Grandes Diretores
O cinema de Alfred Hitchcock: Suspense para dar vazão aos medos, ansiedades, culpas e segredos

O cinema de Alfred Hitchcock: Suspense para dar vazão aos medos, ansiedades, culpas e segredos

O medo da polícia, a educação Jesuíta e a chegada no cinema

Alfred Joseph Hitchcock nasceu nos arredores de Londres em 1899. De sua infância, o próprio Hitchcock sempre se lembra de um episódio que ocorreu numa Delegacia de Polícia quando seu pai o deixou com um bilhete que dizia que garotos levados merecem punição. Resultado: ficou preso por um tempo como castigo. Desde então, Hitchcock teve pavor de polícia e fez referência a isso em seus filmes, geralmente abordando policiais como gente perigosa e passando o sentimento do medo.

Sua educação religiosa católica num Colégio Jesuíta também o marcou muito, onde sofreu rituais de punições, se reprimiu sexualmente e as rebeldias de qualquer tipo eram vistas como atos repulsivos. Tudo isso também foi abordado em seus filmes que, comumente, tratavam o sexo de maneira pecaminosa e seus protagonistas sempre tinham uma aura de tentação e de transgressão das coisas estabelecidas.  Suas heroínas, geralmente loiras e gélidas, passavam sinais de sedução debaixo de uma “capa” de mulheres certinhas.

Hitchcock foi um bom aluno no colégio e soube se virar com a morte do pai. Desenvolveu seu talento para publicidade numa empresa de telégrafos e, em 1920, aos vinte e um anos, soube que uma empresa de cinema americana, a Famous Players-Lasky Company, iria criar um estúdio em Londres. Hitchcock acabou sendo contratado como desenhista de letreiros para filmes mudos. Foi assim que entrou no cinema.

O diretor Alfred Hitchcock, em duas épocas

A alma gêmea, experiência na Alemanha e início na direção

Nos estúdios da Famous Players-Lasky Company, Hitchcock se iniciou com técnicas de filmagem e conheceu Alma Reville, uma assistente apaixonada por cinema com quem se casaria. Alma, além de esposa, se tornaria seu braço direito nas produções de filmes. Inicialmente, foram para a Alemanha para colaborar com um filme, agora sob a produtora de Michael Balcon, a Gainsbouroug Pictures Ltda. Lá, conheceu o cinema expressionista e foi influenciado pelos diretores alemães Fritz Lang e Frederick Murnau.

Em 1925, seu chefe Michael Balcon lhe ofereceu uma produção anglo-alemã para ser o diretor cinematográfico. Daí surgiu o filme “The Pleasure Garden”, que agradou, e se sucedeu a “The Mountain Eagle”, filme que não existe mais cópia. Foram duas experiências de direção para marcar compasso e melhorar as técnicas de filmagem.

Mas foi com o filme “The Lodger: A Story Of The London Fog”, traduzido para “O Inquilino Sinistro”, de 1927, com uma história sobre uma família que desconfia que seu inquilino seja um serial killer, Hitchcock se iniciou no suspense e foi construindo seu perfil cinematográfico. Já nesse filme, Hitchcock começa a virar um artesão do cinema, fabricando cenas que aumentam o clima de suspense e começa a fazer pequenas aparições em seus filmes, denominadas de cameo, sua marca registrada.

“O Inquilino Sinistro”, 1927, primeiro filme de suspense

Cenas de “O Inquilino Sinistro”, 1927

A construção de um estilo único e preciso: Ausência do whodoit e o uso do macguffin

O estilo hitchcockiano inclui longos movimentos de câmera para definir a situação psicológica do personagem, o olhar de uma pessoa em uma determinada situação, sua culpa, sua apreensão ou seu segredo, tornando os espectadores em voyeurs, sabedores e observadores da trama, e concebendo planos para maximizar a ansiedade e o medo. Os closes são freqüentes e a história é definida e informada rapidamente para quem assiste.

Hitchcock superou as histórias de terror e de detetives pela ferramenta do suspense. O suspense para Hitchcock é uma situação dramática em seu limite, em que o espectador tem de ter as informações necessárias para sentir e acompanhar algo de que tem já consciência. Os personagens do filme não sabem, mas os espectadores sim. Daí resulta que cada situação no filme tem seu clímax próprio, mantendo um elevado nível de tensão e expectativa.

