 1975, Joaquim Pedro de Andrade venceu com o filme “Guerra Conjugal”, baseado em contos de Dalton Trevisan; em 1976, Cacá Diegues venceu com “Xica da Silva”, baseado no livro homônimo de João Felício dos Santos; e em 1977, Nelson Pereira dos Santos venceu com o filme “Tenda dos Milagres”, baseado no livro homônimo de Jorge Amado.

Diretores do Cinema Novo que venceram o Festival de Brasília e seus respectivos filmes. Pela Ordem: Paulo César Saraceni, Joaquim Pedro de Andrade, Cacá Diegues e Nelson Pereira dos Santos

Alguns filmes vencedores do Festival de Brasília do Cinema Brasileiro. Assistam!

O Mágico e o Delegado, 1983. Direção: Fernando Coni Campos
Nunca Fomos Tão Felizes, 1984. Direção: Murilo Salles
A hora da Estrela, 1985. Direção: Suzana Amaral
A Cor do seu Destino, 1986. Direção: Jorge Durán
Anjos da Noite, 1987. Direção: Wilson de Barros
Louco por Cinema, 1994. Direção: André Luis de Oliveira
Alma Corsária, 1993. Direção: Carlos Reichenbach
Baile Perfumado, 1996. Direção: Paulo Caldas e Lírio Ferreira
Bicho de Sete Cabeças, 2000. Direção: Lais Bodanzki
Amarelo Manga, 2002. Direção: Claudio Assis
Peões, 2004. Direção: Eduardo Coutinho
Hoje, 2011. Direção: Tata Amaral

A Cidade Onde Envelheço, 2016. Direção: Marília Rocha

Por Onde Anda Macunaíma, 2020. Direção: Rodrigo Séllos

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