Gêneros do Cinema
A Guerra no cinema: Um relato histórico sobre filmes representativos

A Guerra no cinema: Um relato histórico sobre filmes representativos

A temática da guerra é muito antiga no cinema, remonta às primeiras décadas do século XX. Este artigo vai abordar a temática da guerra no cinema de acordo com seus eventos cronológicos, ou seja, das guerras de épocas mais antigas para épocas mais recentes. Selecionamos e comentamos alguns filmes importantes de cada período, procurando representar os vários tipos de guerra que ocorreram na história e em diferentes lugares do mundo.

Guerras medievais

Em 1936, o cineasta russo Seguei Eisenstein, um gênio do cinema, realizou “Alexandre Nevski”. O filme é um épico de guerra que retrata a tentativa de invasão da cidade de Novgorod, Rússia, no século XIII, pelos Cavaleiros Teutônicos do Sacro Império Romano e sua derrota pela resistência das tropas do Príncipe Alexandre Nevski. O filme é um show de cinema, ambientado em cenários gelados onde se deu a batalha decisiva na superfície congelada do lago Chudskoe. O filme foi incluído entre os 100 melhores do mundo.

Em 1995, o ator Mel Gibson debutou na direção de filmes e realizou o drama histórico “Coração Valente”, que retrata as façanhas de William Wallace, guerreiro, patriota escocês e herói medieval. A ação situa-se em finais do século XIII, tempo em que os cidadãos escoceses lutavam contra o domínio do rei inglês Eduardo I. Wallace, ao desejar vingar a morte de sua esposa, lidera um exército de rebeldes pela independência da Escócia do domínio inglês.

Em 1980, o aclamado diretor japonês Akira Kurosawa lançou “Kagemusha, a Sombra do Samurai”. O filme narra as guerras civis no Japão no período Sengoku, século XVI, onde um líder guerreiro e chefe de clã, Shingen Takeda, é gravemente ferido em batalha e tenta ocultar sua provável morte ordenando que um sósia assuma seu lugar e passa-se por ele, sem ninguém dar conta disso. Assim ele cria respeito no seu clã e mantém os inimigos distantes, os quais crêem que o líder está vivo.

Alexandre Nevski, 1936
Coração Valente, 1995
Kagemusha, 1980

Cenas de “Alexandre Nevski”

Guerras de Independência

Em 1985 foi lançado o filme “Revolução”, dirigido por Hugh Hudson, que trata da guerra de independência dos Estados Unidos contra o domínio inglês. A Guerra de Independência dos Estados Unidos (também chamada de Revolução Americana) ocorreu entre 1775 a 1783 em que as treze colônias da Grã-Bretanha na América do Norte conquistaram sua independência, tornando-se um novo país, os Estados Unidos da América. No filme, essa guerra é vista pelos olhos de um caçador analfabeto (Al Pacino) que se junta à revolução para proteger seu filho que foi capturado pelo exército britânico.

Em 2000, foi realizado o filme “O Patriota”, dirigido por Roland Emmerich. O filme se passa durante a guerra de independência americana no século XVIII quando, Benjamin Martin, um veterano da Guerra Franco-Indígena e viúvo com sete filhos, lidera uma rebelião contra o domínio inglês após seu filho ser morto por tropas de ocupação britânicas. O filme é recheado de cenas de batalha e ostenta uma cena especial em que o protagonista principal empunha a bandeira do futuro país independente, os Estados Unidos da América, no clímax da vitória dos rebeldes.

Em 2018, foi lançado o filme “Um Povo e Seu Rei”, dirigido por Pierre Schoeller. O filme é um afresco histórico que trata da Revolução Francesa, nos anos de 1789 a 1793, da queda da bastilha até a execução do Rei Luís XVI, e concentra-se no papel dos participantes desse processo revolucionário que resultou no final do absolutismo na França. O filme mostra várias figuras protagonistas como Robespierre, Marat, Danton, reuniões dos Estados Gerais, a Assembléia do povo e, finalmente, o local da Convenção Nacional.

Revolução, 1985
O Patriota, 2000
Um Povo e seu Rei, 2018

Cenas de “O Patriota”

A Guerra Civil Americana

A Guerra Civil Americana ocorreu entre os anos de 1861 a 1865. Foi um conflito armado travado dentro dos Estados Unidos entre os estados do norte, chamados de União ou de Os Yankees, que lutavam pelo fim da escravidão e pela modernização industrial do país, e os estados do sul, chamados de confederados, que relutavam contra o progresso, defendiam a manutenção da servidão dos negros e eram predominantemente agrícolas, especialmente em plantações de algodão e pecuária. A União venceu a guerra e os americanos, então, passaram a ser conhecidos no mundo pelo codinome de Yankees.

