Movimentos Cinematográficos
O cinema soviético: Realismo socialista e Andrei Tarkovsky

O cinema soviético: Realismo socialista e Andrei Tarkovsky

Surgimento e premissas

O cinema soviético nasceu na esteira da revolução bolchevique de 1917 e tinha como premissa básica o cinema como instrumento pedagógico das massas, ou seja, um cinema verdade, engajado. Os filmes buscavam o experimentalismo e a exposição revolucionária da realidade. A partir dos anos 20, foi um cinema completamente diferente do que se fazia no mundo e buscava uma visão de transformações, tanto técnicas quanto sociais.

A montagem era um instrumento muito importante para esse movimento cinematográfico, bem como o uso das lentes como um olho mecânico que veria mais do que o olho humano para capturar a realidade. Era um cinema oposto ao feito em Hollywood, onde o “lugar comum” eram filmes baseados em romances alienados. A estética desse novo cinema soviético era chamada de “Realismo socialista”.

O maior expoente do movimento

O maior expoente do movimento, e também o mais famoso e conhecido, é o cineasta russo Serguei Eisenstein. Mestre das teorias e técnicas de montagem, ele foi um exímio retratista de rostos e, no oposto, também de multidões. Seus filmes se caracterizavam pela eloqüência das situações e pela dramaticidade de eventos reais. Filmes como “A Greve”, “O Encouraçado Potemkin”, “Alexandre Nevski”, “Que Viva México” e “Outubro” mostram seu engajamento político, mas também seu profundo conhecimento da linguagem cinematográfica.

O Diretor Serguei Eisenstein 

O filme mais famoso e conhecido de Eisenstein é “O Encouraçado Potemkin”, de 1925. O filme dramatiza a rebelião dos marinheiros num navio de guerra russo por melhores condições de vida e trabalho. Os tripulantes se amotinaram contra seus oficiais superiores. O fato ocorrido realmente em 1905, chamado de “primeira revolução”, e que foi um episódio histórico primordial para a organização dos trabalhadores que levariam à revolução comunista de 1917, liderada por Wladimir Lênin.

Nesse filme mudo as imagens de rostos e multidões são poderosas, o uso do close up ressalta o desespero com as condições ruins dos trabalhadores, a câmera se confunde com os personagens em imagens hiper realistas. Mas as cenas mais poderosas são do massacre dos cidadãos na escadaria da cidade de Odessa (especial atenção para o desespero de uma mãe vendo seu filho desabando num carrinho).

“O Encouraçado Potemkin”, 1925

Cenas deO Encouraçado Potemkin”, 1925

Outro grande filme de Serguei Eisenstein foi “Outubro”, de 1927. O filme apresenta a Revolução de Outubro de 1917 num estilo de documentário. Começando com o desmoronamento da monarquia russa, a produção retrata os crescentes conflitos em Petrogrado, com o herói comunista Lenin liderando a rebelião que resulta na derrubada do Palácio de Inverno do czar. Além de sua narrativa historicamente enraizada, o filme é conhecido por seu uso inventivo de impressionantes imagens de montagem.

“Outubro”, 1927

Outros representantes do movimento

Outros cineastas também despontaram no cinema soviético. O primeiro é Dziga Vertov, cineasta e documentarista, que criou o “Cine olho”, onde a câmera seria mais aperfeiçoada que o olho humano. Vertov era um exímio experimentalista, tecnicamente revolucionário.

Também criou o “Cine verdade”, este seria capaz de “fotografar” o cotidiano, ações e sons tão espontâneos e que se vão embora tão rapidamente que seria impossível refazê-los. O objetivo principal do “Cine verdade” é mostrar as pessoas no momento em que elas não estão representando.

O filme mais badalado de Dziga Vertov  é ”Um homem Com Sua câmera”, de 1929, que foi incompreendido na época por suas técnicas e closes avançados e rodado de maneira documental. Foi um filme vanguardista, acima do seu tempo.

O Diretor Dziga Vertov

UM HOMEM COM UMA CÂMERA, 1929.

Cenas de “Um Homem Com Uma Câmara”, 1929

Outro cineasta expoente do cinema mudo soviético foi Vsevolod Pudovkin que dizia que enquanto o poeta usa a palavra para construir uma nova realidade, o cineasta usa o plano seqüenciado de duas imagens para gerar uma terceira (a realidade).

Em 1926,  Vsevolod Pudovkin dirigiu “A Mãe”, baseado no romance de Maksim Górki, que retrata uma revolta de proletários e a história de uma família. Sua principal técnica para criar caracterizações não foi a atuação, mas a edição, o que motivou a famosa citação sobre o seu cinema: “Ele fez no cinema o que o escritor inglês harles Dickens fez nos romances”.

O Diretor Vsevolod Pudovkin

A MÃE, 1926

Cenas de “A Mãe”, 1926

Por fim, outro grande cineasta soviético foi Aleksandr Dovjenko. Natural da Ucrania, Dovjenko não era tão radical na temática de propaganda revolucionária, na dialética marxista e no cinema construtivista de seus contemporâneos cineastas, tal como Serguei Einsenstein

Seu cinema era mais poético, pastoril, da relação do ser humano com a natureza e da missão dos trabalhadores de gerir a produção da riqueza no campo. Seu filme badaladíssimo “Terra” é um excelente exemplar do seu cinema naturalista, mas ao mesmo tempo engajado nas transformações sociais.

O Diretor Aleksandr Dovjenko

TERRA, 1930

Cenas de “Terra”, 1930

O legado do movimento

O cinema soviético influenciou imensamente inúmeros cineastas pelo mundo afora (o cineasta brasileiro Glauber Rocha foi um deles), seus filmes circularam pelo mundo como obras tecnicamente inovadoras e recheadas de sentido revolucionário e sentimento de solidariedade. Percorreu e lotou o chamado circuito de cinema de arte e seu legado até hoje é estudado em universidades e exibido em festivais e movimentos de cineclubes.

Uma especial menção ao cinema de Andrei Tarkovsky

Andrei Tarkovsky foi um grande cineasta russo. Teve uma infância complicada durante a segunda guerra mundial. A partir dos anos 50, começou a estudar cinema no conceituado Instituto Estadual de Cinematografia VGIK. Se destacou e conseguiu “surfar’ na onda de crescimento do cinema soviético amparado pela Mosfilm, uma entidade de fomento.

Tarkovsky realizou apenas sete longas-metragens, poucos mas poderosos. Morreu prematuramente. Foi influenciado pelos movimentos do neorrealismo italiano e da nouvelle vague francesa, mas seguiu caminho próprio, personalíssimo. Seu cinema era meditativo, existencial, intimista, de um lirismo que dialogava com um certo mal-estar sereno.

Tarkovsky desenvolveu a teoria de cinema chamada “esculpir no tempo”. Com isto ele defendeu que a verdadeira caraterística do cinema é transmitir a nossa experiência de tempo e alterá-lo. A película não editada transcreve o próprio tempo em passagem real. Com uso de planos longos e poucos cortes nos filmes, ele pretendeu dar aos espectadores a sensação de passar e de perder o tempo.

Talvez seu melhor filme seja “O Espelho”, de 1975, uma obra autobiográfica sobre memórias, pensamentos e emoções. Além desse, outros também se sobressaíram: “Andrei Rublev”, 1966, “Solaris”, 1972 e “O Sacrifício”, 1986, seu último filme.

“O Espelho”, 1975, e o cineasta Andrei Tarkovsky

Cenas de “O Espelho”, 1975

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