O Cinema Blockbuster e as Franquias
Uma retrospectiva histórica das grandes produções de filmes até o Blockbuster moderno e as Franquias

Uma retrospectiva histórica das grandes produções de filmes até o Blockbuster moderno e as Franquias

Conceitos e características do Blockbuster

O termo Blockbuster deriva do inglês britânico e seu significado foi baseado nas ações bélicas da segunda guerra mundial quando bombas eram lançadas de aviões e destruíam ruas, bairros e quarteirões das cidades. Daí veio a palavra “arrasa-quarteirão” para indicar que o público lotava os cinemas com as grandes produções. Mas, nessa época, o termo Blockbuster ainda não rotulava os filmes, não tinha a relevância e a pegada que teve tempos depois.

Geralmente, um filme Blockbuster é considerado aquele que demanda muitos recursos financeiros, muita gente na produção, muitas vezes com produtores associados, uma propaganda massiva, um elenco estelar, uma cadeia de distribuição, novidades técnicas, um roteiro capaz de atrair o público e grande sucesso de bilheteria. Mas nem todos os filmes relevantes desse modelo cumprem completamente esse conjunto de exigências.

O filme Blockbuster tem outra característica fundamental de poder continuar sua trajetória através de continuações ou franquias, e conquistar uma marca registrada. Além disso, o filme ainda pode ganhar fôlego e ser lembrado e consumido através de outros tipos de marketing, como por exemplo: álbuns de figurinha, indústria de games e jogos virtuais, brinquedos, miniaturas, redes sociais e aplicativos na internet.

Até que o Blockbuster  fosse oficialmente convencionado e reinado a partir de meados dos anos 70, é preciso avaliar o processo histórico, analisar seus precursores, ou seja, como essa idéia de modelo de produção cinematográfica se desenvolveu ao longo da história do cinema através de outros nomes.

O início das grandes produções

Os filmes iniciais que poderíamos chamar de grandes produções (claro que cada um de acordo com sua época específica), centrado em grandes cenários, muitos figurantes e recursos financeiros acima da média apareceram já nos anos 10 do século XX, no primeiro surto do cinema.

O diretor dessa proeza foi o pioneiro David Wark Griffiti. Seus dois filmes considerados de grande porte para a época foram “O Nascimento de Uma Nação”, de 1915, e “Intolerância”, de 1916, ambos mudos e já formatados em longa metragem. Não se sabe ao certo qual foi a lucratividade desses filmes, mas é certo que Griffiti ganhou dinheiro suficiente para escolher seus próprios filmes e criar, com outros artistas amigos, a produtora “United Artists”, que ainda existe nos dias de hoje.

Intolerância, 1916, um exemplar de uma grande produção do passado

Mas, o modelo de cinema, que mais tarde seria convencionado pelo termo Blockbuster, remonta a filmes hollywoodianos realizados no limiar da segunda guerra mundial. Quando Hitler invadiu a Polônia em 1939, Hollywood estava lançando três filmes que demandaram muitos recursos, produção grande, demorada e cheia de problemas, técnicas inovadoras e incertezas quanto à aceitação do público e quanto à sua performance na bilheteria.

Produzidos em 1939, estamos falando de “E o Vento Levou” e “O Mágico de Oz”, ambos dirigidos corajosamente por Victor Fleming (no primeiro filme, houve várias mudanças de diretores no andamento da produção, acabando em Fleming) e “No Tempo das Diligências”, dirigido por John Ford.

“E o Vento Levou” tinha quatro horas de duração, uma infinidade de conflitos na produção e era contextualizado na guerra civil americana; “O Mágico de Oz” contava uma história mais voltada para o público infanto-juvenil, com direito a uma bruxa e a personagens fantasiosos; e “No Tempo das Diligências” era um western (faroeste), gênero ainda pouco desenvolvido e pouco popularizado. Os estúdios arriscaram muito dinheiro e o clima era de apreensão e expectativa. Resultado: muito sucesso e muito dinheiro para as produtoras.