Hitchcock abandonou a narrativa do Whodoit, ou seja, “quem fez isso” ou “quem é o culpado”, tradicional nas histórias de investigações policiais, para a técnica chamada de Mcguffin, ou seja, uma desculpa argumental presente no roteiro que motiva os personagens a desenvolver uma história, e que na realidade não tem relevância para o enredo ou para passar a mensagem do filme. O Mcguffin é “o porquê” ou o fato gerador da trama, mas fica em segundo plano. A partir dele, a história tem ritmo próprio e busca sempre dar vida aos protagonistas da trama e entreter os espectadores.

Hitchcock costumava dizer que os atores nada mais eram do que parte de um todo e que o mais importante eram as emoções que deveriam ser criadas para seguir uma trama, que muitas vezes é explicada de forma rápida ou despretensiosa. O importante para Hitchcock é que os filmes ofereçam pedaços de bolo para os espectadores se deliciarem e que cada detalhe seja como uma cereja desse bolo. A história tem pouca importância.

Outra característica muito importante do cinema de Hitchcock é o uso de hábitos, costumes e paisagens dos países em que ele contextualiza a trama. Isso fica evidente, por exemplo, quando ele filma em moinhos em Amsterdã, cria personagens que tomam chocolate quente e esquiam nos alpes suíços, compram flores e correm de automóvel na Riviera Francesa. E tem mais, ele se utiliza de objetos aumentados como um revólver que deve disparar ou uma iluminação mais forte em um copo de leite envenenado. Tudo tem o mesmo objetivo, ou seja, maximizar a ação de suspense.

A fase britânica: Definição de temáticas e filmes autorais

A primeira fase do cinema de Alfred Hitchcock foi na Inglaterra, onde produziu até 1939. Nesse período, suas temáticas e suas características foram sendo moldadas com precisão. Assuntos como espionagens, crimes, perseguições, sabotagens, desaparecimentos, o homem inocente acusado, culpas e punições, mulheres com certo mistério, o cheiro do sexo, tudo isso dentro de um suspense intermitente. Selecionamos quatro filmes da fase britânica de Hitchcock.

Seu primeiro filme de sucesso foi “Blackmail”, traduzido para “Chantagem e Confissão”, de 1929. A história gira em torno de uma mulher que mata acidentalmente um pintor que tentava estuprá-la. Ela e seu noivo, que é o policial da Scotland Yard encarregado das investigações, passam a ser chantageados por um homem que testemunhou o crime. Foi o primeiro filme sonoro do Reino Unido e Hitchcock já começou a aperfeiçoar seu estilo artesanal.

Mais tarde, em 1935, Hitchcock realizou “Os 39 Degraus”, um filme em que ele colocou à prova seu tema favorito da perseguição de um homem inocente que, após presenciar o assassinato de uma espiã, se envolve numa trama de espionagem internacional e precisa agir e desvendar o que está acontecendo. O filme também explora a técnica do Mcguffin que, no caso, eram segredos de Estado que uma organização secreta queria mandar para fora do país.

“Blackmail”, 1929, a perseguição no Museu Britânico, e “Os 39 Degraus”, 1935, a fuga para provar a inocência

Cenas de “Os 30 Degraus”, 1935

Em 1937, Hitchcock realiza “Jovem e Inocente”, um filme também sobre falsa acusação e sobre o assassinato de uma atriz famosa. O incrível nesse filme é que Hitchcock mostra, somente para o espectador, o vilão do filme através de um longo movimento de câmera que parte do teto de um grande hotel, passa por um salão de festa e chega até o rosto do assassino tocando bateria, que era identificado com um tique nervoso nos olhos e que vivia em permanente estado de choque.

Em 1938, Hitchcock realizou “A Dama Oculta”, que foi um sucesso de público e de crítica. Nesse filme, Hitchcock trabalhou muito com maquetes e filmou grande parte do filme em vagões de trem. A história é de espionagem e totalmente enigmática: Uma Senhora de idade, que na verdade é uma agente secreta, desaparece do trem e todo mundo nega ter visto ela. Uma passageira do trem que a conheceu faz uma investigação do desaparecimento com a ajuda de um músico. Um filme tecnicamente impecável que foi o passaporte de Hitchcock para Hollywood.

“Jovem e Inocente”, 1937, o rosto do assassino, e “A Dama Oculta”, 1938, a senhora desaparecida

Cenas de “A Dama Oculta”, 1938

A fase hollywoodiana: Sofisticação técnica e apuro visual

Em 1939, Hitchcock é convidado pelo produtor americano David Selznik para filmar em Hollywood. Lá, a partir de 1940, quando seu primeiro trabalho “Rebeca” venceu o Oscar de melhor filme, Hitchcock teve a oportunidade de orçamentos mais elevados e passou por um processo der sofisticação técnica que culminaria em grandes obras primas na década de 50.

