Movimentos Cinematográficos
O cinema asiático: Estéticas e tradições de Japão, China e Taiwan

O cinema asiático: Estéticas e tradições de Japão, China e Taiwan

O cinema japonês

O cinema japonês nas primeiras décadas do século XX teve uma produção reduzida. O seu potencial artístico e industrial sofreu muitas dificuldades de se manifestar em virtude de um Estado imperial intensamente belicista.  O Império Japonês se envolveu muito em incursões militares notadamente com a China, em invasões de países do sudeste asiático e em uma guerra contra os Estados Unidos.

Tudo isso atrapalhou o crescimento do cinema japonês que, depois de uma curta carreira no cinema mudo, passou as décadas de 30 e 40 com uma produção direcionada para a propaganda do Império e suas guerras de expansão. A produção de documentários de natureza político-militar foi a tônica no cinema japonês. Apesar de restrições, alguns  bons filmes ainda foram feitos, com destaque para o diretor Yasujiro Ozu.

Foi somente na década de 50 que o cinema japonês se mostrou muito promissor ao realizar grandes filmes. Nessa década, rompeu suas fronteiras nacionais e atingiu o mundo ocidental com filmes de grande significado artístico, expondo sua cultura, suas tradições e costumes milenares. Cineastas como Akira Kurosawa, Yasujiro Ozu e Kenji Misoguchi formaram a tríade da chamada Era de Ouro do cinema japonês com vigor estético e prêmios internacionais.

Em 1950, o diretor Akira Kurosawa rodou “Rashomon”. O filme venceu o Leão de Ouro no Festival de Veneza e abriu as portas para o cinema japonês no mercado europeu e americano. Cheio de ação enquanto examina incisivamente a natureza da verdade, “Rashomon” é o melhor filme a investigar a filosofia da justiça. Através de um uso engenhoso de câmera e flashbacks, Kurosawa revela as complexidades da natureza humana enquanto quatro pessoas contam versões diferentes da história do assassinato de um homem e do estupro de sua esposa.

O diretor Akira Kurosawa e o filme “Rashomon”, 1950

Cenas de “Rashomon”, 1950

Na onda do sucesso de Akira Kurosawa, o diretor Yasujiro Ozu reapareceu no cenário cinematográfico. Ozu já era um cineasta conhecido no Japão desde os tempos do cinema mudo, com comédias leves. Mas foi com “Era Uma Vez em Tóquio”, de 1953, que ele mostrou vitalidade em temas sérios como casamento e família. No filme, acompanhamos um casal de idosos saindo de sua pequena cidade para visitar filhos em Tóquio e o que vemos são as dificuldades de relacionamento entre gerações. Solidão, indiferença e ressentimentos batem à porta.

O diretor Yasujiro Ozu e o filme “Era Uma Vez em Tóquio”, 1953

Cenas de “Era Uma Vez em Tóquio”, 1953

Completando o trio da Era de Ouro do cinema japonês, temos o diretor Kenji Mizoguchi. Seus filmes têm uma força e pureza extraordinárias. Eles abalam e comovem o espectador pelo poder, refinamento e compaixão com que confrontam o sofrimento humano. E foi assim com seu belo filme “Contos da Lua Vaga”, de 1953. No filme, dois casais de origem humilde sonham com uma vida melhor, mas suas ambições desmedidas colidem com as circunstâncias da vida e o destino lhes abrem os olhos para refletirem sobre o que é preciso para serem felizes.

O diretor Kenji Mizoguchi e o filme “Contos da Lua vaga”, 1953

Cenas de “Contos da Lua Vaga”, 1953

Dois diretores talentosos se sobressaíram numa nova fase de qualidade do cinema japonês. São eles: Nagisa Oshima e Shohei Imamura.

Primeiramente, Nagisa Oshima já era um diretor conhecido por suas posições radicais na política e na sexualidade. Mas foi em 1983 que ele rodou seu filme mais reconhecido no mundo: “Furyo, Em Nome da Honra”. O filme se passa num campo japonês de prisioneiros durante a segunda guerra e expõe conflitos culturais e emocionais no relacionamento de um capitão (Ryuichi Sakamoto) e um soldado britânico (David Bowie). Esse conflito alcança as raias de um fetiche, uma atração enfeitiçada e desestabilizante de um asiático por um ocidental.

