Os melhores filmes dos anos de 1940
O contexto histórico
A década de 40 foi marcada pela segunda guerra mundial. O conflito bélico, que forçou os aliados numa luta feroz contra o nazismo e o fascismo, foi destruidor. Paralisou o mundo e, obviamente, afetou a produção cinematográfica mundial. A Europa, que se tornou um campo de batalha, foi mais afetada do que os Estados Unidos, que não tiveram seu país sob fogo cruzado dos nazistas.
Por ter sido menos afetado internamente, os Estados Unidos, leia-se Hollywood, conseguiu se manter ativo na realização de filmes, ainda que de maneira restrita. Alguns famosos cineastas americanos se engajaram no esforço da propaganda de guerra e realizaram filmes em locações de batalha. Já a Europa, dominada pelos nazistas e sob o jugo cultural autoritário de Joseph Goebbels, se viu sob forte fuga de seus artistas, inclusive de cinema, o que afetou muito a sua produção de filmes.
Enquanto Hollywood se esforçava em continuar realizando seus filmes em estúdios, a Europa se via acuada e estagnada no cinema. Mas foi ainda durante a guerra que começou as bases de um movimento cinematográfico revolucionário, que mudou a forma de fazer filmes, se utilizando de gente comum, locações reais e até mesmo de crianças para expor as mazelas sociais e propagar o humanismo. Estamos falando do neorrealismo italiano, que já a partir de 1943 inicia um processo de renovação do cinema, que influenciaria o mundo todo.
Este artigo vai apresentar e comentar os 11 melhores filmes da década de 40, com maior ênfase no cinema americano por ter conseguido ficar de pé, apesar da guerra. Alguns filmes estão em listas dos melhores de todos os tempos por parte de especialistas e estudiosos, já outros são escolhas do blog cinemaemfoco.com.
Lista dos melhores filmes dos anos 40
Filme: Cidadão Kane, 1941, Estados Unidos
Direção: Orson Welles
Comentário: “Cidadão Kane” é muito aclamado no mundo do cinema e possui um enredo bombástico: aborda a ascensão e queda de um poderoso empresário da mídia americana. Mas o filme vai além disso, pois se tornou uma obra de grande virtuosismo técnico, inovador, que trafega por várias narrativas. Temos uma investigação de um repórter, uma atmosfera de terror, uma crônica social, um documentário biográfico, uma farsa de bastidores e um melodrama sombrio. O jovem diretor Orson Welles triunfou nesse filme, nos deixando ainda com um enigma.
Cenas de “Cidadão Kane”, 1941
Filme: Casablanca, 1942, Estados Unidos
Direção: Michael Curtiz
Comentário: “Casablanca” se tornou o filme mais comentado do cinema. Se passa no Marrocos durante a segunda guerra mundial. O filme conseguiu criar uma história que mistura bastidores e intrigas bélicas com um romance fulminante. O filme acompanha um casal apaixonado, Humphrey Bogart e Ingrid Bergman, numa perfeita química. Ao contar com personagens, cada um com seus mistérios e segredos, e trabalhar de maneira bastante emotiva com um amor infeliz, o filme nos cativa profundamente, mesmo que nos carregue para uma doce melancolia.
Cenas de “Casablanca”, 1942
Filme: Obsessão, 1943, Itália
Direção: Luchino Visconti
Comentário: O filme “Obsessão” é um dos marcos do neorrealismo italiano, trabalhando com pessoas comuns e seus dramas de vida. Ao abordar um intrigante casal de amantes, um vagabundo errante e uma esposa de um dono de lanchonete, o filme expõe mazelas, principalmente ao tratar da exclusão social do herói e o trabalho com personagens cuja moral e ética são tão maleáveis quanto seus próprios desejos. Tudo é inseguro, transitório, pessimista, espelho da própria Itália durante a segunda guerra. É um filme muito tocante.
Cenas de “Obsessão”, 1943
Filme: As Damas do Bois de Boulogne, 1944, França
Direção: Robert Bresson
Comentário: O filme é um melodrama sobre vingança, que pode levar à própria maldade. Explora o fim da relação de um casal e a trama de manipulação da ex-esposa contra o ex-marido, que o apresenta a uma dançarina da noite para envenenar sua reputação quando ele descobre que é uma prostituta. O filme é psicológico, denso, mostra o contraste entre crueldade e inocência e apresenta uma personagem maligna, Hélène (Maria Casares), brilhantemente interpretada. Além da jovem dançarina, sensual e erótica, mas singela e infeliz na prostituição.