Em 1959, o lendário John Ford (leia mais na categoria “Gêneros do Cinema”, no artigo sobre o Western Americano) realizou “Marcha de Heróis”, onde uma brigada de cavalaria da União liderada pelo coronel John Marlowe (John Wayne) – um engenheiro de construção de ferrovias na vida civil – é enviada em um ataque atrás das linhas confederadas para destruir uma ferrovia e um depósito de suprimentos na estação de Newton, cidade de Massachusetts

O segundo filme é “Tempo de Glória”, de 1989, dirigido por Edward Zwick. O filme narra a história de Robert Shaw (Matthew Broderick), um oficial branco da União, que enfrenta a oposição de seus colegas oficiais e a ira de soldados confederados inimigos por liderar um batalhão de soldados negros. Foi o primeiro grande filme a contar a história de soldados americanos negros que lutaram com dificuldades de todo tipo por sua libertação da escravidão durante a Guerra Civil e com muito patriotismo.

O terceiro filme se chama “Gettysburg”, de 1993, dirigido por Ronald F. Maxwell, um drama de guerra que retrata um dos maiores eventos da Guerra Civil Americana, a Batalha de Gettysburg, decisiva para os combatentes da União. O enorme conflito de três dias começa quando o general confederado Robert E. Lee (Martin Sheen) pressiona suas tropas para o norte, na Pensilvânia, levando a confrontos com as forças da União, incluindo o regimento do Coronel Joshua Chamberlain (Jeff Daniels). 

Marcha de Heróis, 1959
Tempo de Glória, 1989
Gettysburg, 1993

Cenas de “Gettysburg”

A Primeira Guerra Mundial

A Primeira Guerra Mundial, também chamada de Guerra das Trincheiras, ocorreu de julho de 1914 a novembro de 1918. O estopim para o conflito foi o assassinato do Arquiduque Francisco Fernando, herdeiro do Trono Austro-Húngaro, na cidade de Saravejo (hoje Bósnia). O conflito se estabeleceu entre duas alianças opostas: os aliados (Reino Unido, França e Rússia) e os Impérios Centrais (Alemanha e Áustria-Hungria). Foi uma guerra brutal de trincheiras e milhões morreram. Os aliados foram vitoriosos. Selecionamos três filmes importantes.

O primeiro filme é “A Grande Ilusão”, de 1937, um clássico do cinema mundial dirigido pelo francês Jean Renoir. Trata-se de um drama de guerra onde dois pilotos franceses da Primeira Guerra Mundial são capturados pelos alemães: um, capitão aristocrata (Pierre Fresnay), e outro, um tenente operário (Jean Gabin), que lutam contra suas próprias diferenças de classe. Quando são transferidos para um campo de prisioneiros, numa fortaleza de segurança máxima, tramam um plano de fuga, mas são vigiados por um aristocrático e perigoso oficial alemão (Erich Von Stroheim).

Em 1957, o diretor Stanley Kubrick, em início de carreira, lançou “Glória Feita de Sangue” com Kirk Douglas. O filme narra a história de um insano general francês, Paul Mireau (George Macready), que ordena um ataque suicida contra os alemães e que resulta em tragédia. Para abafar sua participação no incidente, o general atribui o fracasso a três soldados, que são julgados e condenados à morte. O Coronel Dax (Kirk Douglas) vai defendê-los no julgamento. Tendo como cenário as trincheiras da primeira guerra mundial, o filme é tenso e dramático, dando ao ator Kirk Douglas a oportunidade de uma grande atuação.

Por último, temos um filme mais recente, “1917”, de 2019, dirigido por Sam Mendes, que é um show de direção, parece que foi filmado em um único plano seqüência, uma única tomada sem cortes. Conta a história de dois soldados nas trincheiras da guerra, designados à tarefa de entregar uma mensagem vital ao comando de outro batalhão. Arriscam suas vidas pelo trabalho a fim de evitar que seus companheiros de luta caiam direto em uma emboscada mortal do inimigo. Um filme genial, muito tenso e ficamos a torcer para que eles cumpram sua perigosíssima missão.

A Grande Ilusão, 1937
Glória Feita de Sangue, 1957
1917, 2019

Cenas de “1917”

Guerras árabes e africanas de libertação

Os próximos filmes selecionados falam de movimentos revolucionários e de libertação. São três filmes que abordam a guerra em regiões árabes e africanas.

O primeiro deles é “Lawrence da Arábia”, um épico de guerra de 1962, dirigido por David Lean. O filme se passa em 1916, em plena Primeira Guerra Mundial, e narra a saga de um jovem tenente do exército britânico, Lawrence (Peter O’Toole), estacionado no Cairo, que pede transferência para a Península Arábica, onde vem a ser oficial de ligação entre os rebeldes árabes e o exército britânico, aliados contra os turcos, que desejavam anexar ao seu Império Otomano a Península Arábica. Lawrence, admirador confesso do deserto e do estilo de vida beduíno, oferece-se para ajudar os árabes a se libertarem dos turcos.

