Movimentos Cinematográficos
O cinema na Escandinávia: Os movimentos de Suécia, Dinamarca e Noruega

O cinema na Escandinávia: Os movimentos de Suécia, Dinamarca e Noruega

O cinema da Suécia

A Suécia é um país com ótimos índices de desenvolvimento humano, portanto com muita qualidade de vida. O cinema sueco teve seu passado ligado fortemente ao cineasta Victor Sjöström. Seu cinema foi extremamente importante para o país e sua obra conseguiu penetrar no cinema americano onde, inclusive, ele próprio realizou filmes. Na esteira do sucesso de Sjöström, duas atrizes se empoderaram no país e logo migraram para Hollywood e tiveram uma carreira de sucesso: Greta Garbo e Ingrid Bergman.

Ainda que apresentando um cinema de boa qualidade artística, o cinema sueco tinha uma produção cinematográfica limitada e com pouco reconhecimento internacional. É um cinema mais voltado ao seu público interno e com um Festival localizado na cidade de Gotemburgo. Devido a certas restrições, a Suécia se manteve na periferia do cinema mundial até a década de 50 do século XX quando, então, surgiu a maestria de Ingmar Bergman.

Ingmar Bergman se destacou dentro e fora do seu país e transformou o cinema sueco em referência internacional. Entretanto, o cinema sueco não é expansivo. Ainda assim, surgiram artistas de alto nível ao longo da história. Além de Bergman e Sjöström, destacam-se os cineastas Lasse Hallström, Roy Andersson e, mais recentemente, Ruben Östlund. Como diretor de fotografia, tem especial relevo Sven Nykvist. Entre os atores e atrizes mais famosos, estão, além de Greta Garbo e Ingrid Bergman, Max von Sydow, Liv Ulmann, Bibi Anderson, Ingrid Thulin, Lena Olin e Stellan Skarsgård.

O mais importante cineasta da Suécia antes de Ingmar Bergman foi Victor Sjöström. Sjöstrom trafegou por vários estilos de filmes com a mesma qualidade. Selecionamos seu filme “O Vento”, de 1928. Filmado durante a fase hollywoodiana do Diretor sueco, o filme é um drama romântico que trata de maus tratos e da solidão de uma jovem que tenta se adaptar a uma nova vida em condições inóspitas. O destaque vai para a estrela de Hollywood Lillian Gish no papel principal.

O Diretor Victor Sjöström e o filme “O Vento”, 1928

Cenas de “O Vento”, 1928

A partir da década de 50, um genial Diretor de cinema começa a conquistar o mundo com seu cinema reflexivo e psicológico: Ingmar Bergman (Para maiores detalhes sobre Bergman, acesse a Categoria “Grandes Diretores” neste Blog). Diante de tantos grandes filmes que realizou, selecionamos “O Ovo da Serpente”, um filme que se passa na década de 20 na Alemanha sobre a relação de um trapezista judeu desempregado e uma cantora de cabaré. A história antevê a gênese da ideologia, da mentalidade, das emoções e da política nazista.

O Diretor Ingmar Bergman e o filme “O Ovo da Serpente”, 1977

Cenas de “O Ovo da Serpente”, 1977

Um novo talento do cinema sueco surgiu a partir da década de 80: Lasse Hallström e seu premiado e apreciado filme “Minha Vida de Cachorro”, de 1985. O filme se passa na década de 1950 e conta a história de um garoto que, devido à frágil saúde de sua mãe, é levado por familiares para viver em casa de parentes no interior da Suécia. Lá, ele enfrenta dificuldades de se adaptar à nova vida e à saudade da mãe, enquanto passa por experiências marcantes.

O Diretor Lasse Hallström e o filme “Minha Vida de Cachorro”, 1985

Cenas de “Minha Vida de Cachorro”, 2000

Outro talento do cinema sueco é Roy Andersson, um veterano diretor desde a década de 70. Com um estilo pessoal que se caracteriza por longos takes, comédia absurda, caricatura rígida da cultura sueca e o grotesco, Andersson venceu o Festival de Veneza com seu filme cômico/existencialista traduzido para “Um Pombo Sentado em um Galho Refletindo sobre a Existência”, de 2014. Nesse filme, Andersson nos faz rir da própria desgraça ao abordar dois vendedores ambulantes que se cansam da vida e mergulham de maneira fantasiosa no caos do mundo atual.