“E o Vento Levou” foi o mais popular, não só na época, mas também ficou marcado como a maior bilheteria do cinema (se fizermos uma atualização monetária em valores do dólar de hoje) e mostrou um conflito romântico extremamente dramático e icônico que consagrou os atores Clark Gable e Vivian Leigh como o maior casal da história do cinema.

Dois filmes “Arrasa-quarteirão” dos anos 30

A Afirmação e difusão das grandes produções nos anos 50 e 60

Depois de um período, nos anos 40, onde o surto de filmes de grande porte foi relativamente relegado ao segundo plano, nos anos 50 e 60 do século XX outras grandes produções de Hollywood ganharam definitivamente a cena no cinema mundial. Eram principalmente filmes de reconstituições de época, narrativas históricas, romances romanos e dramas bíblicos.

Alguns desses filmes ficaram muito famosos, quais sejam: “Quo Vadis”, de 1951, dirigido por Mervyn Leroy, um drama romano com um fundo religioso; “Os Dez Mandamentos”, de 1956, dirigido por Cecil B. De Mille, um drama bíblico que revolucionou os efeitos especiais; “Ben-Hur”, de 1959, dirigido por William Wyler, um drama romano-judaico-cristão; “Lawrence da Arábia”, de 1962, dirigido por David Lean, um drama histórico-árabe; “Cleópatra”, de 1963, dirigido por Joseph L. Mankiewicz, uma reconstituição egípcia megalomaníaca; e “Doutor Jivago”, de 1965, dirigido novamente por David Lean, um drama da revolução russa. Com exceção de “Cleópatra”, que foi um fracasso de bilheteria, os demais tiveram sucesso e continuam sendo muito assistidos.

Esses filmes demandaram grandes estúdios, locações externas complicadas, cenários gigantescos, desenvolvimento de novas técnicas de direção e filmagens in loco (nas cidades e locais próprios da narrativa) que encareceram a produção e propagaram essa nova possibilidade de filmar.

É importante enfatizar que o sucesso de bilheteria é muito importante para um filme entrar no modelo de Blockbuster. Muitos filmes gastaram muito, fracassaram financeiramente e faliram investidores particulares e empresas produtoras.

Dois filmes “Arrasa-quarteirão” dos anos 50

Dois filmes “Arrasa-quarteirão” dos anos 60

O “cinema catástrofe” dos anos 70

Uma nova denominação de filmes se desenvolveu no início dos anos 70 e repercutiu muito em toda a década: O cinema catástrofe. O Cinema catástrofe tornou-se um estilo de filmes muito popular. Inicialmente, misturou os elementos de tragédias humanas, como quedas de aviões e incêndios em prédios, e desastres naturais, como terremotos e acidentes no mar, com enredo apocalíptico, apelo melodramático e cenas de ação, de preferência com efeitos especiais que enfatizem o clima de tensão.

Também eram superproduções caras, com ênfase em um grande elenco de atores e atrizes muito famosos,e tiveram enorme aceitação de público, enchendo os cofres das produtoras. Quatro filmes se destacaram: “Aeroporto”, de 1970, dirigido por George Seaton, que narra um psicopata prestes a explodir um avião; “O Destino do Poseidon”, de 1972, dirigido por Ronald Neame, que narra um desastre marítimo que vira um transatlântico de cabeça para baixo; “Terremoto”, de 1974, dirigido por Mark Robson que narra a destruição de uma cidade por um terremoto; e “Inferno na Torre”, de 1974, dirigido por John Guillermin, que narra um grande incêndio que acaba com as festividades da inauguração de um arranha-céu na cidade de São Francisco.

“Aeroporto” foi um dos mais famosos “filmes-catástrofe” de todos os tempos. Tornou-se o segundo filme a ter continuações, perdendo apenas para a primeira franquia criada com os filmes de James Bond-007 nos anos 60, e produziu uma quadrilogia (04 filmes).