Em 1943, na pacata cidade americana de Santa Rosa, Hitchcock realizou o filme que ele mais gostou: “A Sombra de Uma Dúvida”. O filme foi ambientado em uma casa de uma típica família americana e conta a história de um matador de viúvas (Joseph Cotten) que retorna à cidade e aos poucos se depara com a desconfiança de sua sobrinha (Teresa Wright). O filme tem um desenvolvimento de suspense que vai crescendo na trama à medida que a sobrinha vai descobrindo a verdadeira identidade assassina de seu tio, até o trágico final.

Em 1951, surgiu o angustiante thriller chamado “Pacto Sinistro”, que conta a história de um psicopata chamado Bruno Antony (Robert Walker) que, numa viagem de trem, faz uma proposta a Haines (Farley Granger), um tenista famoso com problemas conjugais, de matar sua mulher e, em troca, Haines mataria o pai dele. Embora Haines não tenha aceitado, Bruno realiza a sua parte e insiste em cobrar o pacto de Haines. Especial atenção para a eletrizante cena final num parque de diversões.

“A Sombra de Uma Dúvida”, 1943, o matador de viúvas, e “Pacto Sinistro”, 1951, a conversa num trem para combinar um duplo assassinato

Cenas de “A Sombra de Uma Dúvida”, 1943

Cenas de “Pacto Sinistro”, 1951

Em 1946, Hitchcock lança “Notorius” (“Interlúdio” no Brasil). Interpretado por Cary Grant, um de seus atores favoritos, e Ingrid Bergman, o filme é um thriller de espionagem que acompanha um agente do governo americano Devlin que conta com a ajuda de Alicia, filha de um criminoso de guerra alemão, para se infiltrar em uma organização nazista. Dessa vez, o Mcguffin (um pretexto para a narrativa) é o Urânio, um composto químico capaz de fazer uma bomba atômica. Pela primeira vez, Hitchcock trabalha com um casal que tem um forte caso amoroso.

Em 1948, Hitchcock fez experimentações técnicas no seu primeiro filme colorido: “Rope”, traduzido para “Festim Diabólico”, com James Stewart. O filme foi rodado com planos ininterruptos da duração de cada rolo de filme e cortes de cenas escondidos, dando a impressão de ser rodado com um plano só. A história é perturbadora. Dois brilhantes estudantes enforcam um colega como um exercício intelectual; eles querem provar sua superioridade ao cometerem o “assassinato perfeito”. Escondem o corpo num móvel da sala de um apartamento onde em seguida acontece uma festa, inclusive com seu professor.

“Notorius”, 1946, o Urânio escondido numa garrafa de vinho, e “Festim Diabólico”, 1948, um estrangulamento e um corpo escondido dentro de um móvel

Cenas de “Notorius”, 1946

Cenas de “Festim Diabólico”, 1948

Década de 50: Hitchcock se aprimora e realiza seus melhores filmes

A década de 50 em Hollywood foi o ápice da carreira cinematográfica de Alfred Hitchcock. Selecionamos quatro (04) obras primas que selaram definitivamente seu nome no panteão dos grandes diretores de cinema da história. Esses filmes possuem um alto grau de apuro técnico.

A primeira obra prima é “Janela Indiscreta”, de 1954. Contando com uma contagiante dupla de atores, James Stewart e Grace Kelly, Hitchcock rodou uma história de assassinato com um protagonista imóvel. Conta a história de um repórter fotográfico, Jeffries (James Stewart), que sofreu um acidente e se encontra em recuperação. Passa seu tempo sentado em uma cadeira bisbilhotando a vida alheia do outro lado da janela.

Enquanto várias histórias se passam pela janela de outros apartamentos, contadas visualmente e que seguimos atentamente, Jeffries desconfia que um homem matou a esposa. Decidido, ele convence sua namorada (Grace Kelly) e um colega policial a investigar o caso. O filme todo é um exercício cinematográfico de voyeurismo e acompanhamos toda a trama, que é extremamente psicológica, pelos olhos do protagonista e depois por sua câmera de fotografia. Tudo é explicado visualmente e por gestos faciais e corporais.

Em 1956, foi lançado o filme “O Homem Que Sabia Demais”, um remake americano de uma produção inglesa de Hitchcock de 1934. O filme acompanha uma família americana, formada pelo médico Dr. Benjamin McKenna (James Stewart), sua esposa, a popular cantora Jo Conway (Doris Day), e seu filho Henry “Hank” (Christopher Olsen), que estão de férias em Marrocos. Ao presenciar um crime, o médico recebe uma informação sobre um complô para assassinar um estadista em Londres.

