Clássicos do Cinema
“Taxi Driver”: Marginalidades dentro de um mundo doentio

“Taxi Driver”: Marginalidades dentro de um mundo doentio

Filme: Taxi Driver, 1976

Direção: Martin Scorsese

Elenco: Robert de Niro, Jodie Foster, Harvey Keitel, Cybill Shepherd, Albert Brooks, Peter Boyle

O enredo

Travis (Robert de Niro) é um jovem frustrado e alienado do meio-oeste dos Estados Unidos que alega ser um ex-fuzileiro naval. Ele sofre de insônia, aparenta ter um distúrbio pós-traumático de guerra e arranja um emprego para sobreviver como taxista na cidade de Nova York no turno da noite. Travis tem uma vida sem rumo, passa o seu tempo em cinemas imundos, curte pornografia e dirige solitariamente pela periferia de Manhattan.

Travis é incomodado pelo que considera o declínio moral ao seu redor. Observa de seu táxi o caos da cidade, tipos humanos os mais variados e, quando Iris, uma prostituta de 12 anos de idade, entra no seu táxi certa noite para fugir de um cafetão, Travis torna-se obcecado em salvá-la. Encarnando, aos poucos, uma espécie de justiceiro, ele irrompe com violência contra o que julga ser a escória que contamina a cidade.

Sobre o Diretor do filme

Martin Scorsese é um cineasta, produtor de cinema, roteirista, ator norte-americano e vencedor do Oscar de melhor diretor pelo filme Os Infiltrados, de 2006. Nasceu em Nova York, mas é descendente de sicilianos, região do sul da Itália. Quando criança, queria ser padre. Muitos dos seus filmes fazem alusão à máfia de sua região e à religião de sua juventude (da qual, porém, definitivamente se afastou ainda jovem).

Scorsese era um apaixonado pelo cinema e logo frequentou a escola cinematográfica da Universidade de Nova York. Não demorou muito para despontar com um grande filme em 1973: Caminhos Perigosos. Nele, não só se consolidou como um novo talento, mas também trouxe consigo um novo grande ator: Robert de Niro. Essa parceria foi longe.

Scorsese tem sido um cineasta diversificado. Explorou o submundo e a marginalidade, a contravenção de mafiosos e gangsters, filmes de época, fantasia, obras psicológicas que beiram o terror, religião, biografias polêmicas e concertos de rock que o agradavam muito. Usou a violência em seus filmes sempre buscando um hiper realismo e focava em histórias e personagens desnaturados, muitos outsiders. Enfim, um cinema que não se rendia a convenções sociais.

Scorsese não é um diretor de grande público, salvo exceções. Seu cinema é mais autoral e muito técnico. Trafegou por várias narrativas com uma qualidade de direção de cenas e de atores cada vez mais brilhantes. Filmou bastante Nova York, sua terra natal, com maestria, principalmente em dois filmes: New York New York, de 1977, e Depois de Horas, de 1985, ambos ótimos e subestimados. O seu grande êxito foi com Touro Indomável, de 1980.

O cineasta Martin Scorsese e o seu filme “Taxi Driver”, 1976

Navegando pelo filme

Taxi Driver é situado em uma cidade de Nova York decadente e moralmente falida após a Guerra do Vietnã. O filme segue Travis Bickle (Robert De Niro), um veterano que trabalha como motorista de táxi e seu estado mental em deterioração, enquanto trabalha à noite na cidade. Adiantando, a história acompanha a transformação psicológica e física do personagem principal Travis e o dia a dia complexo da cidade de Nova York.

O filme se passa nos anos 70, década em que os estragos da guerra do Vietnã foram enormes, gerando protestos de rua, problemas mentais dos soldados e exploração do assunto pelo cinema. O filme busca o realismo social de maneira crua, onde os sentimentos são contidos para depois serem explosivos e violentos no clímax final.

Além disso, essa década de 70 também proporcionou um aumento vertiginoso da prostituição, das drogas e do submundo na cidade de Nova York, onde o filme se desenrola. Esses assuntos são tratados no filme onde, pouco a pouco, nos familiarizamos com personagens sombrios, frágeis e marginalizados.

Os personagens principais são um motorista de taxi (Travis), uma mulher por quem se apaixona (Betsy), uma criança prostituta (Iris) e um cafetão (Sport). O filme vai crescendo, sem pressa, navegando pela madrugada onde conhecemos vários tipos humanos e suas histórias. O filme está repleto de cenas noturnas e ambientes fechados, o que poderia ser classificado como uma mistura de suspense noir e drama psicológico. Seus momentos à luz do dia amenizam um pouco sua tônica de insanidade crescente.

Travis, O motorista de taxi

Betsy, a mulher por quem se apaixona

Iris, a criança prostituta

Sport, o cafetão

Justiça com as próprias mãos

Obcecado em salvar Iris, a criança prostituta, e enxergando e vivenciando uma realidade obscura, o motorista de taxi passa por uma transformação radical. Com uma convicção de que pode se encarnar num justiceiro solitário e limpar a cidade de sua crueldade, ele começa um intenso treinamento físico e, depois, com armas, até se travestir em uma espécie de índio moicano.

O treinamento

A transformação radical

Travis tem uma fixação por Betsy, uma assistente de um senador candidato à Presidência dos Estados Unidos, e faz de tudo para estar ao seu lado. Em sua crescente perturbação mental, Travis, inicialmente, foca suas intenções de matar para esse político, que sua paixão assessora. Mas, ele teme por sua vida num ataque público. Depois, seu alvo é o cafetão Sport com o qual ele terá um encontro mortal. O clímax do filme é violento, sangrento e radical.

O justiceiro em ação

O tema do submundo e da marginalidade já deu ao cinema grandes histórias e grandes filmes ao longo do tempo. E justiceiros solitários já foram personagens de muitos filmes de faroeste. Mas, um justiceiro urbano, agindo por conta própria nas ruas de Nova York, foi uma novidade. Travis quis combater a maldade, mas com maldade dentro de si. Fazer justiça com as próprias mãos é um ato individual, vingativo, pode ser até heroico, mas não resolve as questões sociais de uma metrópole. Acaba se tornando uma doença, dentro de um mundo doente.

O filme surpreendeu o mundo pela sua tensa história, às vezes macabra, e pela sua violência explícita. Venceu a Palma de Ouro no Festival de Cannes e deu ao seu Diretor, Martin Scorsese, e ao seu ator, Robert de Niro, consagração internacional.

O diretor Martin Scorsese dirigindo Robert de Niro no filme “Taxi Driver”, 1976

Cenas de “Taxi Driver”, 1976

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