Os “filmes-catástrofe” continuaram até hoje, de maneira ininterrupta, e acabaram por se confundir e a se associar ao próprio modelo de Blockbuster, que passaria a reinar a partir de 1975. Os “filmes-catástrofe” passaram a diversificar a temática, abordando furacões, tsunamis, nevascas, fim do mundo, invasões alienígenas, zumbis, viagens e desastres espaciais, epidemias virais e doenças trágicas.

Quatro filmes que definem o “Cinema-catástrofe” nos anos 70

O começo do reinado dos Blockbusters

Depois de uma retrospectiva histórica que realizamos para determinar as fases das grandes produções de filmes que culminaram no modelo Blockbuster, chegamos ao ano de 1975 e à produção do megassucesso “Tubarão”, dirigido pelo ainda jovem iniciante cineasta Steven Spielberg.

“Tubarão” foi uma adaptação do romance de Peter Benchley e se situa numa cidade costeira americana, narrando ataques de um gigante tubarão assassino e sua caçada pelo guarda – costeiro da praia local (Roy Scheider), por um oceanógrafo (Richard Dreyfuss) e por um experiente pescador (Robert Shaw). “Tubarão” foi o primeiro filme a ser oficialmente chamado de Blockbuster.

“Tubarão” não foi uma produção muito cara, teve problemas operacionais e técnicos com o Tubarão mecânico, mas acabou alcançando um enorme sucesso mundial com uma bilheteria recordista até então. O diretor Steven Spielberg ganhou fama mundial e passou a trilhar seu caminho independente, criando franquias posteriores e uma produtora poderosa, a “Dream Works”. A trilha sonora de John Willians, um dos maiores maestros da história do cinema, é espetacular e faz parte da narrativa, criando tensão, medo e pânico.

“Tubarão” teve continuações, mas jamais conseguindo a mesma pegada e a mesma popularidade do primeiro filme.

O diretor Steven Spielberg filmando “Tubarão”

As Franquias se estabelecem e se multiplicam

Depois do filme “Tubarão”, os blockbusters se disseminaram e se popularizaram junto ao grande público e na produção mundial do cinema. Continuações de filmes se tornaram muito comuns e se transformaram em um novo tipo de modelo de filmes: as franquias.

Uma franquia é uma marca registrada de um produto ou um negócio que se comercializa para fins de consumo em massa. O dono ou os donos da marca possuem a propriedade intelectual e o licenciamento para propagar o direito de uso. Esse tipo de negócio invadiu o cinema.

A primeira franquia surgiu nos anos 60 com os filmes de James Bond, o agente 007, criado por Albert Brocoli na Inglaterra na onda das agências de espionagens internacionais, no caso o MI6 britânico, que cresciam durante a “Guerra Fria”. O primeiro filme dessa franquia foi “O Satânico Dr. No”, de 1962, dirigido por Terence Young, e que lançou o ator Sean Connery ao estrelato no papel do agente 007. Foi um estrondoso sucesso que permitiu a sua continuidade até os dias de hoje, com grandes bilheterias.

James Bond, 007, em “O Satânico Dr. No”, 1962, primeira franquia do cinema

Depois de James Bond, 007, uma nova franquia surgiu em 1968. Trata-se de “O Planeta dos Macacos”, dirigido por Flanklin Schaffner. O filme foi uma ficção científica surpreendente, bem realizada, que impactou na narrativa, inovou no figurino e alcançou um grande público. Baseado na obra do escritor francês Pierre Boulle, a história é a seguinte: Uma tripulação de astronautas, dentre eles Taylor (Charlton Heston), sai de uma longa hibernação no espaço sideral e pousa em um futuro longínquo num Planeta desconhecido.

Lá descobrem que o Planeta é dominado por macacos evoluídos e os humanos são mudos e escravizados feito animais. Acontece que, depois de muita confusão para provar que ele era um humano de outra época, o astronauta Taylor, em fuga, enxerga a Estátua da Liberdade destruída e descobre que o Planeta em que se encontra é a própria Terra, devastada após uma guerra nuclear apocalíptica. O filme original teve quatro sequências nos anos 70. Muito tempo depois, já no século XXI, a franquia foi readaptada, com uma nova concepção e nova franquia.