O Diretor Roy Andersson e o filme “Um Pombo Sentado em um Galho Refletindo sobre a Existência”, 2014

Cenas de “Um Pombo Sentado em um Galho Refletindo sobre a Existência”, 2014

Mais recentemente, um novo e talentoso diretor sueco vem crescendo na cena cinematográfica mundial. Trata-se de Ruben Östlund, que já venceu duas Palmas de Ouro em Cannes. Uma delas foi para o filme “O Quadrado”, de 2017, uma ambiciosa sátira ao mundo da arte contemporânea, seu hermetismo e suas elites liberais. Acompanhamos a vida desmoronando de um curador de um museu, numa precipitação de ironias e hipocrisias que oscilam entre o absurdo e o trágico com desconcertante velocidade.

O Diretor Ruben Östlund e o filme “O Quadrado”, 2017

Cenas de “O Quadrado”, 2017

O cinema da Dinamarca

O cinema da Dinamarca é um dos mais premiados do mundo nas últimas décadas. Isso pode ser explicado por algumas razões. Primeiro, é um cinema que sempre teve apoio financeiro do Estado e isso incentiva a produção de filmes e promove a ascensão de novos talentos. Segundo, é um cinema que tem a preocupação de passar uma mensagem ao público e não somente ter sucesso comercial. E terceiro, seu modelo de organização é colaborativo. A Escola Nacional de Cinema da Dinamarca e o Instituto de Cinema Dinamarquês criaram uma estrutura mais horizontal e uma liderança mais coletiva.

Para fortalecer ainda mais a qualidade artística do cinema da Dinamarca, um conceituado movimento cinematográfico teve início em 1995 e foi denominado de “Dogma 95”. Alguns cineastas dinamarqueses tiveram essa iniciativa como contraponto à lógica de filmes comerciais Hollywoodianos, de blockbusters, grandes orçamentos e grandes estúdios. Em poucas palavras, o Dogma 95 pregava um retorno ao cinema com maior autonomia nas mãos dos diretores-autores, valorização da história, da atuação e da temática, e rejeitavam o uso de efeitos especiais elaborados ou recursos tecnológicos avançados.

Selecionamos alguns Diretores dinamarqueses que ganharam fama internacional, como Lars von Trier, Bille August, Gabriel Axel, Thomas Winterberg e Nicolas Winding Refn, que certamente merecem todos os elogios.

Em 1987, o Diretor Bille August realizou “Pelle, O Conquistador” e venceu o Oscar de melhor filme estrangeiro e a Palma de Ouro em Cannes. Com uma história comovente de sobrevivência em um mundo cruel e implacável, o filme narra as aventuras de pai e filho, trabalhadores de fazenda, que tentam imigrar da Suécia para a Dinamarca em busca de uma vida melhor. Nessa saga, passam por inúmeras provações, incluindo o preconceito contra imigrantes e desentendimentos com gente mais poderosa do que eles, tanto no sentido físico quanto no social.

O Diretor Bille August e o filme “Pelle, O Conquistador”, 1987

Cenas de “Pelle, O Conquistador”, 1987

Outro grande filme que também foi muito premiado é “A Festa de Babette”, de 1987, dirigido por Gabriel Axel. Ambientado no século XIX numa família religiosa de moral rigorosa, o filme é uma surpreendente alegoria sobre os prazeres carnais que se liberam através dos sabores da comida de uma exímia cozinheira parisiense refugiada. Ela é Babette que, com sua culinária prazerosa e até mesmo erótica, fascina pessoas reprimidas em um vilarejo na região da Judlândia.

O Diretor Gabriel Axel e o filme “A Festa de Babette”, 1987

Cenas de “A Festa de Babette”, 1987

O jovem Diretor Thomas Vinterberg entrou para a história do cinema contemporâneo ao realizar “Festa de Família”, em 1998, um importante filme do controverso movimento Dogma 95 que revolucionou o modo de se filmar com ausência de trucagem, música contextual, iluminação direta e câmera na mão, bem como temas modernos. Seu filme “Festa de Família” é uma história de uma reunião familiar comemorativa que vira uma turbulenta crise entre os participantes após a revelação de um segredo obscuro e trágico.

O Diretor Thomas Vinterberg e o filme “Festa de Família”, 1998

Cenas de “Festa de Família”, 1998

O sempre polêmico Diretor Lars von Trier fez enorme sucesso com o filme “Dançando no Escuro”, de 2000, que conta uma triste e pesada história permeada por transes musicais da personagem principal que se refugia em filmes de Hollywood. A cantora Björk é Selma, uma imigrante tcheca que descobre uma cegueira degenerativa e que vai para os Estados Unidos tentar se curar e a seu filho também. Trabalha humildemente numa fábrica, mas acaba se envolvendo em uma trágica morte e em um também trágico destino.