Cenas de “As Damas do Bois de Boulogne”, 1944
Filme: Roma, Cidade Aberta, 1945, Itália
Direção: Roberto Rossellini
Comentário: O filme se passa durante a ocupação nazista em Roma em 1944. Filmado em boa parte em locações reais da cidade em plena guerra, “Roma, Cidade Aberta” é um retrato das ansiedades, tragédias, medo e horror de uma população durante a ocupação nazista. Com o pano de fundo da resistência de civis que uniu católicos e comunistas, o filme centra em três personagens: um sacerdote (Aldo Fabrizi), um líder da resistência (Marcelo Pagliero) e uma mulher do povo (Anna Magnani). O filme é um dos maiores clássicos do neorrealismo italiano.
Cenas de “Roma, Cidade Aberta”, 1945
Filme: Gilda, 1946, Estados Unidos
Direção: Charles Vidor
Comentário: “Gilda” deu à atriz Rita Hayworth fama e o rótulo de mulher fatal. O filme é um drama noir que trata de personagens sem escrúpulos e de paixão. Johnny Farrell (Glen Ford) é um trapaceiro em jogos de cartas e gerente de um clube noturno que esconde um cassino clandestino. Quando seu patrão, Ballin (George Macready), lhe apresenta a sedutora Gilda (Rita Hayworth), Johnny reacende um amor existente no passado. Ambientado em cenários escuros, com diálogos intrigantes e cenas memoráveis de Rita no papel de Gilda, o filme seduz.
Cenas de “Gilda”, 1946
Filme: A Felicidade Não se Compra, 1946, Estados Unidos
Direção: Frank Capra
Comentário: Tamanha foi a humanidade expressada na sua história que “A Felicidade não se Compra” foi rotulado de filme de Natal. O filme é uma ode à bondade, à generosidade e ao bem entre as pessoas. Na história, um empresário frustrado, George Bailey (James Stewart), se torna suicida, mas um anjo do céu, Clarence, é enviado a ele. Para sua mudança de opinião e para que ele volte a ter vontade de viver, o anjo lhe mostra o que a vida teria sido sem sua existência. O filme é singelo, simples, emotivo, mostrando que a pureza de coração vence as barreiras.
Cenas de “A Felicidade Não se Compra”, 1946
Filme: Ladrões de Bicicleta, 1948, Itália
Direção: Vitorio De Sica
Comentário: “Ladrões de Bicicleta” é um clássico do neorrealismo italiano e um dos filmes mais tocantes da história do cinema. O diretor Vitorio De Sica expõe o drama do desemprego no pós-guerra, em uma Itália derrotada e em profunda crise econômica. Não há trabalho e o povo está imerso na pobreza. Filmado nas ruas de Roma, o filme trabalha com atores não profissionais, inclusive com o protagonismo inédito de uma criança. O filme exala humanismo e uma pungente emotividade. Apesar da tristeza ao abordar as mazelas sociais, o filme é muito sensível, comovente.
Cenas de “Ladrões de Bicicleta”, 1948
Filme: O Tesouro de Sierra Madre, 1948, Estados Unidos
Direção: John Huston
Comentário: A história se passa nos anos 1920, no México, após a revolução mexicana. Três forasteiros resolvem procurar ouro nas montanhas de Sierra Madre. Guiados pelo idoso garimpeiro Howard (Walter Huston), os exploradores começam a sucumbir à ganância quando um deles, Fred C. Dobbs (Humphrey Bogart), se mostra um traidor. O filme é um poderoso retrato da condição humana, envolta na falta de solidariedade, cooperação e justiça que destroem a vida e os desejos se tornam desmedidos e individualizados. Um filme profundo, real, atemporal.
Cenas de “O Tesouro de Sierra Madre”, 1948
Filme: Rio Vermelho, 1948, Estados Unidos
Direção: Howard Hawks
Comentário: O filme é um clássico do faroeste americano. Trata-se de uma odisseia moderna da luta civilizatória das terras do oeste americano, além de um duelo psicológico entre dois cowboys, Dunson (John Wayne) e Mattews (Montgomery Clift). O filme conta a história da primeira condução de gado pela chamada Trilha de Chisholm, do sul do Texas até o Kansas, em 1865. No caminho, o dono do gado tentará resolver o conflito com seu jovem filho adotivo, que se rebela contra a tirania do pai. Belo, aventureiro, lendário, “Rio Vermelho” é uma obra prima do velho oeste.
Cenas de “Rio Vermelho”, 1948
Filme: O Terceiro Homem, 1949, Grã-Bretanha
Direção: Carol Reed
Comentário: O filme gira em torno de uma investigação por parte de um americano (Joseph Cotten) sobre o paradeiro de seu amigo, Harry Lime (Orson Welles), em Viena. O uso da ambientação claustrofóbica do cinema expressionista em preto e branco, com iluminação dosada e técnica de câmera distorcida fazem do “O Terceiro Homem” um magistral filme de mistério. Combinado com locais decadentes, subterrâneos podres e sombrios e ótimas performances do elenco, o estilo evoca a atmosfera de uma Viena exausta e cínica do pós-guerra.
Cenas de “O Terceiro Homem”, 1949
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