“O Planeta dos Macacos”, 1968, uma ficção científica surpreendente e uma nova franquia

Cenas de “O Planeta dos Macacos”, 1968

Depois de “Planeta dos Macacos”, uma nova franquia se estabeleceu a partir de 1976 com o lançamento do Blockbuster “Rocky, Um Lutador”, dirigido por John G. Avildsen. O filme foi uma aposta arriscada do então desconhecido Sylvester Stallone que, de posse de um roteiro escrito em três dias, conseguiu convencer a produtora United Artists não só a financiar o projeto, mas também em protagonizar o filme. Com o tremendo sucesso alcançado no primeiro filme, o personagem Rocky se transformou numa Franquia de muita bilheteria. Foram lançadas mais sete sequências, incluindo Creed I e Creed II.

O filme “Rocky, Um Lutador” retomou a bandeira de que os Estados Unidos eram uma terra de oportunidades, antes chamada de sonho americano. Ao tratar de um pugilista desconhecido, Rocky Balboa (Sylvester Stallone), pobre, sem instrução, mas bondoso, que trabalha para um agiota nos subúrbios da Filadélfia, e que é escolhido para enfrentar o campeão mundial dos pesos pesados, Apollo (Carl Weathers), numa jogada de marketing e de patriotismo, o filme foi inspirador ao abordar temas como determinação, garra e coragem. Aliado a isso, o filme ainda inclui um romance puro, singelo, com uma jovem tímida, Adrian (Talia Shire). Deu tudo certo, faturou muito e também venceu o Oscar de melhor filme.

“Rocky, Um Lutador, 1976

Cenas de “Rocky, Um Lutador”, 1976

Logo depois, em 1977, é que o negócio da franquia voltou com toda força com o lançamento de “Guerra nas Estrelas”, dirigido por George Lucas. Esse filme narra uma saga intergaláctica entre as forças do bem, os Jedis, e seu herói Luke Skywalker, contra as forças do mal, os sith, o imperador Palpatine e o poderoso guerreiro ex-jedi Darth Wader.

Os produtores não investiram muito, estavam receosos, e George Lucas teve de se virar com pouco dinheiro. Mas foi um sucesso absoluto. Já foram produzidos 09 filmes dessa saga. A marca “Star Wars” se tornou um império do entretenimento, uma indústria de produtos diferenciados, bilheterias volumosas e segue com um grande público apaixonado. A partir daí, também a indústria de efeitos especiais se desenvolveu muito, a começar pela empresa Lucasfilm, do próprio diretor George Lucas e sua filial técnica, a Industrial Light&Magic.

“Guerra nas Estrelas, Uma Nova Esperança”, 1977, e o diretor George Lucas

Cenas de “Guerra nas Estrelas, Uma Nova Esperança”, 1977

Continuações da franquia nos anos 80: “O Império Contra Ataca”, 1981, e “O Retorno de Jedi”, 1983

Para finalizar, em 1979 um novo Blockbuster apareceu e estourou nas bilheterias mundo afora: “Os Embalos de Sábado à Noite”, dirigido por John Badham. A história é simples: Um jovem do Brooklin, Tony Manero (John Travolta), é um grande dançarino de disco music. Insatisfeito com sua vida num comércio de tintas e avaliando suas limitadas perspectivas, Tony só se sente feliz numa pista de dança.

Com uma amiga e parceira, Stephanie (Karen Lynn Gorney), Tony se envolve em confusões e crises amorosas enquanto se prepara para um concurso de dança. O filme foi um estrondoso sucesso de público, com uma trilha sonora empolgante da banda pop Bee Gees, e que encheu as boites e festas em todo o mundo no embalo do som das discotecas.

“Os Embalos de Sábado à Noite”, 1979, uma febre musical ao som das discotecas

Cenas de “Os Embalos de Sábado à Noite”, 1979

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