O segundo filme é “Falcão Negro em Perigo”, de 2001, dirigido por Ridley Scott. O filme narra um episódio militar de 1993, durante a guerra civil da Somália, África, onde soldados americanos participaram da Batalha de Mogadíscio. Uma força de elite americana foi enviada ao local para capturar generais que obedeciam ao líder Mohammed Farah Aidid. Porém, dois helicópteros UH-60 Black Hawk foram derrubados e a operação, que deveria levar em torno de meia hora, tornou-se uma batalha de 15 horas, com muitos mortos e feridos.

O último filme é “Hotel Ruanda”, de 2004, dirigido por Terry George. A história se passa em Kigali, capital da Ruanda em 1994, no que ficou conhecido por Genocídio de Ruanda. Paul Rusesabagina (Don Cheadle) é gerente do Hotel des Mille Collines, propriedade da empresa belga “Sabena”. O filme relata um período de aumento da tensão entre a maioria hutu e a minoria tutsi, duas etnias de um mesmo povo. Paul demonstra imensa coragem ao salvar a vida de muitos refugiados desamparados durante uma guerra comunal.

Laurence da Arábia, 1962
Falcão Negro Em Perigo, 2001
Hotel Ruanda, 2004

Cenas de “Lawrence da Arábia”

A Segunda Guerra Mundial

A segunda guerra mundial se iniciou com a invasão da Polônia em 1939 pelas tropas nazistas da Alemanha de Hitler e se estendeu até 1945 com a invasão de Berlim pelos soviéticos e a rendição do Japão no sudeste asiático. A guerra foi dividida em duas alianças: De um lado, os países aliados, liderados pela Grâ-Bretanha, Estados Unidos e União Soviética, e de outro lado, os países do Eixo, representados pela Alemanha, Itália e Japão. Foi uma guerra violenta, trágica e desastrosa. Dezenas de milhões de pessoas morreram e uma imensidão de judeus foram exterminados em campos de concentração. São três filmes.

O primeiro é “O Resgate do Soldado Ryan”, de 1998, dirigido por Steven Spielberg. A história é a seguinte: Durante a invasão dos aliados na praia de Omaha, Normandia, norte da França, na Segunda Guerra Mundial, o Capitão John Miller (Tom Hanks) é designado da tarefa de procurar e resgatar o soldado James Ryan, cujos três irmãos já haviam sido mortos na guerra. O filme é muito denso, psicológico, com imagens hiperrealistas, mostrando os duros combates da guerra, e com um início eletrizante e longo do desembarque dos soldados sob fogo cerrado da artilharia alemã.

Um segundo filme dessa guerra trágica é o forte e denso “Além da Linha Vermelha”, de 1998, dirigido por Terrence Malick. O filme trata de um grupo de soldados americanos que enfrenta uma batalha difícil e mortal contra os japoneses na ilha de Guadalcanal, no Pacífico sul. Lutam contra todas as adversidades para sobreviver, com um adversário escondido e uma selva fechada. À medida que a guerra avança, eles perdem uns aos outros enquanto ainda esperam ganhar a guerra. É um filme com densidade psicológica e encara a guerra com sentimentos de perda, medo, incerteza e um humanismo latente.

O terceiro e último filme selecionado da segunda guerra mundial é o excelente “Dunkirk”, de 2017, dirigido por Christopher Nolan. O filme trata da evacuação pelo mar de tropas britânicas, francesas e belgas encurraladas pelos nazistas no litoral norte da França, cidade de Dunkirk. O filme é um espetáculo de narrativa, apresentando combates por terra, mar e ar, além de mostrar o desespero e a incerteza dos soldados acuados. Assim como o evento real foi um feito histórico incrível de resgate, o filme também é uma realização cinematográfica que dá muito gosto em assistir.

O Resgate do Soldado Ryan, 1998
Além da Linha Vermelha, 1998
Dunkirk, 2017

Cenas de “O Resgate do Soldado Ryan”

A Guerra do Vietnã

A guerra do Vietnã foi um grande e longo conflito armado que aconteceu no Vietnã, Laos e Camboja de novembro de 1955 até a queda de Saigon em 1975. Foi oficialmente travada entre o Vietnã do Norte e o Vietnã do Sul. O exército norte – vietnamita era apoiado pela União Soviética, China e outros aliados comunistas, enquanto os sul-vietnamitas eram apoiados pelos Estados Unidos, Coréia do Sul, Austrália, Tailândia e outros aliados anti-comunistas.

A participação americana no conflito rendeu muitos filmes, além de inúmeros protestos em todo o mundo. Selecionamos três filmes significativos dessa guerra.