O diretor Nagisa Oshima e o filme “Furyo, Em Nome da Honra”, 1983

Cenas de “Furyo, Em Nome da Honra”, 1983

Outro diretor premiado internacionalmente foi Shohei Imamura que lançou o badalado “A Balada de Narayama”, em 1983, e venceu a Palma de Ouro no Festival de Cannes. Nos tempos do Japão feudal, uma comunidade que vive em condições miseráveis segue uma tradição: Aquele que completa setenta anos deve deixar a vila e ir até o topo de uma montanha para encontrar a morte. Orin (Sumiko Sakamoto) está próxima de cumprir esse destino cruel e assustador, mas, antes, precisa encontrar uma esposa para seu filho mais velho Tatsuhei (Ken Ogata).

O diretor Shohei Imamura e o filme “A Balada de Narayama”, 1983

Cenas de “A Balada de Narayama”, 1983

O cinema chinês

O cinema chinês não teve repercussão nas primeiras décadas do século XX. Nos anos 30, entretanto, houve uma ascensão do movimento cinematográfico com viés de esquerda, e as disputas internas entre nacionalistas e comunistas foram retratadas nos filmes. Após a Invasão japonesa da China, a indústria no país foi severamente reduzida, com os cineastas se mudando para Hong Kong e até mesmo para o ocidente. Após a vitória comunista em 1949, alguns filmes nacionais e estrangeiros foram banidos, a partir de 1951, e a cultura se tornou estatal.

A indústria cinematográfica chinesa somente floresceu após o término da Revolução Cultural, já em fins dos anos 70. Na verdade, foi dado um passo importante na produção de filmes de melhor qualidade, mas ainda demoraria até que o cinema chinês se empoderasse dentro do país com filmes refletindo a complexidade da sociedade nacional, sua cultura e costumes milenares.

Foi a partir dos anos 90 que o cinema chinês prosperou e ganhou notoriedade internacional, lançando grandes filmes e angariando público e vitórias em Festivais de Cinema. É nessa safra que surgem diretores de peso como Zhang Yimou, Chen Kaige e Wong Kar-Wai.

Em 1991, Zhang Yimou filmou “Lanternas Vermelhas”, focando na tradição chinesa de homens ricos possuírem várias esposas ou concubinas. O filme é visualmente muito bonito, com tons em vermelho, e segue a trajetória infeliz de Songlian (Gong Li), uma jovem estudante que, após o falecimento de seu pai e a impossibilidade da família bancar seus estudos, acaba se juntando com um homem mais velho, referido apenas como “Senhor”, e se torna “mais uma” de suas esposas. O filme disseca detalhadamente a submissão feminina na sociedade chinesa.

O diretor Zhang Yimou e o filme “Lanternas Vermelhas”, 1991

Cenas de “Lanternas Vermelhas”, 1991

Outro diretor importante dessa fase próspera do cinema chinês é Chen Kaige e seu belíssimo filme “Adeus Minha Concubina”, de 1993. Muito premiado, o filme é um drama histórico e acompanha um casal de amigos que trabalha na ópera de Pequim e se envolve numa trajetória de décadas de turbulentas transformações políticas e culturais na China. Com uma fotografia e cenografia brilhantes, o filme, enquanto busca entender os acontecimentos históricos, faz uma defesa da arte como instrumento fundamental de uma nação, mesmo em conflitos.

O diretor Chen Kaige e o filme “Adeus Minha Concubina”, 1993

Cenas de “Adeus Minha Concubina”, 1993

Um terceiro diretor considerado nessa explosão cinematográfica chinesa é Wong Kar-Wai que, em 1994, lançou o apreciadíssimo filme “Amores Expressos”. O filme trata de perdas amorosas, melancolia, solidão e a busca vital de conexão entre as pessoas. Um policial, He Zhiwu (Takeshi Kaneshiro), está arrasado pelo fim de seu relacionamento e parte em uma busca para preencher seu vazio. Ao esbarrar em uma loira produzida (Brigitte Lin), envolvida com tráfico de drogas, e também sozinha e amargurada, há uma nova esperança.