Com o filho seqüestrado, o casal vai precisar desvendar a trama em situações tensas. Um belíssimo filme de suspense que apresenta um demorado e arrepiante clímax final do assassinato no Royal Albert Hall em Londres, sem nenhum diálogo durante 12 minutos. Outra cena incrível é a localização do filho seqüestrado através de uma canção, a famosa “Que Será Será” cantada pela personagem de Doris Day.

“Janela Indiscreta”, 1954, o fotógrafo voyeur e bisbilhoteiro, e “O Homem Que Sabia Demais”, 1956, a expectativa de um crime

Cenas de “Janela Indiscreta”, 1954

Cenas de “O Homem Que Sabia Demais”, 1956

Mas foi em 1958 que Hitchcock realizou aquele que é considerado um dos maiores filmes de todos os tempos, talvez o maior segundo a opinião de muita gente. Trata-se de “Vertigo”, traduzido para “Um Corpo Que Cai. A história gira em torno de um ex-policial detetive, Scottie (James Stewart), que se aposenta por causa de sua fobia extrema de alturas. Entretanto, um colega de faculdade o contrata para seguir sua esposa Madeleine (Kim Novak), que se comporta de maneira estranha e tem tendências suicidas.

Com um enredo aparentemente simples e filmado nas ruas e pontos turísticos de São Francisco, “Vertigo” é um ensaio psicanalítico sobre vertigem, paixão arrassadora, crime, culpa e dupla identidade para encobrir um assassinato forjado. Depois de se apaixonar pela mulher Madeleine que aparentemente se suicidou, o personagem Jeffries entra em profunda depressão e, aos poucos, vai descobrindo que Madeleine é Judy, uma mulher contratada pelo assassino da esposa, seu colega de faculdade. Para descobrir a verdade, Jeffries terá que vencer seu medo de alturas. Um filme extraordinário, profundamente intimista e emocional, seguindo um protagonista abalado psicologicamente que vai da paixão à loucura e depois à redenção.

Por fim, em 1959, Hitchcock filmou “Intriga Internacional” (North By Northwest), uma história de espionagem altamente intricada, mas muito divertida. Acompanhamos a trajetória de um inocente executivo de publicidade, Roger Thornhill (Cary Grant), confundido com um agente secreto chamado George Kaplan, é perseguido através dos Estados Unidos por agentes de uma misteriosa organização, que acreditam que ele esteja interferindo com o roubo de microfilmes que contêm segredos de Estado. Durante a fuga e perseguição Roger se envolve com uma perigosa agente dupla, Eve (Eva Marie-Saint).

O filme é um exemplar autêntico do cinema de Hitchcock. É um espetáculo de entretenimento, uma aventura em que o espectador acompanha, em permanente estado de alerta, a odisséia do publicitário Roger para resolver o mistério de espionagem que vai também resolver sua inocência. Pode-se dizer que “Intriga Internacional” é uma refilmagem de “Os 39 Degraus”, de 1935, e possui incontáveis cenas fabricadas pela magia do cinema como a famosa cena da perseguição do avião em um campo de plantação.

“Um Corpo Que Cai”, 1958, o resgate de um suicídio forjado, e “Intriga internacional”, 1959, a perseguição final nos montes Rushmore

Cenas de “Um Corpo Que Cai”, 1958

Cenas de “Intriga Internacional”, 1959

Anos 60 e 70: Hitchcock segue na ativa e inovando

Nas duas últimas décadas de sua carreira, nos anos 60 e 70, Hitchcock continuou inovando tecnicamente e aumentou a dosagem do suspense em filmes recheados de tensão, sustos, misturados com assassinatos e política de Guerra Fria.

Em 1960, Hitchcock surpreendeu a todos com um filme de baixo orçamento chamado “Psicose”, que trata de um maníaco assassino que se passa por um rapaz educado. Na mão de outro diretor qualquer o filme se tornaria uma história de terror, mas com Hitchcock quem manda é o suspense. O enredo: Uma secretária de Phoenix, Marion Crane (Janet Leigh), foge com um dinheiro roubado de seu patrão e vai passar a noite num precário Motel onde conhece seu proprietário, Norman Bates (Anthony Perkins), um jovem interessado em taxidermia e com um relacionamento difícil com sua mãe.