O Diretor Lars von Trier e o filme “Dançando no Escuro”, 2000

Cenas de “Dançando no Escuro”, 2000

O jovem Diretor dinamarquês Nicolas Winding Refn teve influência da linguagem do videoclipe e fez algum sucesso com thrillers. Mas foi com “Drive”, de 2011, um filme policial neo-noir de drama e suspense estadunidense que ele se tornou mais conhecido. O filme trata de um misterioso e soturno motorista que trabalha como mecânico e dublê automalista de filmes de Hollywood. À noite, ele se dedica como piloto de fuga de bandidos e mafiosos. Ao se envolver emocionalmente com uma garçonete, ele entra em situações de riscos mortais.

O Diretor Nicolas Winding Refn e o filme “Drive”, 2011

Cenas de “Drive”, 2011

O cinema da Noruega

O cinema da Noruega teve muitas dificuldades para se estabelecer como referência internacional ao longo de sua história. Diretores aqui e ali desenvolveram alguma produção relevante. Até a segunda guerra mundial os filmes eram geralmente baseados em adaptações literárias. Com a chegada da guerra, o cinema no país foi controlado pelos nazistas.

Depois da guerra, o cinema na Noruega melhorou, mas ficou restrito ao público interno. Diretores como Edith Carlmar, Ivo Caprino e Thor Heyerdahl se sobressaíram. A primeira se tornou uma lenda do cinema do país e os dois últimos eram documentaristas. A novidade foi que, com a reestruturação de sua indústria, o cinema da Noruega passou a ter bastante apoio do Estado, tendo como temática central o realismo social.

Foi somente a partir dos anos 90 que o cinema norueguês deu um salto produtivo e com assuntos que passavam do suspense à ação para dramas familiares com toques hollywoodianos. Cineastas como Hans Petter Moland, Erik Skjoldbjærg, Joachim Trier e Eirik Svensson ganharam reconhecimento internacional participando em festivais internacionais de cinema com seus filmes, posteriormente chegando a dirigir filmes nos EUA.  Abordaremos brevemente os diretores citados.

Em 1997, o jovem Diretor norueguês Erik Skjoldbjaerg estreou em longa-metragem com o thriller “Insônia” sobre um detetive da polícia investigando um assassinato em uma cidade localizada acima do Círculo Polar Ártico . O filme é eletrizante e se torna angustiante quando o policial erroneamente atira em seu parceiro e, posteriormente, tenta encobrir sua trapalhada. O título do filme refere-se à sua incapacidade de dormir, resultado de sua culpa (representada pelo brilho implacável do sol da meia-noite). 

O Diretor Erik Skjoldbjærg e o filme “Insônia”, 1997

Cenas de “Insônia”, 1997

Um Diretor norueguês mais veterano, Hans Petter Moland, realizou em 2006 o emocionante e político filme “Camarada Pedersen”. Ambientado em fins dos anos 60, o filme aborda um professor em um conflito interior entre a possibilidade de uma vida burguesa mais tranquila e os ideais revolucionários marxistas durante uma viagem de trem em que relembra seu passado comunista. O filme proporciona ao espectador uma mistura de sentimentos como raiva, felicidade, impotência e os murmúrios dos últimos dias do comunismo.

O Diretor Hans Petter Moland e o filme “Camarada Pedersen”, 2006

Cenas de “Camarada Pedersen”, 2006

Outro jovem Diretor, Joachim Trier, começou a aparecer com filmes que foram descritos como meditações melancólicas sobre questões existenciais de amor, ambição, memória e identidade. Fincado em sua criação em Oslo, capital da Noruega, Trier lançou em 2011 o filme “Oslo, 31 de Agosto” onde trata de um jovem viciado em drogas em tratamento numa clínica de reabilitação. Quando sai, sob permissão, ele vai confrontar com erros do seu passado e refletir sobre sua própria existência.

O Diretor Joachim Trier e o filme “Oslo, 31 de Agosto”, 2011

Cenas de “Oslo, 31 de Agosto”, 2011

Eirik Svensson, novo talento do cinema norueguês, lançou em 2018 o belo filme “Harajuku”. O filme trata de crises familiares quando uma jovem, Vilde, sabedora de que sua mãe sofreu um acidente, tenta fugir para Tóquio para não ter de se confrontar com seu pai biológico. Com uma representação bem realista de eventos tristes, o filme nos empurra para nossos próprios sentimentos ao acompanhar Vilde em encontros inevitáveis cheios de emoções. Ainda bem jovem, o diretor Eirik Svensson é uma grande promessa de um cinema renovador.

O Diretor Eirik Svensson e o filme “Harajuku”, 2018

Cenas de “Harajuku”, 2018

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