O primeiro é “O Franco Atirador”, de 1978, dirigido por Michael Cimino. Neste filme, a história se desenrola a partir de três amigos que se juntam ao exército americano para lutar no Vietnã e são capturados pelas forças inimigas. Explora as consequências morais e mentais da violência da guerra e o patriotismo manipulado politicamente através da honra, amizade e família, e ainda lida com assuntos controversos como abuso de drogas, infidelidade e doenças mentais. As cenas mais chocantes são as do uso da roleta russa (revólver na cabeça com apenas uma bala), que os soldados praticam para saber quem morre e quem escapa.

O segundo é “Apocalipse Now”, de 1979, dirigido por Francis Ford Coppola. Mais do que um filme sobre a guerra do Vietnã, é um épico psicológico, um atestado da loucura que conflitos armados causam em seus participantes. O filme segue uma viagem fluvial do Vietnã do Sul ao Camboja realizada pelo capitão Benjamin Willard (Martin Sheen), que está em uma missão secreta para assassinar o coronel Kurtz (Marlon Brando), um oficial renegado das Forças Especiais do exército americano acusado de assassinato e que perdeu a sanidade mental. As filmagens de “Apocalipse Now” também foram uma loucura, como a guerra.

O terceiro filme considerado é “Platoon”, de 1987, dirigido por Oliver Stone. O filme, baseado na experiência do diretor Stone na guerra do Vietnã como soldado de infantaria, segue um voluntário do exército dos EUA (Charlie Sheen) servindo no Vietnã, enquanto seu sargento de pelotão e seu líder de esquadrão (Tom Berenger e Willian Dafoe, respectivamente) discutem sobre a moralidade do pelotão e a condução da guerra. O filme tem cenas fortes, desesperos e ataques suicidas. Foi muito premiado e um grande êxito de crítica e de público.

O Franco Atirador, 1978
Apocalypse Now, 1979
Platoon, 1987

Cenas de Apocalipse Now

A Guerra do Iraque e do Afeganistão

A Guerra do Iraque foi um conflito que começou em março de 2003 com a invasão do país por uma coalizão militar multinacional liderada pelos Estados Unidos. Essa fase do conflito foi encerrada em dezembro de 2011 com a retirada das tropas americanas do território iraquiano após oito anos de ocupação.

Quanto à guerra do Afeganistão, ela foi no embalo da Guerra do Iraque, e que tinha como objetivo capturar ou matar o líder da organização Al Kaeda Osama Bin Laden. Mesmo depois dele morto, a ocupação americana continuou e durou vinte anos, até recentemente quando os americanos deixaram a base militar de Bagram.

Os dois conflitos aconteceram no contexto da Guerra ao Terror lançada pelo presidente americano George W. Bush após os atentados terroristas das torres gêmeas de 11 de setembro de 2001, em Nova York. Selecionamos três filmes significativos que contemplam as duas guerras.

O primeiro filme é “Guerra ao Terror”, de 2008, dirigido por Kathryn Bigelow, a qual recebeu o Oscar de melhor filme e direção (uma mulher pela primeira vez). O sargento William James (Jeremy Renner) tem a tarefa de treinar uma equipe de eliminação de bombas durante a Guerra do Iraque. Suas ideologias e abordagem imprudente em relação ao trabalho geram conflitos com seus subordinados. O filme acompanha um grupo de soldados americanos no Iraque, a poucos dias de retornarem para casa. Um período relativamente curto, se não fosse por tantas ocorrências que transformassem esse fim de jornada em um verdadeiro terror.  

O segundo filme no Iraque é “Sniper Americano”, de 2014, dirigido por Clint Eastwood. O filme é baseado na autobiografia de Cris Kyle (Bradley Cooper), um exímio atirador SEAL americano na Guerra do Iraque. Mesmo depois de voltar para casa da guerra, Chris Kyle não consegue se livrar dos horrores que experimentou. Isso começa a afetar seu casamento e sua vida. O filme transforma o atirador Kyle em herói nacional, não fazendo qualquer juízo sobre sua moralidade duvidosa e seus assassinatos no Iraque.

O terceiro filme se passa na guerra do Afeganistão e se chama “O Grande Herói”, de 2013, dirigido por Peter Berg. A história acompanha Marcus Luttrell (Mark Wahlberg) e três SEALs, soldados das forças especiais da Marinha dos Estados Unidos, que são enviados para localizar o líder talibã Ahmad Shah na região de Hindu Kush, no Afeganistão, onde se tornam alvos de ataques inimigos. A missão chamada de Operação Red Wings foi um fracasso das forças militares americanas.

Guerra ao Terror, 2008
Sniper Americano, 2014
O Grande Herói, 2013

Cenas de Guerra ao Terror

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