Nesse filme, Hitchcock teve a ousadia de matar a protagonista no início da trama e declarou que o rodou em preto e branco porque não queria ver sangue vermelho escoando pelo ralo na famosa cena do assassinato no banheiro. Além disso, Hitchcock fez campanha publicitária para impedir que os espectadores se atrasassem na sessão do filme, pois perderiam o melhor “da festa”. O fato é que “Psicose” foi um grande sucesso com cenas arrepiantes habilmente montadas, uma doentia relação com a morte, de filho para mãe, e um final eletrizante.

Logo depois, em 1962, Hitchcock novamente surpreendeu o mundo com uma história de pássaros assassinos, dessa vez com uma produção mais cara e tecnicamente mais complicada. Surgiu, então, o filme “Os Pássaros”, apresentando um enredo em que, sem nenhuma razão aparente, pássaros atacam a população de uma pequena cidade costeira americana em paralelo à expectativa de um romance do casal protagonista, a atriz Tippe Hedren, que se tornou a nova musa loira de Hitchcock, e Rod Taylor, um pai cuidadoso.

“Os Pássaros”, apesar de fugir da temática hitchcockiana, é um exemplo perfeito para se acompanhar o desenvolvimento do estilo de fazer suspense do grande diretor. Tudo é muito calculado e feito em pequenas dosagens até o clímax dos grandes ataques dos pássaros. Desde o começo, os espectadores ficam esperando que os pássaros apareçam logo, mas cada coisa tem seu tempo. E o tempo de Hitchcock é o da crescente ansiedade. O final é profundamente tenso: Será que os pássaros atacarão novamente?

“Psicose”, 1960, o assassino e sua casa sinistra, e “Os Pássaros”, 1962, a corrida desesperada no ataque dos pássaros pretos

Cenas de Psicose, 1960, a cena do chuveiro

Cenas de “Os Pássaros”, 1962

Em 1966, Hitchcock retorna ao enredo da espionagem internacional, dessa vez com uma história durante a Guerra Fria. “Cortina Rasgada” conta a história de um cientista americano, Armstrong (Paul Newman) que, para obter uma fórmula matemática de um projeto de arma antimíssil (esse é o Mcguffin, a motivação do filme), simula uma deserção para Berlim Oriental para encontrar outro cientista com quem tentará roubar a fórmula. Nesse processo, sua noiva Sarah (Julie Andrews) tentará entender o que se passa e acaba por se envolver totalmente.

Nesse filme, Hitchcock nos carrega, sem pausa, numa montanha russa de tensões e dá um show de técnica e de suspense. Existem duas cenas formidáveis para realçar seu talento extraordinário. Na primeira cena, enquanto negocia seu plano de fuga com uma organização denominada de “Pi”, o cientista é descoberto por um agente da polícia alemã e tem de o matar, primeiro com uma faca e depois dentro de um forno, numa cena longa sem diálogo e de uma  terrível agonia. Numa segunda cena, durante uma fuga alucinante do casal, a sensação é a de que “somos empurrados” para dentro do ônibus para tentar escapar numa contagem regressiva contra o tempo.

Por fim, em 1972, Hitchcock retorna à sua cidade natal de Londres para filmar “Frenesi”, uma história de um assassino da gravata que assombra as ruas enquanto deixa uma onda de mulheres estranguladas em seu rastro. Richard Blaney (John Finch), que perdeu sua ex-mulher em um assassinato brutal, é o principal suspeito. Aqui temos a mistura de um serial killer (Barry Foster) com um homem inocente acusado.

Desta vez, Hitchcock desenvolve duas tramas paralelas. A primeira para mostrar quem é o culpado, suas vítimas e suas técnicas de matar. A segunda, ao mesmo tempo, acompanhando a trajetória do suspeito em busca do verdadeiro assassino. Já idoso, Hitchcock se mantém em forma com longos movimentos de câmera que sempre caracterizaram seu cinema e nos mantendo atentos, agoniados e irrequietos.

“Cortina Rasgada”, 1966, a fuga alucinante, e “Frenesi”, 1972, o assassino da gravata

Cenas de “Cortina Rasgada”, 1966

Cenas de “Frenesi”, 1972

O maestro Bernard Hermann e a música tema do clássico “Intriga Internacional”

Hitchcock fazendo aparições (cameo) em dois de seus filmes: “Pavor nos Bastidores”, 1950, e “Ladrões de Casaca”, 1955 

Alfred Hitchcock filmando “Marnie, Confissões de Uma Ladra”, 1964, e com sua esposa e colaboradora Alma Reville

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