“Sociedade dos Poetas Mortos”: Quebrar os grilhões e viver um poema libertário
Filme: Sociedade dos Poetas Mortos, 1989
Direção: Peter Weir
Elenco: Robin Williams, Ethan Hawke, Robert Sean Leonard, Josh Charles, Gale Hansen
O contexto do filme
O filme “Sociedade dos Poetas Mortos” foi realizado em 1989 e dirigido por Peter Weir. É um drama vivido na Academia Welton no ano de 1959, nos Estados Unidos. Trata-se de uma escola tradicional de segundo grau que aplica um ensino rígido como na academia militar e adota uma concepção didática racionalizada, desprovida de emoções e de liberdades naturais e democráticas.
Para sentir bem o contexto escolar e o tipo de vida reinante é preciso atenção ao início do filme quando uma solenidade de abertura do ano letivo é celebrada, os alunos adentram o auditório com trajes formais, exibindo os brasões, a farda e o comportamento sisudo exigido pela escola, tudo exaltado por pais e funcionários que acompanham o hino, a herança histórica e os legados da colonização.
A marca e o ambiente de uma escola tradicional rígida e colonialista
A educação: De dentro de casa para fora, de familiares para estranhos
Durante milênios, os seres humanos cuidavam de seus entes queridos por eles próprios e também com apoio da comunidade onde viviam. A educação dos filhos era realizada dentro de casa pelos pais e, na falta destes por algum motivo, familiares próximos e membros especializados da comunidade complementavam essa educação.
Nos tempos modernos, principalmente a partir da revolução industrial no século XVIII, as crianças de famílias pobres iam trabalhar nas fábricas e as de família com posses iam para escolas do Estado, onde então eram “educadas” de acordo com padrões tradicionais dominantes, ou seja, saíram de casa para serem doutrinados por estranhos, com valores que na maioria das vezes não eram de seus próprios pais.
Uma família antiga antes das escolas tradicionais: Educação e zelo com valores próprios
O chamado para a vida
No filme “Sociedade dos Poetas Mortos”, a educação é realizada de forma autoritária de acordo com valores morais e culturais estabelecidos por uma instituição que se diz porta voz do conhecimento. O professor passa um tipo de conhecimento de uma forma pronta e acabada, onde opiniões e ideias dos alunos não eram apreciadas.
Esse contexto quase prisional será perturbado pela presença do professor John Keating (Robin Williams) que já fora aluno dessa escola. Na sua primeira aula, o professor Keating pede aos alunos que leiam o primeiro verso do poema “Às virgens para aproveitar o tempo”:
“Pegue seus botões de rosas enquanto podem…”. O professor explica que o termo em latim para isso é Carpe Diem – Aproveite o dia. Viver cada dia intensamente como se fosse o último.
A poesia para o despertar interior
Através de um chamado que desperte uma vida interior, o professor Keating inspira seus jovens alunos a experimentar uma vida sem grilhões, livre, independente. Para tanto, é preciso começar pela poesia. O que é poesia?
No filme, o professor Keating declara: “Poesia é para ser vivida e não calculada”. E mais: “Não pensem como são mandados, mas pensem por si mesmos. Vejam a vida por outro ângulo”. Além de ver e pensar, é preciso agir, ser espontâneo, assoviar, descontrair, aprender ao ar livre, fazer escolhas para ser feliz. Assim ele é e assim ele deseja que seus alunos sejam.
O famoso filósofo grego Aristóteles criou, antes dos tempos de Cristo, um tipo de escola ao ar livre onde o aprendizado era recíproco entre aluno e professor e onde as coisas reais, naturais, serviam de base para ampliar os conhecimentos: Árvores altas, extensos jardins, a exuberância da natureza, espaços amplos e livres e diálogo aberto.
Um novo ângulo de ver as coisas e uma nova maneira de ensinar e aprender
O refúgio da ‘Sociedade dos Poetas Mortos’
O grupo de alunos cativados pelo professor Keating descobre que houve no passado a organização livre chamada ‘Sociedade dos Poetas Mortos’, do qual ele era um fundador, que reunia estudantes sedentos de inspiração para novas opções. E tinham um lugar próprio para se reunir e celebrar a vida.
Dispostos a novas experiências, emocional e intelectual, esse grupo ressussita a organização e passa a se encontrar numa espécie de caverna secreta, o “refúgio da liberdade”, onde desenvolvem livremente seus talentos adormecidos.
E os efeitos começam a ser produzidos em cada um, num furor de criatividade. Um deles, o jovem aluno Neil Perry, desperta seu gosto pela dramatização e o desenvolve numa peça teatral que vai contra os valores tradicionais. Assumiu literalmente a ‘Sociedade dos Poetas Mortos’ e pagou com a vida.
O refúgio da liberdade e a posse de uma nova vida, sensacional e trágica
A liberdade deve ser conquistada
Após a tragédia de Neil Perry, o autoritarismo da escola se sobreponhe como uma máquina de triturar. A liberdade não é dada, mas deve ser conquistada. Apesar da demissão do professor Keating, algo ficou marcado na vida daquele grupo de jovens alunos. Eles sabem que possuem dentro de si uma chama de inspiração criativa e sensibilidade latente que, para não se apagar, precisa de uma lufa de vento contínuo.
O filme Sociedade dos Poetas Mortos faz uma crítica à educação tradicional, onde o aprendizado acontece de forma mecânica: O professor fala, o aluno ouve. O discente não inclui suas experiências do dia-a-dia no processo de aprendizagem. O professor Keating rompe com o tradicional e mostra um novo ideal pedagógico no qual a relação entre professor e aluno deve ter uma vivência democrática e interativa de forma espontânea, permitindo ao aluno poder extrair o melhor de si.
Além de uma crítica ao autoritarismo educacional e a valores morais convencionais e colonizadores, o filme faz uma ode à liberdade de viver e de descobrir os próprios talentos, de viver as próprias emoções e optar pelo que traz felicidade.
Por cima de suas mesas, os alunos exclamam: Oh Capitão! Meu Capitão! (apelido carinhoso dado ao professor Keating).
Cenas de “Sociedade dos Poetas Mortos”, 1989
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