“O Falcão Maltês”: Um policial noir com muito estilo e mistério

Filme: O Falcão Maltês, 1941

Direção: John Huston

Elenco: Humphrey Bogart, Mary Astor, Peter Lorre

Sobre o filme e o escritor Dashiell Hammett

O Falcão Maltês, intitulado no Brasil de Relíquia Macabra, é um filme estadunidense de 1941, produzido pela Warner Brothers e baseado no romance homônimo de Dashiell Hammett. Escrito e dirigido por John Huston, o filme conta com Humphrey Bogart como o detetive particular Sam Spade e Mary Astor como Brigid, sua cliente femme fatale. O filme, que foi a estreia brilhante na direção de John Huston, conta a história de um detetive particular e suas ligações com três aventureiros inescrupulosos, que competem para obter uma estatueta de um falcão incrustada de joias.

Dashiell Hammett foi um autor americano de romances policiais e contos. Foi também roteirista e ativista político. Entre os personagens duradouros que ele criou está o detetive Sam Spade, adaptado no filme O Falcão Maltês. Hammett é amplamente considerado como um dos melhores escritores de mistério de todos os tempos. Seus romances e histórias também tiveram uma influência significativa nos filmes, incluindo os gêneros de mistério, investigação criminal, thrillers e filme noir.

Capa do livro e o escritor Dashiell Hammett

Sobre o diretor do filme

John Huston foi um ator, diretor e roteirista americano.  Com seu início de carreira como roteirista, Huston escreveu os roteiros da maioria dos seus filmes, muitos dos quais são considerados clássicos. Além de O Falcão Maltês (1941), Huston dirigiu outros grandes filmes como O Tesouro de Sierra Madre (1948), A Selva do Asfalto (1950), Uma  Aventura na África (1951),  Cidade das Ilusões (1972), O Homem Que Queria Ser Rei (1975) e A Honra do Poderoso Prizzi (1985).

Em seus filmes, as pessoas, enquanto lutam por um objetivo comum, são derrotadas e condenadas, formando “alianças destrutivas”, numa tensão dramática permanente. Ganância, fracassos e relações conflituosas eram assuntos comuns. Muitos de seus enredos envolviam temas como religião, a luta pela sobrevivência, os desajustes de um mundo egoísta, liberdade, psicologia, colonialismo e guerra. Huston tem sido referido como “um titã”, “um rebelde” e um “homem renascentista ” na indústria cinematográfica de Hollywood. O cinema de Huston, em uma frase, focava insistentemente nos perdedores e nas suas dores existenciais.

O cartaz do filme e o diretor John Huston

O estilo noir do cinema

O clássico O Falcão Maltês é um filme policial no estilo do cinema noir. E o que é o filme noir? A estética do filme noir (literalmente filme negro) é influenciada pelo expressionismo alemão, um movimento artístico das décadas de 1910 e 1920 que teve muita estilização no cinema daquele país e que mostrava cenários distorcidos, pessoas desajustadas e visual sombrio. O cinema expressionista alemão exportou seu simbolismo e/ou arquétipos para Hollywood, que o transformou no cinema noir.

Algumas características importantes do filme noir são a iluminação dramaticamente sombreada, salas escuras, ambientes fechados e uma abordagem psicologicamente expressiva dos personagens.  Quanto ao enredo, o cinema noir geralmente aborda filmes de mistérios policiais, detetives calejados, dramas criminais, personagens introspectivos e mulheres inteligentes, perigosas e fatais. As décadas de 1940 e 1950 são geralmente consideradas como o período clássico do cinema noir americano. Esse é o caso do filme O Falcão Maltês, de 1941.

Abordando o filme O Falcão Maltês

O filme se passa em São Francisco, Califórnia. Sam Spade (Humphrey Bogart) é um detetive particular que é procurado por uma mulher misteriosa, Ruty (Mary Astor), que o contrata para achar sua irmã. O caso que parecia simples começa a tornar-se maior com o surgimento de vilões, assassinatos misteriosos e outros acontecimentos estranhos. Spade acaba descobrindo uma trama internacional envolvendo planos para o roubo de uma estatueta cravejada de joias: o falcão do título

O filme é recheado de caracterizações noir ese tornou um filme clichê, uma cartilha desse estilo de narrativa. A trama de folhetim policial, os personagens caricaturais e os cenários são arquétipos de onde saíram as convenções audiovisuais para outros tipos de gêneros do cinema. Os figurinos também foram importantes nessa caracterização, assim como o fumar excessivo, os penteados e as atitudes afetadas, quase teatrais.

Acima de tudo, a interpretação convincente do ator Humphrey Bogart, como um herói canastrão devidamente calculado, tornou-se o mito de um detetive particular do gênero filme noir e marcou sua carreira para sempre. E tem mais, a personagem da atriz Mary Astor, se chamando Ruty para depois se tornar Brigid, com sua dissimulação, seus gritinhos e choros falsos, encobre uma mulher perigosa, que seria denominada de femme fatale (mulher fatal), um outro mito que seria explorado em outros filmes do gênero.

O detetive Sam Spade, um mito do cinema noir, e a femme fatale Ruty ou Brigid (mulher fatal), outro mito

Um perigoso vilão à espreita e a iluminação sombria do filme noir

A turma da trama, não dá pra confiar em ninguém, e a estatueta procurada

Um filme que ficou para a história

O filme O Falcão Maltês é um clássico noir do cinema mundial que combina ambientação noturna, figurino, visual sombrio, crimes e mistérios numa técnica apurada, que o tornou uma referência para todos os filmes posteriores que lidaram com a temática policial/detetive. O diretor John Huston planejou cada cena do filme como se fosse um quebra cabeça ou uma peça de teatro. Dessa forma, não precisou realizar muitos cortes na edição final, o que tornou o filme quase perfeito.

A cena da ponte Golden Gate, um cartão postal da cidade de São Francisco e posteriormente muito utilizada no cinema, toda envolvida na tradicional névoa que a cerca, sugere uma cidade envolta em mistérios e dá o tom do filme e da trama. O filme O Falcão Maltês se transformou numa relíquia cinematográfica tal qual a estatueta do Falcão que todos os personagens procuram e até matam por ela durante toda a trama.

Humphrey Bogart, apesar de ter feito outros tipos de personagens em outros filmes, jamais deixaria de ser estigmatizado por esse personagem mitológico, e também por outro, que são parecidos, o de Rick, o dono de um bar em plena segunda guerra mundial no filme Casablanca, em 1942.

O diretor John Huston, à esquerda, e os atores Peter Lorre, Mary Astor e Humphrey Bogart, durante as filmagens de “O Falcão Maltês”, 1941

Cenas de “O Falcão Maltês”, 1941

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