O diretor Wong Kar-Wai e o filme “Amores Expressos”, 1994

Cenas de “Amores Expressos”, 1994

O cinema de Taiwan

O cinema de Taiwan passou por muitas décadas tentando se firmar, mas sempre sofreu abalos por turbulências políticas e militares advindas das tensões entre Japão e China numa larga fronteira asiática, pela concorrência com filmes de Hong Kong, pelo domínio dos vídeos e, depois, pela expansão dos filmes Blockbusters americanos.

Depois de uma longa luta para se firmar com boas produções artísticas, o cinema de Taiwan finalmente ganhou expressão mundial entre o final dos anos 1990 e dos anos 2000, principalmente por meio dos trabalhos dos diretores Edward Yang, Ang Lee e Tsai Ming-Liang. Ao obter aclamação em festivais de cinema mundo afora, Taiwan se tornou capaz de prosseguir com novos diretores talentosos e filmes consistentes.

Nessa nova e vitoriosa fase, foi lançado o filme “Vive L’Amour”, dirigido por Tsai Ming-Liang, que ganhou o Leão de Ouro no Festival de Veneza de 1994. O filme retrata o isolamento, o desespero e o amor de jovens adultos que vivem nos apartamentos de luxo de Taipei. Com uma temática moderna, o filme explora os vazios existenciais de pessoas infelizes num labirinto sem alma de uma cidade. Com takes muito longos, pouca tensão narrativa e quase nenhum diálogo, o estilo reforça o mundo frio e alienante em que os personagens vivem.

O diretor Tsai Ming-Liang e o filme “Vive L’Amour”, 1994

Cenas de “Vive L’Amour”, 1994

O diretor Ang Lee é talvez o mais conhecido dos diretores da Nova Onda do cinema de Taiwan.  Seu filme “O Tigre e o Dragão”, de 2000, reviveu o gênero wuxia, que consiste em misturar fantasia e artes marciais da China antiga, ou ainda, basicamente luta de espadas em um mundo medieval imaginário. O filme conta a história de duas mulheres, exímias lutadoras, que se envolvem com um mestre de luta marcial em torno de uma espada que é almejada por uma guerreira bruxa do mal. O filme foi um sucesso e colocou Taiwan no cenário mundial.

O diretor Ang Lee e o filme “O Tigre e o Dragão”, 2000

Cenas de “O Tigre e o Dragão”, 2000

Um terceiro diretor expressivo de Taiwan foi Edward Yang. Ao lançar o filme “As Coisas Simples da Vida”, em 2000, conseguiu admiração de muita gente. O filme trata de uma família de classe média, com retratos de sua vida cotidiana. As relações vêm à tona como crônica, drama diluído em comédia leve. Mas há dor. A dor ligada à passagem do tempo, implacável. Fala da morte de entes queridos, ao mesmo tempo em que um garoto tenta compreender o mundo ao redor, apenas aparente, ou pela metade. Um filme simples sobre a vida, poético e sensível.

O diretor Edward Yang e o filme “As Coisas Simples da Vida”, 2000

Cenas de “As Coisas Simples da Vida”, 2000

A lenda de Bruce Lee

Bruce Lee era natural de Hong Kong, mas depois abraçou os Estados Unidos. Exímio artista de lutas, instrutor de artes marciais, ator, diretor, roteirista, produtor. Ele foi o fundador do Jeet Kune Do, uma arte marcial que misturava luta e filosofia, desenhada de diferentes disciplinas de combate que abriu caminho para as modernas artes marciais mistas (MMA). Ele foi responsável por promover o cinema de ação de Hong Kong e ajudar a mudar a forma como os asiáticos eram apresentados nos filmes americanos

Bruce Lee é considerado pela crítica e pela mídia como o artista marcial mais influente de todos os tempos e um ícone da cultura pop do século 20, que, juntamente com o diretor de cinema japonês Akira Kurosawa, preencheu a lacuna entre o Oriente e o Ocidente. Bruce Lee morreu prematuramente em 1973 e deixou um grande legado. Seu filme mais famoso e popular é “Operação Dragão”, realizado em 1973, pouco antes de sua morte. O filme é um espetáculo de lutas marciais, se tornou um modelo do gênero e foi muito imitado posteriormente.

Bruce Lee e o filme “Operação Dragão”, 1973

Cenas de “Operação Dragão”, 1973

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